Dia do Índio foi comemorado ontem (19); porém, data é vista como um espaço de fala para defesa do povo e de suas terras
Araçatuba
Bryan Belati
A história do Brasil possui suas controvérsias. Por mais que tenhamos sido colonizados pelos portugueses, essa é uma maneira eurocêntrica de entender a história.
E uma história não é composta somente de uma versão dos fatos. Para alguns, o Brasil nasceu com a chegada dos portugueses aqui. Mas a verdadeira história começou bem antes, com os primeiros brasileiros: os índios.
Ontem (19), foi comemorado o Dia do Índio, data criada pelo presidente Getúlio Vargas, por meio do decreto-lei 5 540 de 1943. A celebração surgiu como um marco para preservar a memória e valorizar as culturas formadoras de nosso país.
A cultura indígena não está distante de nós, muito pelo contrário. A maioria dos costumes e crenças que temos hoje são herança direta dos povos tupi guarani, como o hábito de andar descalço e a alimentação baseada em mandioca e farinha.
Além disso, muitas palavras que nomeiam rios, viadutos e ruas ao nosso redor têm origem indígena, como “ibirapuera”, “anhanguera” e “tietê”.
No entanto, embora a data possa trazer contribuições significativas sobre o assunto, quando discutida de forma superficial nas escolas, pode reforçar estereótipos e reduzir os povos indígenas a imagens caricatas e exóticas, sem que haja uma proposta para reflexões mais críticas e aprofundadas.
De acordo com a especialista em cultura indígena Cristine Takuá, é importante que a temática permeie o currículo escolar ao longo de todo o ano letivo, e não apenas no mês de abril.
A autora relembra que, apesar de já existir uma lei determinando o ensino obrigatório de história e cultura indígena em todas as escolas brasileiras, na prática o assunto ainda é invisibilizado dentro das instituições.
Segundo Takuá, essa invisibilidade promove o racismo contra povos indígenas, e que esse preconceito pode ser combatido à medida em que o assunto ganhar destaque e visibilidade durante as aulas.
Ela reforça que, atualmente, os povos indígenas representam mais de trezentas etnias diferentes em todo o país, povos que resistem há mais de 500 anos no território brasileiro e, ainda sim, são grupos marginalizados nos espaços sociais.
“Para que não haja mais preconceito é preciso ter conhecimento. O contato com a cultura indígena no ambiente escolar sensibiliza os estudantes, e é através da sensibilização que surge a conscientização”, relata a especialista.
Cristine diz que é possível explorar a temática diversas áreas do conhecimento, seja por meio da arte, da história, das ciências ou das linguagens. Takuá explica que a abordagem interdisciplinar, além de trazer benefícios para a aprendizagem ao articular diversos saberes, também possibilita visões mais plurais e diversas sobre a história do Brasil.
“Abordar cultura indígena em sala de aula ajuda os estudantes a ampliarem seu conhecimento sobre a sociedade brasileira para além do foco eurocêntrico. Ela abre possibilidades para adentrar novas formas de ver e pensar o mundo”, explica.
Estudar o passado de dominação e violência que construiu a história do Brasil é um passo importante para refletir criticamente sobre o assunto, visto que as influências indígenas, no entanto, não se limitam ao período colonial.
DOCUMENTÁRIO

Muitos problemas sociais que permeiam as discussões nos últimos anos, também se fazem presentes no dia a dia da população indígena.
Como a natureza tem um significado muito forte para os povos indígenas, tal como o cuidado com a terra, com os animais e com as florestas transmitidos de geração para geração, hoje, os índios tentam resistir à ameaça de destruição do meio ambiente e dos recursos naturais.
Esse cenário é apresentado ao público no documentário “Falas da Terra”, produzido pela Globoplay. Transmitido ontem (19), na Globo, os telespectadores puderam conhecer a história de 21 indígenas de diferentes regiões do Brasil, dentre eles caciques e pajés, mas também advogados, biólogos, médicos e artistas.
A produção contou com índios na frente e atrás das câmeras, e se faz atual explicitando o cenário em que essa população se encontra hoje: entrando em conflitos e sacrificando a própria vida, lutando pelo direito de existir em seu próprio espaço.
LIDERANÇA

A atuação dos povos indígenas na militância em prol da preservação do meio ambiente e da luta por suas terras tem se intensificado nos últimos anos.
Um desses exemplos é o Cacique Raoni Metuktire, 91 anos, líder indígena brasileiro da etnia caiapó. Raoni é conhecido internacionalmente por sua luta pela preservação da floresta amazônica.
O líder já deu diversas declarações e participa ativamente de congressos, nacionais e internacionais, e possui notoriedade no mundo todo. Ele já se opôs contra grandes projetos que poderiam colocar o meio ambiente em risco, como por exemplo a Usina Hidrelétrica de Belo Monte.
A última declaração feita por Raoni foi um vídeo exibido no Fórum Nacional em Defesa da Amazônia do Congresso Nacional, o qual foi direcionado ao atual presidente dos Estados Unidos da América, Joe Biden. Na gravação, ele pede que Biden ignore o presidente Jair Bolsonaro, alegando que ele tem dito muitas mentiras.
No pronunciamento, o cacique se refere à carta enviada por Bolsonaro aos Estados Unidos na semana passada, prometendo zerar o desmatamento ilegal no Brasil até 2030.
CONHECIMENTO
Para aqueles que querem aprender mais sobre a cultura indígena, a Claque Produções em parceria com a Triarts New Media e o artista Dinas Miguel, lançam o projeto “Aldeia360”.
Em realidade virtual, é possível ter acesso a realidade dos Guarani, que vivem na terra indígena Jaraguá, localizada no noroeste da cidade de São Paulo.
Em um ambiente tão marcado por concreto e urbanismo, no Pico do Jaraguá, um importante ponto turístico, estão localizados mais de 1000 indígenas Guarani Mbya, que através de sua cultura e atividades mantém o modo de viver tradicional, mesmo dentro da maior metrópole do país.
Com uma grande reserva de mata Atlântica no local, que compõe o chamado Cinturão Verde da Cidade, por lá se dividem diversas aldeias desse grupo pertencente à família linguística tupi-guarani, que atualmente estão espalhados pelo Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai.
O projeto é em realidade virtual e que pode ser acessado através do link (www.aldeia360.art.br).
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