Uma pesquisa divulgada recentemente aponta que prevalência da obesidade volta a crescer no Brasil. A Pesquisa do Ministério da Saúde mostra que houve um aumento, registrado entre 2006 e 2018, de 67,8% neste índice.
Os dados apontam ainda que o crescimento da obesidade foi maior entre os adultos de 25 a 34 anos, um aumento de 84,2%. O Ministério da Saúde destaca que, apesar de o excesso de peso ser mais comum entre os homens, em 2018, as mulheres apresentaram obesidade “ligeiramente” maior, com 20,7%, em relação aos homens, 18,7%.
O médico endocrinologista, Antonio Mendes Fontanelli, que é formado em medicina pela USP (Universidade Pública de São Paulo) e especialista pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, explica que o aumento da obesidade se deve principalmente às mudanças ambientais, pela maior disponibilidade de alimentos ultraprocessados (macarrão instantâneo, bolachas, barras de cereais), diminuição do tempo de sono e alterações na macrobiótica intestinal.
“O uso indiscriminado de antibióticos na infância também favorece o risco de desenvolver obesidade e diabetes juvenil por alteração nos micro-organismos que fazem a digestão dos alimentos. Os brasileiros estão consumindo menos ingredientes considerados básicos. Apenas um em cada três adultos consome frutas e hortaliças cinco dias na semana. Esse quadro mostra uma transição alimentar no Brasil, que antes era da desnutrição e agora está entre os países que apresentam alta prevalência de obesidade”, destaca.
A obesidade nada mais é que o acumulo de gordura no corpo, causado, quase sempre, por um valor excessivo de calorias na alimentação. O médico aponta que a obesidade, por se tratar de uma doença pró-inflamatória, há um aumento no desenvolvimento de diabetes tipo 2, fígado gorduroso, cânceres (mama, fígado, cólon etc), artrite, infertilidade, apneia do sono e pode afetar negativamente a saúde mental devido à estigmatização da doença.
“Não existe obeso saudável. É sempre importante manter o peso ideal para evitar complicações cardiovasculares, doenças osteomusculares, impotência sexual, apneia do sono, diabetes, hipertensão e insuficiência cardíaca. Além de todas essas complicações, os obesos apresentam maior risco de desenvolver vários tipos câncer”, ressalta.
O médico ainda explica que há possibilidade de pessoas obesas terem filhos obesos, ele destaca estudos em gêmeos, que revelaram que entre 40% e 70% da variabilidade do peso é herdada. “O peso corporal, a distribuição de gordura e o risco de complicações são fortemente influenciados pela genética. A expressão gênica no cérebro atua na regulação do apetite. A leptina é um hormônio responsável pela saciedade. Em sua ausência, que é uma condição genética rara, ocorre ganho de peso desde a infância. Os obesos geralmente apresentam níveis elevados de leptina, porém desenvolvem resistência a esse hormônio, o que leva à diminuição da saciedade e favorece o ganho de peso. Entretanto, o recente aumento de obesidade não se deve apenas à genética, mas a todas as mudanças ambientais”.
Sobre o fato do índice ter aumentado entre as mulheres, o especialista aponta que o gênero feminino possui naturalmente uma porcentagem de gordura corporal maior que os homens. “Uma das características da menopausa é o ganho de peso, que pode ser revertido com o tratamento. O uso de antibióticos durante a gravidez está associado a um aumento do peso ao nascer, pois a exposição aos antibióticos altera a macrobiótica intestinal do recém-nascido, favorecendo uma menor diversidade de bactérias, o que desencadeia o ganho de peso”, aponta.
O secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Wanderson Oliveira, afirma que compete ao órgão ampliar o incentivo ao consumo de alimentos mais saudáveis e também promover a economia local, com o consumo de hortaliças.
Para o endocrinologista, apesar da obesidade ser uma doença crônica comum, são poucas as pessoas que são devidamente tratadas. “Infelizmente os obesos se sentem culpados de sua condição e têm vergonha de buscar ajuda. Além disso, acreditam que apenas comer menos e gastar mais energia irá curar a obesidade. Tais atitudes são eficazes para a prevenção, mas uma vez instalada a doença, ela deve ser tratada com medicamentos seguros e aprovados pelo FDA. O tratamento irá melhorar sua saúde e reduzir os riscos cardiovasculares e metabólicos. Os medicamentos ajudam a reduzir a fome, aumentar a saciedade e o gasto energético. O paciente obeso deve ser tratado com respeito e dignidade”, conclui.
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