Um velho e discutível ditado de que não vale a pena brigar por política, futebol e religião reacende um instigante debate. Pensamento correto se o verbo “brigar” for empregado no seu sentido literal, daquela briga em que os oponentes partem para a calúnia, difamação, ofensas pessoais mesmo, e que geralmente transbordam para as chamadas vias de fato, com agressão física e até morte. Neste caso, em nenhuma circunstância pode valer a pena.
Entretanto, se formos considerar o debate de alto nível, que enobrece uma discussão, incentiva a busca pelo conhecimento e revela inclusive verdades inconvenientes, não há que se falar em evitar qualquer tema. Por que não discutir futebol, religião e política se for de forma respeitosa, responsável?
Cada um assumindo a responsabilidade por aquilo que fala e, quando for o caso, respondendo pelo que fala à razão da lei.
O que não se pode admitir, de forma alguma, é a postura verborrágica temperada com afirmações falsas e de forma proposital. Muito comum entre políticos que tentam a todo tempo desqualificar seus rivais, por dinheiro e poder, não necessariamente nesta ordem. Muito comum nas redes sociais, onde corre solta a distribuição de fake news sob o efeito conhecido como “travesseiro de pena”: uma vez rasgado e jogado ao vento, não há quem junte as penas de novo.
Essa irresponsabilidade tem mostrado um lado trágico no campo das discussões eleitoreiras, notadamente em bastidores onde respeitar regra definitivamente não é uma regra. Desde janeiro, 76 brasileiros foram assassinados por motivações políticas neste ano, mostra levantamento publicado pela Folha da Região. Entre as vítimas, pelo menos 16 eram candidatos ou pré-candidatos a vereador e dois disputariam cargos de prefeito.
Conforme a reportagem, o gráfico dos assassinatos políticos em ano de eleições municipais tem uma curva ascendente. Em 2016, 100 pessoas foram assassinadas em conflitos de poder político no País, acima dos números de 2012 (94 casos), 2008 (82) e 2004 (31). Uma das causas estaria no envolvimento de agentes políticos em milícias nas periferias das cidades, grupos de matadores no interior e na falta de ação dos poderes constituídos.
Quando o banditismo finca suas raízes e consegue até colocar representantes eleitos como representantes do povo mediante financiamento com dinheiro sujo não faz sentido, obviamente, se falar em discussão sadia, em bom senso e legalidade. Quase autoexplicativo em tempos de milhões escondidos em malas e até em cuecas que funcionam como cofres. Pelo menos serve de reflexão para o cidadão de bem usar sua melhor arma no próximo dia 15: o voto consciente.
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