Três municípios da região de Araçatuba estão com 100% dos leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) ocupados. São eles Birigui, Penápolis e Ilha Solteira, segundo relatório emitido nesta tarde (1º) pelo Departamento Regional de Saúde (DRS II). Em Birigui, os dez leitos disponíveis de UTI Covid da Santa Casa estão ocupados por pacientes com suspeita ou diagnóstico de Covid-19. O mesmo acontece em Penápolis, que fechou o Hospital de Campanha no início do mês passado. Na Santa Casa da cidade, os dez leitos de UTI destinados à doença estão com pacientes, sendo um de Avanhandava, um de Glicério, dois de Luiziânia e seis de Penápolis.
No Hospital Regional de Ilha Solteira, a situação se repete: dos dez leitos de UTI Covid, todos estão ocupados. O hospital tem pacientes de Dracena, Araraquara, Susanápolis, General Salgado e Andradina. Em Andradina, a ocupação está próxima do limite. Dos dez leitos disponíveis, nove estão ocupados, ou seja, 90%. Já em Mirandópolis, dos 18 leitos de UTI Covid, 16 estão com pacientes, índice de 88,9% de ocupação. Na Santa Casa de Araçatuba, que recebe pacientes de toda a região, a ocupação é de 68%: dos 25 leitos de UTI Covid, 17 estão ocupados. Destes, 12 pacientes são de Araçatuba. No Estado, a média de ocupação dos leitos de UTI é de 73,2%. Em todo o território paulista, há 7.276 em unidades de terapia intensiva, conforme dados desta segunda-feira (1º). O número é considerado um recorde desde o início da pandemia. PERFIL DOS
INTERNADOS
No momento em que o aumento de casos de Covid-19 provoca lotação em hospitais públicos e privados do país, médicos relatam uma mudança no perfil desses pacientes nas UTIs. Em geral, estão chegando pessoas mais jovens, entre 30 e 50 anos, mais graves e que demandam mais tempo de terapia intensiva. Ficam, em média, de dois a cinco dias a mais na UTI em relação aos pacientes com Covid internados nos primeiros meses da pandemia, o que prejudica o giro de leitos. Alguns serviços já registram mais pacientes nas UTIs do que nas enfermarias, sugerindo maior gravidade dos casos.
A médica intensivista Suzana Lobo, presidente da Amib (Associação de Medicina Intensiva Brasileira), relata que há até bem pouco tempo a relação era de dois pacientes nas enfermarias para um na UTI. “Agora isso está invertendo em muitos locais. Sugere internações mais tardias, com pacientes mais graves. Talvez por confiança nesses ditos tratamentos precoces, que a gente sabe que não funcionam.” No Hospital de Base de São José do Rio Preto (SP), onde Lobo dirige o centro de terapia intensiva, na sexta (26) havia 121 pacientes de Covid na UTI e 88 na enfermaria. Há um mês, no dia 25 de janeiro, eram 113 na enfermaria e 96 na UTI.
Ainda não há dados gerais consolidados que expliquem essa mudança de perfil dos pacientes e da doença. Entre as hipóteses estão maior exposição ao vírus dos mais jovens, circulação de novas variantes do coronavírus, demora em ir para o hospital e mais uso de recursos terapêuticos de longa duração. “Há uma clara percepção nas últimas semanas de que o perfil mudou. No nosso serviço, os pacientes mais jovens e mais graves têm sido uma constante na UTI”, diz o intensivista Ederlon Rezende, chefe da UTI de adultos do Hospital do Servidor Estadual, em São Paulo, e que faz parte do conselho consultivo da Amib.
O infectologista David Uip, do Hospital Sírio-Libanês, afirma que, na prática clínica, o tempo médio de internação dos seus pacientes com Covid-19 na UTI passou de 13 para 17 dias, e a média de idade caiu dez anos. “Antes víamos muito mais pacientes agudizados de 60 para cima, agora estamos vendo de 50, mas também ainda mais jovens. Eu internei um estudante de medicina de 22 anos. Tivemos duas meninas de 36 anos na UTI. Todos saíram vivos”, diz ele. A cardiologista e intensivista Ludhmila Hajjar, professora da USP e médica do InCor (Instituto do Coração), tem a mesma percepção. “Estou com pacientes jovens, de 30, 30 e poucos anos, internados, intubados. Isso a gente não via antes nesse volume. É paciente de Manaus, de Mato Grosso, de Rondônia, de Brasília, de São Paulo”, relata. Na sua experiência, o tempo de permanência desses pacientes em UTI também mudou. No ano passado, era de até 14 dias, em média, agora está batendo em 20 dias.
O médico intensivista Cristiano Augusto Franke, do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (RS), é outro que observa uma mudança de perfil dos internados na terapia intensiva. “É claro que ainda temos pessoas mais idosas, mas antes não víamos tantos jovens sem comorbidades chegando muito graves e com um tempo de internação prolongado. Isso tem estrangulado o sistema. Estamos com as UTIs lotadas”, diz. Segundo Suzana Lobo, da Amib, relatos assim têm chegado de várias partes do país, embora também haja serviços que ainda não registraram mudanças no perfil de pacientes. “Mais jovem e mais graves é uma percepção generalizada, já o período de permanência tem variado. Vamos precisar de mais tempo para ter um dado global”, afirma.
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