Somente nestes três primeiros meses deste ano, a Secretaria da Justiça e Cidadania do Estado de São Paulo já registrou 47 denúncias de intolerância religiosa. Dessas denúncias, a matriz africana foi a que mais teve reclamações, com 16, seguida da judaica, com quatro registros, a evangélica, com três, a católica com duas reclamações e os demais casos com 22 registros.
Em 2021, o número de denúncias de intolerância religiosa recebidas pela Ouvidoria foi de 210. Já em 2020, 245 queixas foram registradas e, em 2019, houve 17 registros. Com objetivo de aprimorar ainda mais o atendimento, desde agosto do ano passado a Ouvidoria classifica as denúncias recebidas em todo o Estado de São Paulo por religião. Constam católica, evangélica, islâmica, judaica, de matriz africana, bruxaria e outras.
Estes números foram divulgados ontem pela Alesp (Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo), que aproveitou para divulgar informações importantes sobre a legislação vigente que protege o livre culto.
Este tipo de iniciativa é de extrema importância porque, como revelam os números, ainda é muito grande a quantidade de casos de desrespeito. Há duas semanas, por exemplo, o faxineiro de uma empresa terceirizada que presta serviços a uma universidade de Ribeirão Preto narrou ter sido vítima de intolerância religiosa após encontrar frases contra a umbanda em banheiros da instituição. Ele também relata ter sofrido ameaças. O funcionário, que não quis se identificar, tem 23 anos e desde criança frequenta um terreiro da cidade junto com familiares. Ele disse que outros funcionários e alunos da Unaerp sabem da religião dele, mas não tem ideia de quem pode ter feito as pichações.
“Toda pessoa precisa se analisar para tirar de si qualquer preconceito. Mas, isso não basta. Também é preciso denunciar.”
No atual BBB, que ainda está no ar, o ator Douglas Silva fez um comentário sobre a cantora e atriz Linn da Quebrada que acabou sendo classificada como intolerância religiosa. Isso porque em uma conversa com o surfista Pedro Scooby, o ator disse que o motivo do parceiro de jogo não estar dormindo bem era uma mecha de trança que Linna havia dado para Scooby. A atriz é praticante de umbanda e candomblé, ambas religiões de matriz africana.
Atitudes assim acabam revelando o quanto a sociedade brasileira ainda está longe de conviver em paz com a orientação religiosa do semelhante. Os dados divulgados pela Alesp devem acender uma luz amarela em toda a comunidade, que precisa entender que piada com a fé do outro não é uma brincadeira inocente, e que cada um tem o direito de ter a fé que for, e até o direito de não ter fé alguma.
Em tempos que religião e política estão tão perto que se contaminam, é salutar que a bandeira do respeito seja levantada. Toda pessoa precisa se analisar para tirar de si qualquer preconceito. Mas, isso não basta. Também é preciso denunciar os casos de intolerância.
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