Ontem (quarta-feira) depois de ler mais um maravilhoso e impecável texto de Divaldo Franco, me pus a refletir sobre as palavras deste ícone do Kardecismo (como sempre ocorre quando leio Divaldo), que trata do comportamento e atitude do Homem na Vida moderna e tudo que a compõe e cerca.
Logo relacionei o que li com a gastronomia, afinal, era véspera da criação de um novo texto para o artigo de hoje, ou seja, a Vida como uma cozinha farta de ingredientes, materiais, utensílios e equipamentos de última geração, tudo a mão para criação de novas e maravilhosas receitas, verdadeiros manares que dariam todo prazer, conforto e felicidade aos afortunados comensais.
E é fazendo este liame que Divaldo mostra como o mal e o indevido uso daquilo que deveria ser empregado em prol do bem estar, vem se transformando em um instrumento de desagregação, egoísmo, egocentrismo e numa arma poderosa em favor da degradação moral, ética e, sobretudo, do abandono da caridade e do amor ao próximo.
Destaquei alguns trechos: “…E pode-se notar os resultados numa sociedade ansiosa, cansada, excitada e em contínua fuga da realidade, procurando soluções que não conseguem acalmar o ânimo nem manter o bem-estar….A tecnologia voltada para facilitar as atividades também abre espaço para os prazeres e divertimentos que tomam muito tempo, tornando-se fugas psicológicas para uma autorrealização impossível. Como consequência imediata, o individualismo domina grande número de pessoas que se acomodam nos jogos e futilidades da comunicação virtual, não se aprofundando nos objetivos reais do existir. Este nervosismo disfarçado com sorrisos televisivos e destituídos de real alegria desorganiza o emocional, e a serenidade indispensável a uma existência feliz desaparece. Discute-se por quase nada, vive-se armado como se os relacionamentos devessem ocorrer num campo de batalha… Afinal, as conquistas da ciência e da tecnologia têm por fim o bem-estar do cidadão e a sua perfeita integração na coletividade.”.
Deixa assim muito claro e pronto para uma longa e demorada reflexão, de como estamos nos deixando afetar pelo desvio de objetivo de uma ferramenta ou ferramentas pensadas e concebidas para a melhoria das relações, do encurtamento de distâncias para que se atenuem a saudade, a perda de contato com entes queridos e amigos estimados, com os quais, a bem pouco tempo não tínhamos mais o paradeiro.
Para as relações profissionais uma verdadeira revolução na forma de gerir, dar apoio, treinamentos, cursos à distância, até mesmo para a educação com a possibilidade de se obter uma formação acadêmica e pós-graduação, enfim, todo e qualquer tipo de informação na palma da mão, mas, o que vemos é o que Divaldo brilhantemente expõe acima.
É como ter a disposição todos os insumos necessários para se criar e preparar os mais deliciosos pratos, e ao invés disso combina-los da forma mais incoerente possível, misturar doce de leite com caviar, sardinha em lata com Tiramissú, colocar sal no bacalhau, rechear um robalo com chantilly, enfim, tornar o que poderia ser o paraíso de sabores, em um verdadeiro inferno de aromas e cenas de terror.
E olha galera, que a culinária é talvez uma das artes mais permissivas em termos de combinações, que na maioria das tentativas são muito bem sucedidas, mesmo quando ocorre uma incoerência aqui ou acolá.
Para fechar este artigo de forma coerente, vou fazê-lo com a conclusão final do artigo deste grande médium que fundamentou o texto de hoje: “Há uma ânsia perturbadora para se ter, possuir e brilhar. No entanto, é necessário ser sereno e amar, para bem viver!”.
Receita: Loco (canjica salgada) à moda do chef Ju
Você vai precisar de:
- 200 g de canjica branca;
- 200 g de canjica amarela;
- 100 g de bacon em cubinhos;
- 300 g de costelinha suína;
- 250 g de charque (carne seca) em cubinhos;
- 300 g de linguiça calabresa fina em rodelas;
- 1 cebola grande picada grosseiramente;
- 3 dentes de alho amassados;
- 1/2 maço de cebolinha picadinha;
- banha de porco (ou óleo de milho) qb.
Preparo: Deixe a canjica de molho por no mínimo 4 horas. Numa panela de pressão aqueça a uma colher de sopa de banha ou 3 de óleo, doure o bacon, doure o alho, junte a cebola, a linguiça e a carne seca, mexa e refogue por 5 minutos, coloque as costelinhas e refogue mais 5 minutos, retire as costelinhas e reserve, continue com o refogado do restante, junte metade da cebolinha e a canjica, mexa e acrescente 1,5 litro d’água, deixe atingir fervura somente com a tampa sobreposta, deixe assim por cinco minutos e depois tampe para dar pressão por 30 minutos em fogo médio. Apague o fogo e deixe que a pressão baixe naturalmente, abra a panela, passe para um recipiente refratário e sirva com torradas ou até mesmo com arroz. O ideal, como os criadores do prato (bolivianos), é consumir em pequenas tigelas com pimenta picada em natura e cebolinha picadinha também em natura.
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