Quem nunca jogou seu dente de leite em cima do telhado, guardou o dentinho recém caído do filho em uma linda caixinha ou trocou esse dentinho guardado tão cuidadosamente pela criança embaixo do travesseiro por uma moeda (ou nota) que fez seus olhos brilharem pela visita recebida da famosa Fada dos Dentes? Os dentes, embora muitos não saibam, são órgãos do corpo humano. E como órgãos, podem ser doados para estudos científicos. A FO-USP (Faculdade de Odontologia da USP) tem um pioneiro banco de dentes humanos permanentes e de leite provenientes de várias partes do país que são utilizados para fins didáticos e de pesquisa. A faculdade utiliza dentes de leite em pesquisas científicas que ajudam milhares de pessoas. Isso porque a polpa do dente de leite, que é aquele tecido vermelho no interior do dentinho que caiu ou foi extraído, ao ser tratada por meio de um processo de reprogramação da célula, torna-se rica em células embrionárias, ou células tronco. Essas células tronco são então tratadas e transformadas em células de diversos tecidos. No caso das pesquisas da USP, foram transformadas em neurônios, em mini-cérebros. A grande dificuldade de estudar doenças que afetam o Sistema Nervoso é justamente ter acesso a essas células, o que só seria possível através de biópsia do tecido cerebral, o que torna esse estudo inviável. Com a criação desses neurônios, e dos mini-cérebros, tornou-se possível o estudo em laboratório. Desse modo, surgiu em 2008 o Projeto Fada do Dente, com o objetivo de estudar os mecanismos biológicos envolvidos no Transtorno do Espectro do Autismo (TEA). Em 2010, a Distrofia Muscular de Duchenne (DMD) entrou também em estudo no projeto. E em 2016, um estudo feito pelo projeto relacionando o Zika vírus à ocorrência de microcefalia (onde o bebê nasce com o diâmetro do crânio inferior ao de um bebê normal) foi publicado na revista Nature, uma das principais revistas científicas do mundo. Recentemente a FO-USP lançou uma campanha para incentivar a doação de dentes para a instituição. Eles serão muito úteis para que o Banco de Dentes possa usá-los para descobrir novas maneiras de melhorar a vida de muitas pessoas. Para maiores informações basta visitar o site : www.enderecodafadadodente.com.br ou www.projetofadadodente.org.br
Ana Laura de Almeida é cirurgiã dentista
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