Não é segredo para ninguém, pelo menos para algumas pessoas, que a chegada de um bebê traz, além de uma expectativa imensa, um cansaço sem igual. Pelo menos no início, a rotina precisa ser pensada para atender as necessidades do novo membro. Fica até difícil distinguir o que é dia e o que é noite durante o processo de adaptação. Mas em alguns casos, o desgaste é muito intenso e com ele, acompanha um sentimento de exaustão física e emocional, tristeza, ansiedade, esquecimentos, brigas com o/a companheiro/a e principalmente, uma falta de interesse atrelada a uma irritação maior que o normal no que se refere aos filhos. Para especialistas, estamos diante de um quadro de Síndrome de Burnout Materno.
DAS COBRANÇAS NO TRABALHO PARA A MATERNIDADE
Inicialmente a Síndrome de Burnout se referia a um estado de esgotamento profissional. Essa condição foi oficializada em 1970 pelo psicanalista alemão Herbert Freudenberger. Mas nos últimos dez anos os estudos sobre a síndrome se voltaram para uma outra abordagem, voltada à maternidade. Estudos apontam que se verificou um alto nível de estresse, semelhante ao vivido no universo corporativo, entre mulheres e homens quando perguntados sobre suas tarefas como mães e pais. “As figuras de referência da criança, geralmente as mães e os pais, iniciam o processo de criação com prazer. Porém, para alguns o trabalho exigido pode ir além do esperado e a sensação de não reconhecimento pode desencadear a Síndrome de Burnout”, afirma a psicóloga e educadora perinatal Tarsila Leão, fundadora do grupo A Mama. Uma moradora de Araçatuba, de que não será identificada, teve o diagnóstico de Burnout Materno após uma consulta com a sua médica obstetra.
Na época, ela havia conseguido dois afastamentos durante a gravidez, e o objetivo era que ela conseguisse descansar já que apresentava pressão alta devido ao nervoso, mas em casa, no entanto, não conseguia usufruir do descanso. “Havia um acúmulo enorme de trabalho. A empresa em que eu trabalho está passando por diversos problemas e muitos deles eram descarregados em mim, para que eu solucionasse rapidamente. Havia uma pressão enorme para a minha licença maternidade, cogitaram até me conceder apenas 60 dias, entre outros problemas”, conta ela, incrédula. Antes, os sintomas eram confundidos com estresse, mas com o diagnóstico, a avaliação foi mais profunda, a doença em si, deixa a pessoa esgotada e não apenas cansada. “Quando eu descobri, fiquei muito preocupada, porque não podia parar o trabalho e tinha medo de que de alguma forma isso interferisse na gestação da minha filha, e de certa forma, interferiu. Após uma reunião desgastante, passei mal, e um dia depois fui levada às pressas ao hospital onde tive um parto prematuro. Meu bebê nasceu de 35 semanas e no dia seguinte ao parto, por telefone, recebi uma mensagem da empresa me cobrando problemas que eu teria que resolver no trabalho”, desabafa a mulher.
A médica obstetra indicou acompanhamento de psiquiatra e psicóloga para acompanhar o caso. Especialistas acrescentam que o que contribui demais para esse quadro é a potencial sensação de anulação como indivíduo. A maioria das mulheres é submetida ao esgotamento porque se espera que elas estejam preparadas para serem mães, profissionais e donas de casa. Porém, muitas não dão conta e não têm coragem de externar a dificuldade, por medo de se sentirem julgadas. E esse processo pode ser uma bomba relógio, porque vai se acumulando e, em um momento, vem a sensação de que a vida está anulada. No caso da mulher, ouvida pela reportagem da Folha da Região, a síndrome se manifesta principalmente pelo cansaço. “Sinto muito cansaço, uma tensão horrorosa, ansiedade, e fico muito irritada, junto vem uma enxaqueca, e isso me deixa abatida. Durante minha gestação, tive pressão alta e diabetes emocional. Minha obstetra disse que os sintomas são da doença, mas por mais que eu tente, não consigo me desligar das questões do trabalho mesmo estando fora daquele ambiente. Os problemas me perseguem (risos),” diz ela.
COMO DAR A VOLTA POR CIMA
Ao identificar os sintomas da Síndrome de Burnout materno, a primeira providência é pedir ajuda. Não é tão simples como possa parecer, porque vai contra tudo que a mãe com a doença acha que se espera dela. O melhor caminho, é procurar auxílio especializado de uma psicóloga ou psiquiatra para destravar o sentimento de culpa. “A mãe precisa primeiro, se tratar para conseguir ter mais qualidade na relação com o filho e também para evitar que a Síndrome de Burnout rume para a depressão. Com a terapia ela conseguirá ver de forma coerente o que está acontecendo e ter consciência de que não é normal estar sempre cansada e irritada”, afirma Dra. Tarsila. Quando iniciado esse processo de cuidado, fica mais fácil recorrer a uma rede de apoio, formada por familiares e amigos, para contar com o que for preciso e conseguir um tempo para si. A especialista também orienta que é importante lembrar que, uma mãe não deixa de ser mulher, é preciso manter os relacionamentos e interesses além da maternidade.
DÁ PARA EVITAR A SÍNDROME DE BURNOUT MATERNO
Se estiver grávida ou planejando ser mãe e pensando em evitar a doença é possível se antecipar ao problema. O primeiro passo, é ter consciência de que não existe mulher que dê conta de tudo, que abrace o mundo. Profissionais aconselham dividir as tarefas desde o início, pedir ajuda ás pessoas mais próximas e principalmente, saber dizer não quando já estiver cheia de atividades e alguém pedir algo a mais. São atitudes assim, que ajudam a evitar sobrecarregada. O processo também inclui uma preparação para a chegada do bebê, além de cursos práticos sobre como cuidar dos pequenos, um pré-natal psicológico, profissionais dessa área estão aptos a orientar sobre as novas funções parentais que as esperam. É como diz um ditado africano: “para educar uma criança é preciso de uma vila inteira”. Lembre-se desse conselho e não fique acanhada de reconhecer que, assim como toda mãe, você pode precisar de ajuda. Sua saúde mental, agradece.
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