Um levantamento da CNDL (Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas) e do SPC Brasil (Serviço de Proteção de Crédito) aponta que a cada dez consumidores, que começaram o mês de agosto com o CPF inscrito na lista de inadimplência, 37% devem até R$500. O levantamento mostra ainda que 53% dos brasileiros com contas atrasadas têm dívidas que não superam R$ 1 mil. A pesquisa destaca que 20% devem algum valor entre R$ 1.000 e R$ 2.500 e 16% devem entre R$ 2.500 e R$ 7.500.
Dentre esses 16% está uma operadora de telemarketing, de Araçatuba, que preferiu não se identificar. Segundo ela, suas dívidas giram em torno dos R$ 4 mil e já tem três anos que está com o nome “sujo na praça”. “Eu tento negociar, mas nem sempre consigo manter o acordo. Tem mês que falta dinheiro e na maioria das vezes tenho que pagar o mínimo do cartão para não ficar sem”, diz.
Outra operadora de telemarketing, Karina Oliveira e que, junto com o seu marido, é proprietária de um estabelecimento comercial, explica que sua maior dívida é com relação ao seu comércio. No total, sua dívida com o banco é de R$ 12 mil reais e ela está na sua segunda negociação na tentativa de quitar o débito. “Fiz um acordo na primeira vez e não consegui pagar. Agora fiz outro, são quinze parcelas de R$ 800, espero agora conseguir pagar esse parcelamento, porque realmente a situação não está fácil”, afirma.
Além do seu débito envolvendo a empresa, a operadora aponta ainda sobre as contas do dia a dia que estão em atraso. “Contas de água e luz é sempre pagando uma e deixando outra. Eu ainda tenho crédito em uma farmácia, já que tenho filha que necessita de remédios, e por vezes precisei parcelar minha conta para conseguir pagar”.
Do outro lado da balança está à pedagoga Ana Cláudia de Jesus Nogueira, que estava com dívidas que somavam o valor de quase R$ 5 mil, mas conseguiu sair do vermelho e recuperar seu credito. “Precisei trocar de emprego e fazer negociações para quitar os valores que eu tinha em aberto. Uma das minhas dívidas era com a faculdade, ou seja, eu tinha que pagar para conseguir me formar”, destaca.
De acordo com o professor e economista Marco Aurélio Barbosa de Souza, para que as pessoas consigam sair do vermelho é necessário que façam uma análise, de forma criteriosa, de seus gastos para avaliar a estrutura da despesa. “É importante detalhar com o máximo de precisão (em um caderninho ou mesmo no computador – planilha/documento do word) os gastos mensais com alimentação, lazer, transporte, saúde, educação, manutenção do lar (água, luz, telefone, internet), aluguel, etc. Com esse exercício de detalhamento é possível ter uma visão geral das despesas familiares”, explica.
Segundo Souza, com essa análise é possível avaliar gastos que podem ser reduzidos ou até cortados sem gerar um impacto grande no bem estar do individuo ou da família. “Além disso, com base nesta estrutura detalhada de despesas, é possível também projetar mês a mês os gastos ao longo do ano e ir anotando tudo conforme os gastos se efetivam para fazer a confrontação e verificar se eles estão dentro da previsão do mês. O mesmo procedimento deve ser realizado no quesito receitas (renda). Com o levantamento dos gastos e receitas em mãos, ou seja, o orçamento do mês, é possível verificar se o resultado é positivo ou negativo facilitando o controle das finanças pessoais”.
No caso da operadora, que não quis se identificar e afirmou fazer o pagamento do valor mínimo do cartão, o economista destaca que os riscos para esse tipo de pagamento são altos considerando que as taxas de juros desta modalidade estão entre as mais altas do mercado. “Ao optar por esse pagamento mínimo a pessoa acaba acionando um processo que leva ao endividamento trazendo diversos problemas financeiros. Muitas vezes é melhor até pegar um empréstimo no banco e pagar a totalidade da fatura, pois a taxa de juros deste empréstimo pessoal (sabendo negociar) é mais baixa que a do cartão. Portanto, pagar o mínimo deve ser evitado a qualquer custo. Caso ocorra, tem que buscar alternativa para quitar a dívida no mês seguinte na próxima fatura do cartão de crédito”, afirma.
O economista destaca que são vários descuidos que acabam comprometendo a saúde financeira da família. Entre os mais comuns estão: falta de planejamento, ou seja, de controle dos gastos; compra por impulso, em que a família compra coisas desnecessárias, não pesquisa preço ou muitas vezes quem imitar o padrão de vida de outras pessoas sendo incompatível com sua renda; descontrole no uso do cartão de crédito e cheque especial que são as duas modalidades de crédito mais caras existentes no mercado, com taxas de juros altíssimas que levam ao endividamento da pessoa; ausência de controle e de aproveitar momento de fluxo de renda positivo para criar uma pequena reserva financeira para momentos de dificuldades (aplicações em poupança, títulos públicos, renda fixa e outras formas de aplicação disponíveis no mercado financeiro); falta de pesquisa antes de comprar algo, de verificar preço e pesquisar.
“Estando negativo, há necessidade de buscar alternativas para o equilíbrio do orçamento ou melhor ainda, para que ele fique positivo e gere reservar para investimentos, para criar poupanças para momentos de incertezas e dificuldades. Perceba que com o levantamento de despesa em mão e sabendo de sua realidade financeira a pessoa ou família poderá visualizar fontes de gastos excessivos, gastos que podem ser negociados para redução, consumo de coisas muitas vezes supérfluas abrindo espaço para negociação com prestadores de serviços, cuidados na hora de comprar no supermercado, pesquisa de preço, reaproveitamento de algo que tem parado em casa. O orçamento é o sinalizador do quanto é minha capacidade mensal de gasto dentro dos itens que compõem minha estrutura de despesa”, conclui.
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