Na fase amarela do plano São Paulo, e com menos restrições em relação a outros setores do Estado, a região de Araçatuba começa a semana com 56% de ocupação de leitos destinados a pacientes com covid-19. Um cenário controlado, mas não desfaz a tragédia da pandemia, que só em Araçatuba causou perto de 300 óbitos e contaminou mais de 13 mil pessoas. A manutenção de fase depende do que a região toda está fazendo, reflexo da somatória de estatísticas da doença nos municípios.
Em regiões como as de Araraquara, Ribeirão Preto e Barretos, o avanço da doença continua a gerar muita preocupação, inclusive em razão do surgimento de variantes do coronavírus. Tanto que em Araraquara a prefeitura foi obrigada a apelar para um período de lockdown, ou seja, para o fechamento total das atividades comerciais. Importante não subestimar o fato de que essa tragédia que se alastra pelo Interior pode avançar para o noroeste paulista se os cuidados não forem redobrados. Esta Folha noticiou ontem a fala pouco animadora do secretário executivo do centro estadual de contingência da doença, João Gabbardo. Ele citou que o Estado tem atualmente 6.410 pessoas internadas em UTIs.
No pico da doença, eram 6.257. Entre as explicações, o fato de que possivelmente as vítimas estejam ficando mais tempo nas unidades intensivas, portanto, sendo portadoras de quadros com maior gravidade. E ainda sem oferta de vacina em quantidade suficiente. Neste contexto, não será surpresa se o Estado anunciar medidas extraordinárias para restringir ainda mais as atividades, ou criar outras formas de redução de circulação de pessoas tanto em locais com cenários mais caóticos quanto em regiões um pouco mais controladas. Entre as possibilidades, aliás, pode estar a transferência de pacientes dos locais mais sobrecarregados para outras regiões, e é aí que o Estado pode olhar para o noroeste paulista. Essa avaliação está prevista para hoje. Não tem como o combate à pandemia ser diferente.
Deter o vírus depende de ações que envolvam todos os segmentos da sociedade, e isso inclui o remanejamento de pacientes. As restrições podem ser atenuadas, com benefício para a reabertura gradual das atividades comerciais, se o vírus circular menos. Para que isso ocorra, depende do comportamento de todos. Sem empatia, sem responsabilidade e sem respeito às regras sanitárias, não haverá avanço e pode haver piora nos quadros.
Essa consciência certamente não se fazia presente, por exemplo, nos embalos do último sábado à noite em Araçatuba, quando a Polícia Militar teve de fazer 49 autuações e dezenas de advertências em aglomerações nas avenidas Abrahão Buchalla, no bairro Concórdia, e na avenida Brasília, no Nova York.
As causas das autuações foram diversas, incluindo a costumeira perturbação ao sossego público pelo barulho de som automotivo. No final das contas, o resultado é sempre a aglomeração. O momento é, enfim, muito delicado. Se Araçatuba não se cuidar, o amarelo de hoje pode ser o laranja de amanhã. Daí para o vermelho, será só mais um pulo. As escolhas ajudam a definir o preço a pagar. Podemos escolher entre a prevenção e o deboche, entre a ciência que salva e o negacionismo que mata.
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