Uma das principais características do interior é o habito de plantar. Em Araçatuba, por exemplo, é uma questão cultural que pode ser transmitida por gerações entre as famílias. No objetivo de incentivar outras pessoas, a Folha da Região ouviu ativistas sobre a importância de uma boa relação dos homens com as plantas.
“Nossos antepassados tinham mais contato com a terra, isso proporcionava a eles um conhecimento incrível e um manejo com a biodiversidade do solo – das próprias plantas – que foi fundamental para embasar estudos que temos hoje em dia”, conta Julia Graziele, 32 anos, educadora ambiental e profissional.
De acordo com Projeto de Lei 236/2017 da Política Estadual de Agroecologia e Produção Orgânica de São Paulo (Peapo), a transição ecológica é o processo gradual com orientação e acompanhamento de transformação das bases produtivas e sociais para recuperar a fertilidade e o equilíbrio ecológico do agroecossistema em acordo com os princípios da Agroecologia, priorizando o desenvolvimento de sistemas agroalimentares locais e sustentáveis, considerando os aspectos sociais, culturais, políticos e econômicos.
O debate da transição ecológica se baseia no objetivo de proporcionar qualidade de vida para a sociedade ecológica e humana, onde são discutidas alimentações orgânicas, práticas agroambientais de preservação dos recursos naturais, apoio aos agricultores e uma economia sustentável. Um papo que vai além dos cuidados com plantas, mas também com a água e demais animais.
De acordo com Bianca Rochani (29), floricultora no Jardim Amalteia, em 2020 o Brasil, especialmente, sofre uma séria crise ambiental que é impossível não detectar. “Esse ano vimos biomas sendo destruídos por queimadas do Pantanal à Amazônia, enquanto o governo não tomou nenhuma medida efetiva de prevenção e contenção em relação às queimadas ilegais”, afirma.
Um dos principais motivos que levam as pessoas a se conectarem com as plantas é a sensação de tranqüilidade. As plantas podem servir para auxiliar em tratamentos psicológicos ou na melhora de um dia ruim.
“Cultivar plantas é tão terapêutico quanto os princípios ativos delas! Muitas vezes o cultivo de uma pequena horta, vertical ou em vasos, por exemplo, suculentas pra decoração, dentre outros tipos de plantios são recomendados também na luta contra depressão, ansiedade e estresse”, finaliza Graziele.
CONHEÇA AÇÕES NA CIDADE:
Bianca Rochani tem 29 anos e é responsável pelo ateliê Jardim Amalteia, que realiza trabalho exclusivo com arranjos em kokedamas, plantas ornamentais e pequenas consultorias. A ‘Kokedama’ é uma técnica japonesa que permite cultivar plantas em um arranjo de substrato e musgo que dispensa o uso de vasos.
Rochani começou sua relação com as plantas por meio do jardim de sua avó. Em 2017 passou a praticar o cultivo de forma terapêutica. Após conhecer a Kokedamas em 2018 construiu seu ateliê. “A jardinagem é parte fundamental da minha vida, que me permite, muito além da prática de um hobby, trabalhar com algo que amo”, afirma.
Para Bianca é essencial que as pessoas tenham boas relações com a natureza, pois a partir dela é que virá a conscientização sobre os cuidados que devemos ter. “O debate sobre a relação do homem com a natureza é extenso, coletivo e, principalmente, político. Cultivar plantas em casa pode ser um primeiro passo para a tomada de consciência social em relação ao meio ambiente, pois a partir da ótica pessoal no ato de jardinar, se envolvendo com a natureza de uma maneira mais íntima, surge a compreensão empírica de como os ciclos funcionam e sua importância, o que talvez leve à busca por preservação’, finaliza.
DICAS
A primeira dica é: não existe planta que não precisa de luz solar. Quando começamos a plantar em casa, independente se em ambiente interno ou externo, é importante nos atentarmos às condições de luz do ambiente escolhido para que as plantas vivam saudáveis, priorizando espaços que tenham uma boa iluminação e que estejam de acordo com as necessidades da planta.
