PRÁTICA Pianista e pedagoga Simone Favarin explica sobre a técnica e como a música pode auxiliar nos diversos aspectos sociais, além do tratamento de doenças
A música faz parte da vida das pessoas, e muitas vezes elas não se dão conta disso. Uma música pode te fazer lembrar de um momento especial, ou pode te ajudar a expressar em palavras os sentimentos que são inexplicáveis.
Neste sentido, existe um campo do conhecimento que estuda os efeitos da música e da utilização de experiências musicais. Conhecida como musicoterapia, a vertente tem o objetivo de favorecer o aumento das possibilidades de existir e agir, seja no trabalho individual, com grupos e nas comunidades, nos âmbitos da promoção, prevenção, reabilitação da saúde e de transformação de contextos sociais e comunitários. O conceito é designado desde 2018 pela Ubam (União Brasileira das Associações de Musicoterapia).
De acordo com a pianista e pedagoga Simone Favarin Rödel, a música é essencial na vida humana, pois todos estão imersos no mundo musical. Uma explicação para isso é que a música segue incluída nas lembranças de pacientes diagnosticados com Alzheimer, mesmo após a perda de memória. E esses momentos, segundo ela, podem ser acessados por meio de recursos da musicoterapia.

A profissional, que está na fase final da graduação em musicoterapia, explica que, para realizar a prática, o profissional realiza uma avaliação e um plano terapêutico através de uma ficha musicoterápica e do ISO – identidade sonoro musical, que são as músicas que fizeram e fazem parte da vida do paciente: familiar, cultural e social.
Para fazer musicoterapia o paciente não necessita saber tocar um instrumento, ele apenas se deixa guiar pela música. A terapia atua nas áreas de infância e adolescência, saúde mental, gerontologia, neuroreabilitação, hospitalar e organizacional.
A Ubam ainda reitera que o musicoterapeuta facilita um processo musicoterápico a partir de avaliações específicas, com base na musicalidade e na necessidade de cada pessoa ou grupo. Assim, o profissional estabelece um plano de cuidado e um processo musicoterápico a partir do vínculo e de avaliações específicas atendendo às premissas de promoção da saúde, da aprendizagem, da habilitação, da reabilitação, do empoderamento, da mudança de contextos sociais e da qualidade de vida das pessoas, grupos e comunidades atendidas.
EFICÁCIA
A eficácia da música no bom funcionamento do cérebro é uma das linhas de pesquisa do pedagogo musical e compositor austríaco Jaques Dalcroze. Segundo ele, a música é o meio mais poderoso do que qualquer outro porque o ritmo e a harmonia têm sua sede na alma. Ela enriquece esta última, confere-lhe a graça e ilumina aquele que recebe uma verdadeira educação.
O ato de cantar ou tocar um instrumento desenvolve múltiplas áreas cerebrais simultaneamente, entre elas córtex, amígdala, cerebelo e hipocampo. Pois existem dois hemisférios no cérebro: lado esquerdo está relacionado ao pensamento analítico, raciocínio, linguagem, lógica, escrita, ciências e matemática, habilidade com números e controle da mão direita; e o lado direito está relacionado a consciência artística, criatividade, intuição imaginação, insight, formas, pensamento holístico, consciência musical e controle da mão esquerda.
Por isso, ao fazer música, todo o cérebro é ativado, e de uma só vez acende como fogos de artifício. Alguns neurocientistas, pesquisadores e músicos como Anita Collins, Oliver Sacks, Nina Krauss, Celso Antunes que citam a interação entre a música e o cérebro, descobriram por exemplo que cantar as canções ou tocar o instrumento favorito traz à tona emoções importantes que estão ligadas ao sistema límbico e que está ligado ao aprendizado, a memória e as emoções.
A música causa impacto direto nas emoções, organizando-as em seus lugares e provocando a neuroplasticidade, que é a capacidade do cérebro de criar novas conexões de acordo com os estímulos recebidos.
A doutora em música pela UFRJ, Maria de Lourdes Sekeff, reitera em sua tese que a música afeta, independente de nossa vontade, nossas dimensões humanas. A pesquisadora descobriu em seu trabalho acadêmico os efeitos da música no corpo, sendo eles fisiológico, psicológico, intelectual, social e espiritual.
E esses efeitos resultam em benefícios para o corpo e mente, como mudança de humor, facilidade de socialização, criação de novos estímulos neuronais, desenvolvimento do trabalho em grupo, desenvolvimento de habilidades linguísticas, estímulo da coordenação motora e liberação de endorfina e dopamina.
A música também colabora para o desenvolvimento da memória, expressão e criatividade, melhora a frequência cardíaca, aguça os sentidos e reduz o estresse e a ansiedade, segundo a pesquisadora.
CONTEXTO
A musicoterapia surgiu após a 2º Guerra Mundial, período em que os músicos tocavam dentro dos hospitais para aliviar o sofrimento dos enfermos físicos e emocionais, pois faltava a morfina. No Brasil, a técnica chegou na década de 1970 com a graduação na faculdade de Artes do Paraná.
A pianista e pedagoga Simone Favarin Rödel afirma que a musicoterapia é uma fusão entre arte, ciência e humanidade. Pois, na arte a pessoa expressa suas emoções e criatividade; a ciência é a parte comprovada que a música age em nosso corpo; e a humana porque os seres necessitam de relações, sendo na prática, entre o paciente e a música.
Os profissionais da musicoterapia participam da CBO (Classificação Brasileira de ocupações), no número 2263-05, regidos também pela União Brasileira de Associações de Musicoterapia e em cada estado tem uma associação disponível para auxiliar, orientar e apoiar o profissional.
Para desenvolver a musicoterapia, o profissional precisa ser habilitado, ou seja, necessita graduação específica na área. Caso o profissional não tenha a devida graduação, o termo utilizado para a prática é a “musicalização”, e não musicoterapia.
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