RARO Um dos asteroides descobertos seguia uma órbita diferente da dos demais, o que aumenta as possibilidades de sua rota coincidir com a do planeta Terra
É entre microscópios e telescópios que a estudante de medicina Verena Paccola Menezes, de 22 anos, passa boa parte de seu tempo. Se, por um lado, o primeiro instrumento a ajuda nos caminhos que trilha para se tornar uma neurocirurgiã, é pelo telescópio que ela anteviu uma outra possibilidade: a medicina espacial, paixão que surgiu após, nos momentos de hobby, ter descoberto 25 asteroides. Um deles, classificado como raro pela órbita diferenciada que poderá colocá-lo na direção da Terra.
Nos momentos livres, Verena é uma “caçadora de asteroides”. Mas a verdade é que ela, desde criança, sempre se considerou uma cientista.
“A ciência sempre esteve presente na minha vida. Nem lembro quando comecei a me interessar. Brinco que já nasci cientista porque, para mim, fazer ciência e ser cientista é fazer perguntas, questionar o mundo e ir atrás das respostas por conta própria, sem se contentar com o superficial. Sempre vivi dessa forma. Sempre fui uma criança muito curiosa para descobrir o mundo”, disse a estudante de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), que é também técnica de Enfermagem.
ASTEROIDE RARO
“Acabei recebendo mais que uma medalha. Quando achei que a premiação tinha acabado, me chamaram novamente ao palco para receber um troféu. Foi ali que me contaram que eu havia descoberto um asteroide importante e raro, que segue uma órbita diferente em torno do Sol”.
Normalmente os asteroides do Sistema Solar estão localizados entre Marte e Júpiter, onde fica o chamado Cinturão Principal. Um dos asteroides descobertos por Verena seguia uma órbita diferente da dos demais, o que aumenta as possibilidades de sua rota coincidir com a do planeta Terra.
“Agora a gente tem de ver para onde ele está indo, de forma a prever possíveis impactos com a Terra. Não sei se isso vai acontecer. A possibilidade existe, mas se a gente olhar para as dimensões do Universo, vemos que a probabilidade é muito pequena”, diz ela, esperançosa de que sua descoberta não seja algo apocalíptico semelhante à história contada no filme Não Olhe para Cima, na qual uma pesquisadora descobre um cometa com rota em direção a Terra, que dará fim à vida no planeta.
“Fiquei chocada com esse filme. Ele é muito bom até do ponto de vista científico. É também o retrato da sociedade e da mulher na ciência. Claro que me identifiquei muito com a personagem por também ser uma mulher na ciência. E, na ciência, as mulheres, além de não serem ouvidas, vivem em um contexto no qual é o homem quem leva a maioria dos créditos. No filme, ela inclusive foi tachada de louca”.
Na avaliação da estudante caçadora de asteroides, o filme vai além, abordando a humanidade atual como um todo. “Fala muito sobre essa onda negacionista que vivemos no Brasil. Dá para relacionar a muitos assuntos, além de um cometa ou um asteroide. É também uma metáfora para a questão do aquecimento global, que os cientistas tanto falam que está acontecendo e que ninguém ouve. Mostra também o peso da economia em decisões”, argumenta.
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