A decisão de suspender a paralisação dos atendimentos eletivos no pronto-socorro municipal, só foi tomada após reunião com prefeito, Leandro Maffeis, que acordou um novo repasse para quitar o atraso dos salários dos médicos que atendem no PS. Os profissionais, que hoje são contratados por uma nova OSS, decidiram entrar em greve por conta de dívidas antigas. Quando dona Sandra Dônega, grávida e desempregada, levou o marido, que estava passando mal, até ao pronto-socorro municipal, na segunda-feira, 22, ela não esperava ter que amargar mais de seis horas de espera e ainda não conseguir atendimento. “Ele estava muito ruim e fomos até a unidade de saúde, chegamos exatamente às 11h e ficamos lá um pouco depois das 17h, me assustou a quantidade de gente esperando pra ser atendido, gente passando mal mesmo, bem na entrada do PS.
O pessoal começou a reclamar e descobrimos que eles só estavam atendendo casos de Covid-19, fora isso, ninguém estava entrando. A gente sentou para esperar, não tinha o que fazer, e aí falaram que os médicos estavam desde as 9h em reunião, quando foi perto das 15h disseram que os médicos haviam ido embora! Ido embora! Você não imagina o que é ouvir uma resposta dessa…” indigna-se. O relato feito durante entrevista à Folha da Região, é um raio-x da situação na saúde pública em Birigui.
De acordo com Sandra, após ser informada que não teria atendimento para o marido, começou uma aglomeração de pacientes na porta da unidade referência da cidade. “Foi num piscar de olhos, todos os dias tem movimento de gente ali, mas ontem, estava um caos, teve paciente que tiveram que colocar na maca, porque não tinha cadeira de rodas. A enfermeira na porta do hospital não sabia o que fazer. As gestantes estavam lá, deixaram de pé por mais de 40 minutos. Estava todo mundo misturado, tinha gente com dengue ali esperando com dor, gente com sintomas de Convi-19, todo mundo ali, e gente que estava desde as 8h! Ninguém saiu lá fora para dar uma satisfação que fosse para os pacientes. O pronto-socorro estava uma vergonha. Nos sentimos largados a Deus dará”, declara Sandra.
O drama enfrentado pela dona de casa que entrou em contato com a Folha para denunciar a negligência quanto ao atendimento na saúde pública é o mesmo enfrentado pela maioria dos pacientes que procuraram atendimento na unidade. Desde segunda-feira,22, os médicos do pronto-socorro de Birigui estão em greve e alegam que não recebem os salários há mais de 80 dias. De acordo com os médicos, com a nova paralisação, só atendem casos de urgência, emergência e Covid-19. Os pacientes, após passarem por uma triagem onde cada caso é avaliado, são encaminhados para Unidades Básicas de Saúde, caso não se encaixem nos critérios ditados pela nova greve.
QUE GREVE É ESSA?
Desta vez, os profissionais que aderiram a greve, são os mesmos contratados pela Organização Social de Saúde Santa Casa de Birigui para atender no pronto socorro. Depois que a prefeitura decretou Estado de Calamidade na Saúde, válido por 180 dias, em janeiro, e rompeu o contrato com a Santa Casa de Birigui para assumir a gestão da saúde – uma tomada de posse que foi transmitida ao vivo pelo Prefeito, Leandro Maffeis, nas redes sociais –, a prefeitura fez um contrato em caráter emergencial e sem licitação com uma nova OSS, o Instituto São Miguel Arcanjo (ISMA), sem sede local, situada em Araraquara. De acordo com a própria prefeitura, o ISMA, contratou os mesmos médicos para continuar trabalhando no pronto-socorro. Os médicos não estavam atendendo a população porque a OSS Santa Casa ainda está devendo para os profissionais, mesmo contratados pela OSS São Miguel Arcanjo, decidiram pela greve mesmo assim.
PREFEITURA
Segundo a Prefeitura de Birigui, no início da tarde desta terça-feira, 23, foi firmado mais um acordo com a OSS Santa Casa de Misericórdia desta vez para resolver o impasse com os médicos que atendem no pronto-socorro municipal. A administração municipal deverá fazer um repasse de R$ 530 mil à entidade para que sejam quitados os débitos. O acordo foi aceito pelos representantes dos médicos que foram chamados pelo prefeito para participarem de uma reunião realizada na sede administrativa. Eles aceitaram encerrar a paralisação.
Ao mesmo tempo que a prefeitura risca da lista os débitos astronômicos em dívidas, também se compromete com novos repasses. Recentemente cumpriu o acordo firmado no início deste mês com a OSS Santa Casa, que recebeu R$ 2.400.529 milhões referentes ao convênio de subvenção social, receita da conta de 8% do ICMS, do contrato com a Equipe Saúde da Família e convênio 14/2019, e nesta terça-feira, anunciou a contratação de uma nova empresa, de Radiologia, no valor de R$ 627.000,00, também em caráter emergencial dispensando licitação, a prestação de serviços de radiologia e tomografia terá um prazo de 180 dias, enquanto durar o decreto de calamidade na saúde do município. A decisão foi divulgada nesta terça, no Diário Oficial do Município de Birigui.
CONTATO COM O ISMA
Até o término desta reportagem, a OSS Instituto São Miguel Arcanjo não retornou as ligações, e-mails e mensagens via WhatsApp, canais disponíveis no site do instituto. Uma das perguntas que por enquanto fica sem resposta é o porquê da fachada da nova OSS, dividir o mesmo espaço de um escritório de advocacia, que curiosamente mantém o mesmo contato telefônico da OSS. Em tempo, é necessário aguardar o retorno, porque a cidade, sede do ISMA, em Araraquara, está em lockdown por conta da pandemia.
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