Ter acesso à internet foi uma das grandes barreiras para que crianças e adolescentes pudessem estudar em 2020 com a pandemia do novo coronavírus. Entretanto, a conectividade de estudantes e professores será essencial para garantir a retomada na educação. Como o modelo de ensino híbrido deve permanecer ainda por um tempo, uma escola conectada vai ser chave para que os alunos consigam recuperar a aprendizagem, pois permitirá ao professor atender os alunos que seguirão em casa da própria escola.
Em Araçatuba, a Folha da Região conversou com professores e educadores sobre o uso de tecnologia dentro das salas de aula.
Com quase 10 anos no magistério, o professor Diego Nagate Rodrigues, 30 anos, é formado em História pela Unesp e Pedagogia pela UniJales, atualmente atua como professor de Atendimento Educacional Especializado no município de Santo Antonio do Aracanguá e é diretor de um colégio de Educação Infantil em Araçatuba. Segundo ele, desde o início de sua formação, vem debatendo a importância de ter o uso das tecnologias como aliado a educação.
“Desde que me formei na primeira graduação em 2011, debato a importância do uso das tecnologias na sala de aula. Sempre houve muita resistência por parte dos colegas, sobretudo os mais experientes, porém com a pandemia, todos tiveram de aprender e desenvolver suas aulas por meio das tecnologias de comunicação e informação. Acredito que 2020 foi um divisor de águas para a educação e, a partir de agora, todos nós teremos que nos empenhar e utilizar os recursos tecnológicos, principalmente porque eles dialogam com a realidade e anseios das gerações atuais que nasceram nesta era tecnológica”.
Bruno Raphael de Souza é empresário do ramo educacional em Araçatuba considera o ensino híbrido/tecnológico importante para complementar o ensino presencial, entretanto, “acredito que o ensino presencial seja imprescindível na vida de nossas crianças e jovens, pois é na escola que nos socializamos, aprendemos a lidar com os conflitos e crescemos como pessoa. A beleza da vida é aprendermos juntos”, ressalta ele.
“A partir de 2017, a BNCC (Base nacional comum curricular), passou a reforçar que a tecnologia na educação deixaria de ser opcional e sim essencial para garantia de uma educação de qualidade. Na teoria, começou-se a discutir o ensino híbrido, que mescla o ensino on-line e off-line, ou seja, as aulas presenciais desde então já não eram mais suficientes, havendo a necessidade das escolas oferecerem ferramentas de apoio também on-line, como complementação dos estudos, pois, o mundo virtual cada vez mais fazem parte do cotidiano de nossas crianças e jovens.
Segundo Souza, um projeto desenvolvido em Miami mostra que o número de pessoas que concluíram o ensino médio após a adoção do Ensino Híbrido aumentou em 26% e 17% dos alunos que tiveram aprendizagem híbrida melhoraram suas notas, segundo um estudo realizado na América Latina (w-pensar). “Atualmente, com o “novo normal” que temos enfrentado devido à pandemia, as escolas e alunos que estão tendo menores dificuldades de lidarem com o novo formato das aulas remotas e digitais, são os que já estavam mais habituados com os mecanismos e ferramentas educacionais on-line. Apesar de saber que a presença do professor e o ensino presencial são essenciais, o professor e o aluno precisam ter o hábito do estudo também remoto, pois cada dia mais as ferramentas virtuais fazem parte de nossas vidas”, finaliza.
PESQUISA
Pesquisa Datafolha encomendada pela Fundação Lemann mostrou que, após esses desafios, os professores estão mais preparados e pretendem usar mais ferramentas tecnológicas. Foram entrevistados 1.005 professores da rede pública entre setembro e outubro de 2020, em todo o país.
Segundo os dados obtidos, 73% dos educadores dizem que, após a pandemia, vão utilizar mais tecnologia no ensino do que usavam antes. No entanto, menos da metade (45%) dos profissionais consideram a conexão adequada atualmente e quase 30% não têm qualquer internet na unidade escolar.
“Com o isolamento social e o fechamento de escolas, o ensino remoto foi implementado em caráter emergencial. Em 2021 vamos migrar para um modelo híbrido e temos ainda tempo de nos preparar”, explica Cristieni Castilhos, gerente da Força Tarefa Educação/Covid-19 da Fundação Lemann.
Das 27 unidades federativas do país, apenas 12 já autorizaram a reabertura: Amazonas, São Paulo, Ceará, Pernambuco, Piauí, Sergipe, Espírito Santo, Rio de Janeiro, Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Tocantins. O retorno às escolas estaduais está se dando de maneira gradual e, mesmo quando todos os alunos voltarem, será preciso ensinar dois anos em um. A tecnologia entra, nesse caso, como importante apoio para as aulas de reforço, como algumas Secretarias de Educação já estão se planejando.
Ainda segundo a pesquisa Datafolha encomendada pela Fundação Lemann, para 81% dos professores, a tecnologia é uma grande aliada na promoção de um ensino mais ativo.
Para 55% dos professores é imprescindível ter escolas conectadas em 2021. Mesmo diante dos recentes cortes e a não execução no orçamento da educação no executivo federal, há alguns projetos de lei, tanto na Câmara quanto no Senado, que estão em tramitação. Senadores e deputados terão a oportunidade de apreciar projetos de lei até o fim do ano neste tema e deixar um legado para educação.
O PL 172/202, que deve entrar na pauta do Senado nesta semana, permite o uso de recursos do Fundo de Universalização de Telecomunicações (Fust) para a ampliação da banda larga em escolas públicas, especialmente na zona rural, com velocidade adequada, até 2024.
“Precisamos de ações concretas ainda em 2021, pois a tecnologia veio para ficar na educação. No ano que vem, uma escola conectada vai ser chave para garantir o modelo híbrido que seguiremos tendo. Fomos pegos de surpresa em 2020, mas não podemos terminar o ano sem uma ação significativa que resolva a conexão da educação. Nossos senadores e deputados têm nas mãos a oportunidade de conectar milhões de estudantes, especialmente aqueles que mais precisam”, diz Cristieni Castilhos, gerente da Força Tarefa Educação/Covid-19 da Fundação Lemann.
Colaborou Francielle Ribeiro
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