Outra dica que eu acredito ser valiosa é: fuja de regras prontas como, por exemplo, “regar x vezes na semana”. Quando falamos em rega, além de cada planta ter uma necessidade diferente, as regas variam em relação ao clima, estações do ano, tipo de substrato, incidência de luz, entre outros, por isso sempre recomendo aplicar a medida do “dedômetro”, que é simplesmente colocar o dedo até uns 2 centímetros abaixo da superfície do solo e sentir seu nível de umidade; se o dedo sair seco, regue, se sair úmido e sujo de terra, espere mais um pouco.
Muitas vezes, seguir regras em relação às regas é o que leva uma pessoa iniciante na jardinagem a cometer “planticídios”. E, por último, ter paciência. Plantas são seres vivos e, tanto quanto animais de estimação, também demonstram o que precisam. Basta ter paciência pra observar e respeitar seu tempo.
Julia Graziele tem 32 anos e é educadora ambiental e profissional. Sua relação com as plantas sempre existiu por morar próxima a natureza, em que plantar sempre foi uma prática comum de sua família. Há 15 anos passou pela graduação de botânica e passou a ter suas próprias plantas. Ela também estudou plantas medicinais, aromaterapia e perfumaria botânica.
Hoje, Julia relata que a plantas e todo o aprendizado que teve fizeram total diferença em sua vida e em sua casa usa plantas para quase tudo.
“Uso plantas para ensinar, meditar, presentear, celebrar, comer, beber, relaxar e pra curar. Temperos naturais, tinturas, banhos, chás, emplastos, compressas, óleos essenciais, água de roupa, hidrolatos, perfumes pessoais, pomadas, unguentos e as refeições dos meus filhos: tudo isso tem e é fortemente usado em casa. Seja de ervas frescas ou desidratadas, frutos e frutas, raízes e tubérculos. Sou convicta de que minha saúde também se deve ao consumo consciente das propriedades nutritivas e terapêuticas das plantas”, comenta Graziele.
Para ela se relacionar com a biodiversidade está ligado a qualidade de vida dos indivíduos e afirma que o conhecimento é o primeiro passo para uma melhora na relação da humanidade com a natureza. “O distanciamento dessa sabedoria natural alienou grande parte da sociedade e favoreceu o adoecimento dos ser humano e o desequilíbrio dos recursos naturais”, finaliza.
FÁCIL CULTIVO
Comece com culturas, espécies de fácil cultivo: suculentas, cactos e até mesmo algumas plantas que gostam de sombra e podem ser facilmente cultivadas dentro de casa. Mas se você quer uma horta, por exemplo, precisa se atentar para a insolação na sua casa, ou seja, quantas horas e “quanto de Sol pega” no espaço que for plantar, as plantas precisam, num geral, de água e luz. Recipientes como vasos, jardineiras, tubos de PVC, e até mesmo materiais de reaproveitamento como galões de água, garrafas PET e baldes, são boas alternativas para quem não tem muito espaço em casa. O importante é pesquisar sobre o tipo de solo e a frequência de regas que aquela(s) planta(s) a ser cultivada(s) exige(m), além do quanto de luz precisam. A maioria das verduras, legumes e ervas aromáticas (temperos e chás), por exemplo, exigem uma iluminação direta por pelo menos duas horas por dia. Já a maioria das folhagens ornamentais costumam desenvolver-se bem em locais sombreados. Hortelã precisa de regas diárias.
Um cacto precisa de uma pequena quantidade de água semanalmente. Então é importante conhecer mais sobre a cultura.
André Miatelo tem 27 anos e possui um perfil no instagram onde compartilha o desenvolvimento de deus jardim a Fábrica de Oxigênio. Seu incentivo para se relacionar com as plantas veio dos canteiros de sua avó e há 4 anos pegou amor pela troca com a terra de forma terapêutica.
“Quando fui morar sozinho, para não pirar, resolvi cuidar do meu quintal. Hoje as plantas me servem como medicamentos e como uma forma de fugir da selva de pedra”, conta.
Para ele, as pessoas têm se atentado mais para as questões ambientais, porém falta entender que pertencem ao mesmo meio.”Quando o ser humano entende que é parte desse todo ele para de se agredir, afinal destruir o que te proporciona vida não deixa de ser suicídio”, afirma.
Dicas: Comece pelo simples. Semente, terra, água e muito amor e sem muita obrigação com dar certo, o resto é consequência.
Francielle Ribeiro
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