Endometriose é uma condição na qual o endométrio, mucosa que reveste a parede interna do útero, cresce em outras regiões do corpo. Alguns sintomas da doença são: dores no período menstrual, infertilidade e dores nas relações sexuais com penetração.
Essa formação de tecido ectópico normalmente ocorre na região pélvica, fora do útero, nos ovários, no intestino, no reto, na bexiga e no peritônio, delicada membrana que reveste a pélvis. Entretanto, esse tecido também pode crescer em outras partes do corpo.
A endometriose é um problema comum. Às vezes, ela pode ocorrer em gerações seguintes de uma mesma família. Embora, normalmente, a endometriose seja diagnosticada entre 25 e 35 anos, a doença provavelmente começa já alguns meses após o início da primeira menstruação.
A endometriose e a infertilidade estão associadas em 50% dos casos, ou seja, 50% das mulheres com endometriose têm infertilidade e 50% do casos de infertilidade feminina podem ter a endometriose como uma das principais causas.
O principal fator de infertilidade causado pela endometriose é o tubário, ou seja, as tubas uterinas ficam danificadas. Isso porque o processo inflamatório crônico da doença leva à formação de aderências do peritônio com outros órgãos pélvicos, o que pode resultar na obstrução das tubas uterinas e na redução da sua mobilidade. Isso dificulta ou até mesmo impede o transporte do óvulo e espermatozoides, e consequentemente a fecundação.
A Folha da Região conversou com a Ginecologista, Obstetra e Mastologista, Dra. Mariana Morette Giampietro que respondeu sobre algumas dúvidas sobre a endometriose.
O que é a endometriose?
Endometriose significa células do endométrio (camada interna do útero) fora do próprio endométrio. Essas células podem se alojar nas trompas, nos ovários (endometrioma), no miométrio (adenomiose), atrás da vagina, em volta do colo do útero, no intestino, na bexiga etc. Não existe uma única causa para a doença. A principal hipótese aceita é a teoria da menstruação retrógrada, que volta pelas trompas e cai da cavidade pélvica. Mas sabemos que é uma doença muito mais complexa, multifatorial, dependente de um hormônio chamado estrogênio, além de fatores autoimunes, genéticos e inflamatórios. Maus hábitos de vida como sedentarismo, estresse e alimentação inadequada também são parte da causa e da piora progressiva da doença.
Quem pode ter endometriose?
Qualquer mulher na idade reprodutiva pode ter endometriose. Ou seja, desde a primeira menstruação até a menopausa a mulher pode apresentar a doença. Cerca de 15 em cada 100 mulheres têm endometriose. A endometriose ainda é, infelizmente, uma das doenças mais subdiagnosticadas pelos ginecologistas. Isso significa que a mulher se queixa dos sintomas e muitas vezes o médico diz “isso é normal, toma pílula anticoncepcional que resolve”, perdendo a oportunidade de diagnosticá-la.
Quais os sintomas?
Cólica menstrual exacerbada (dismenorréia) que não passa com medicação de uso habitual, que faz a adolescente faltar da escola ou do trabalho ou que faz mulher procurar o pronto socorro para tomar remédio na veia. Cólicas fora do período menstrual (dismenorréia acíclica). Alterações urinárias ou da evacuação durante o período menstrual. Dor na relação sexual (dispareunia) na profundidade da penetração, principalmente na posição de quatro apoios e infertilidade. Lembre-se: ter cólica menstrual exagerada, mesmo na adolescência, não é normal!
Como o médico desconfia da endometriose?
A suspeita é essencialmente clínica. Ou seja, durante uma simples consulta de rotina o ginecologista deve sempre perguntar para a mulher como são os ciclos menstruais naturais (sem uso de pílula) dela, se ela tem cólica exagerada, se existe dor na relação sexual e como é essa dor etc. Depois deve examiná-la por completo e com toque vaginal específico. Somente com essas informações já podemos ter alta suspeita de se tratar da doença. Para complementar o diagnóstico e termos noção da extensão, solicitamos exames de imagem. O melhor é o ultrassom transvaginal com preparo intestinal, que obrigatoriamente deve ser feito por ultrassonografista experiente em endometriose. Caso o ginecologista não disponha desse profissional, a ressonância nuclear magnética da pelve com contraste deve ser solicitada. O diagnóstico definitivo é feito com laparoscopia e biópsia, mas nem sempre é necessário.
A endometriose pode causar infertilidade?
Sim. Não são todas as mulheres com endometriose que serão inférteis. Mas a maioria terá dificuldades para engravidar espontaneamente (naturalmente). 30 a 50% das mulheres com infertilidade têm endometriose. A endometriose pode interferir de diversas maneiras: alterando a anatomia da pelve, causando aderência entre os órgãos (como as trompas uterinas), causando inflamação das estruturas pélvicas, alterando o sistema imunológico, causando mudanças no ambiente dos óvulos e em sua qualidade, etc. Em casos graves de endometriose, as trompas de Falópio podem estar bloqueadas por aderências. Essas precisarão de cirurgia e algumas de fertilização in vitro.
Qual o melhor tratamento para endometriose?
Isso depende da intensidade da dor, da extensão da doença e da vontade de engravidar. Cirurgia fica restrita para casos de infertilidade, para casos de dor incapacitante em que a paciente não consegue controlar de maneira conservadora (sem cirurgia) ou para casos de endometriose profunda ou muito extensa. Se não for necessária cirurgia, basicamente devemos manter a paciente em amenorreia (sem menstruar), e para isso o ginecologista irá traçar a melhor estratégia para cada mulher. Para o controle da dor é imprescindível praticar atividade física aeróbica regularmente, que libera endorfina, um potente analgésico natural, alimentar-se adequadamente evitando alimentos inflamatórios e fazer uso de medicação se necessário.
A endometriose tem cura?
Sim.
Como é a cirurgia para endometriose?
Deve ser feita por videolaparoscopia por cirurgião experiente. É feita uma “limpeza” da região acometida pela doença. A depender da extensão e profundidade será uma cirurgia simples ou mais complexa. Lembrando que toda cirurgia envolve e riscos e só deve ser feita se houver real indicação.
Endometriose engorda?
Com certeza não.
Endometriose vira câncer?
Não. Endometriose é uma doença 100% benigna.
Muita cólica pode ser endometriose?
Sem dúvida, é o principal sintoma. Se seu ginecologista diz que cólica em exagero é normal, insista com ele e questione sobre endometriose.
Existe tratamento natural para endometriose?
A medicina tradicional entende que não, já que a endometriose é uma doença multifatorial e dependente de estrogênio. Para casos mais simples, é possível sim fazer controle de dor de forma natural, apenas com alimentação adequada e atividade física aeróbica, que libera endorfina, um potente analgésico natural. Mas para evitar a progressão da doença é necessário entrar em amenorreia (parar de menstruar), e para isso não há forma natural.
A mulher com endometriose pode perder o bebê se engravidar?
A endometriose em geral pode ser causa de infertilidade, mas não de aborto. Chamo aqui a atenção para a adenomiose, um tipo de endometriose um pouco diferente, que se localiza no miométrio (camada do útero). Essa sim pode causar aborto. Cerca de 30% das mulheres com adenomiose não têm sintomas, engravidam e acabam abortando. O ideal nesse caso é primeiro tratar a adenomiose e engravidar depois.
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