No Dia do Escritor, mulheres da região de Araçatuba falaram com a Folha da Região sobre suas realidades e atuações no universo literário, em que elas representam 59% do público leitor, de acordo com pesquisa feita pelo Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope) a pedido do Instituto Pró-Livro. Contraditoriamente, elas encontram dificuldades em se identificar com as obras populares. Essa falta de sincronia acontece porque em grande maioria as publicações literárias das editoras são de autores masculinos.
“Há diferenças de oportunidades, como casos em que escritoras usam nomes masculinos para terem visibilidade ou têm a sua obra apresentada por homens, como a Carolina de Jesus, diz Marina Marques, poeta da cidade de Penápolis. Para Carla Silva, poeta de Araçatuba, a cidade possui pouca opção de livraria e é muito difícil encontrar livros escritos por mulheres. “Tenho lido muitas mulheres, Conceição Evaristo, Elisa Lucinda, Carolina Maria de Jesus. Porém encontrar um livro delas pra comprar aqui em Araçatuba é impossível. Fui à livraria da cidade e não encontrei nenhum dos nomes que buscava. As vendedoras nem sabiam quem eram”, desabafou.
A escritora Rita Lavoyer diz que não tem problema com os homens no seu meio. “Não tenho problema algum com isso. Escrevo do jeito que quero e gosto. Se eles não gostam, problema é deles”, diz. Para ela os problemas existem e servem de aprendizado e alerta. Para as escritoras a importância da mulher na literatura está na representatividade, para que outras mulheres sintam-se incentivadas em escrever e se identifiquem com as obras quando leitoras. “A mulher é importante na escrita como é importante em qualquer lugar. Mulheres precisam de referências na literatura. E existem muitas, maravilhosas, fantásticas e geniais que precisam, para além de espaço nas academias, apoio das editoras e lojas de livros, completa Carla Silva.
CONHEÇA ALGUMAS ESCRITORAS DE ARAÇATUBA
Para abordar a importância da mulher em qualquer espaço é importante pensar na diversidade. Existem muitos segmentos da cultura literária predominantes na região, que vão da arte de rua ao universo acadêmico, assim como a variedade de gerações. A Academia Araçatubense de Letras conta com a participação de outras escritoras, como Emília Goulart, Yara Carvalho e Ana Lúcia Ramos, assim como há muitas outras independentes nas cidades.
Marina Marques tem 35 anos, é poeta e Gerente de Organização Escolar em Penápolis. Desde menina já escrevia bilhetes, cartas, diários de sonhos, poemas rebeldes na adolescência, textos e artigos de opinião que terminavam engavetados. A partir de 2014 passou a publicar poemas e micro contos nas redes. Em sua publicação ‘Meu adorado mundo invertido’, ela conseguiu externar sua raiva com o machismo cotidiano. “São poemas curtos, cenas comuns com acidez e sarcasmo, para causar um incômodo, quem sabe até abalar o marasmo das cidades pequenas deste noroeste paulista”, finaliza.
Carla Silva tem 33 anos e é uma das idealizadoras da Casa Maré, centro cultural de Araçatuba. Conectou-se com a escrita de uma forma pessoal em busca de desabafar seus questionamentos e observações com a vida cotidiana. Em 2013 lançou de forma independente, com ajuda de amigos, seu projeto de livrecos ‘Poesias Apressadas’, que também estão nas redes sociais. “Me identifico com o ambiente marginal, com a linguagem das ruas, com os mais simples dos sentimentos , seres e lugares”, conta.
Rebeca Borges, é estudante de direito e atuante da poesia de Slam, um novo seguimento da cultura marginal que conecta à escrita com a interpretação e apresentação dos versos. Para ela, sua conexão com a literatura está ligada a sua sede de conhecimento, começou escrevendo nas aulas de história da escola, onde tinha retorno positivo de sua professora. Hoje, aos 25 anos, se baseia na filosofia, psicologia e pedagogia para escrever.
Marianice Paupitz é membro da Academia Araçatubense de Letras, professora formada em Letras e aposentada. Aos 71 anos escreve contos e poemas. Começou sua carreira aos 17, escrevendo poemas pseudônimos para o jornal Comarca. Para ela, escrever é colocar para fora todo o acumulo que carrega sempre com a intenção de explicar ou alertar sobre alguma situação. Atualmente, Marianice tenta escrever um romance.
Rita Lavoyer é professora escritora de Araçatuba. Com 53 anos, possui 10 publicados em sua carreira. Iniciou contando histórias para seus filhos, depois começou a escrever para crianças. Encontrou-se também nos contos, nas crônicas e na poesia. Para ela as palavras concretizam sentimentos, e escrever se tornou essencial quando a leitura não era mais o suficiente. Desse modo produziu textos libertadores. “Funcionam, dão mais resultados que sair xingando ou dando murro em alguém”, comenta Rita. Ela também reforça que escrever é disciplina, cuidado e senso com as palavras, além de concentração.
(Francielle Ribeiro, estagiária, colaboração/Folha da Região)
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