Não é justo o comércio pagar pela Covid-19, desabafa pelos cantos o prefeito de Araçatuba, Dilador Borges (PSDB), conforme noticiado ontem pela coluna Periscópio, na Folha da Região. O Estado inteiro foi colocado na fase vermelha, com mais restrições. No entendimento dele, não é justo que esse setor da economia novamente pague pela irresponsabilidade das pessoas que não respeitaram o distanciamento social nas festas de final de ano e que também continuam se aglomerando em bares e noitadas.
Correto, não é justo para o comércio. Mas seria justo para alguém ou para outro segmento da sociedade? É justo para a criança que teve de parar de frequentar a escola, onde além do aprendizado recebia alimentação? É justo para o professor, para a mãe, para o pai e o avô? É justo para os profissionais da saúde, no trabalho quase sobrenatural de salvar vidas, remando contra a maré do negacionismo, enquanto até líderes inconsequentes debocham da vacina e defendem o curandeirismo? Com todo respeito pelas compreensíveis lamúrias do prefeito, a pandemia não comporta visões estreitas sobre o que é justo e o que é injusto. Do ponto de vista cristão, a propósito, um cenário tão apocalíptico não parece apropriado nem para os irresponsáveis, porque deles triunfam a negligência e a má-fé, mas também a ignorância nutrida por fake news, ou tudo isso misturado, na insistência em descumprir regras de distanciamento, em não usar máscaras, em desprezar cuidados básicos de higiene.
A conta chegou para todos, e é injusta para todos, principalmente os mais pobres, que sempre pagam um preço mais alto, das mais diferentes e agravadas formas, porque não sobra fôlego nem para ganhar tempo e sobrevida. Para eles, o calvário sempre chega antes, não sem passar pelo sofrimento da viacrúcis. A entrada do Estado na fase vermelha é a consequência óbvia de um conjunto de desídias, e ninguém pode fazer cara de paisagem, muito menos quem recebeu a confiança do voto. Para que tudo isso tenha um desfecho minimamente satisfatório, a única saída é a união das autoridades públicas no sentido de acelerar a vacinação em massa. Uma iniciativa que começa a atrair Dilador, e pode ajudar nesse sentido, acaba de ser tomada pela Frente Nacional de Prefeitos (FNP). A entidade está conclamando líderes municipais a participar da constituição de um consórcio destinado a dar suporte na aquisição de vacinas caso fracasse de vez o atrapalhado Plano Nacional de Imunização (PNI), do governo federal.
Como lembra a entidade, em situação extrema e “diante da urgência em vacinar a população e retomar de forma segura as atividades econômicas”, o consórcio já tem amparo jurídico do STF para se organizar, buscar recursos inclusive internacionais e fazer a compra da vacina sem intermediários de Brasília. Inclui-se aí o caminho das parcerias público-privadas, pelas quais as empresas podem comprar as doses para seus funcionários, contanto que respeitem as faixas etárias prioritárias e destinem metade ao SUS.
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