A Síndrome de Burnout é um estado físico, emocional e mental de exaustão extrema, resultado do acúmulo excessivo em situações de trabalho que são emocionalmente exigentes e/ou estressantes, que demandam muita competitividade ou responsabilidade, especialmente nas áreas de educação e saúde. O termo vem do idioma inglês: burn (queimar) out (por inteiro).
Muitas vezes, se faz confusão entre Síndrome de Burnout e estresse. O que acontece, na verdade, é que os sintomas do estresse estão presentes na Síndrome de Burnout.
O Burnout é um distúrbio psíquico, foi descrito em 1974 por Freudenberger, um médico americano. O transtorno está registrado no Grupo V da CID-10 (Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde). A principal característica é o estado de tensão emocional e estresse crônicos provocado por condições de trabalho físicas, emocionais e psicológicas desgastantes. A síndrome se manifesta especialmente em pessoas cuja profissão exige envolvimento interpessoal direto e intenso.
O distúrbio representa um desgaste no empenho e nas qualidades como autoconfiança, perseverança, dedicação. Muitas vezes a estrutura da empresa, a carga horária e o modo como os gestores conduzem a equipe não favorecem o melhor aproveitamento das competências dos funcionários.
O início dos sintomas pode se dar pelo acúmulo de tarefas, responsabilidades, exigências e pressões sofridas pela alta demanda de trabalho. Há três componentes principais: esgotamento físico e mental, sensação de impotência e falta de expectativas. Pode-se dizer que é um colapso físico e emocional e em muitas vezes há necessidade de atenção médica imediata e risco de suicídio.
A Folha da Região conversou com os psicólogos Rafael Sitta Marques CRP: 06/134775 e Cassiano Ricardo Rumin – Mestre em Ciências Médicas FMRP/USP CRP: 06/63046 para esclarecer algumas dúvidas sobre o tema. Confira a entrevista a baixo.
Síndrome de Burnout, o que é?
É uma doença ocupacional de quem trabalha em serviços assistenciais (profissionais da área da saúde, educação, cuidadores de modo geral), em que lhes determinam um alto envolvimento do prestador com a atividade até um certo ponto que tenha uma situação crônica de desgaste. Neste caso o nome cai bem: Burn-out = Queimar até o fim, até sua extinção.
Como reconhecer a Síndrome de Burnout?
Através de sinais como a diminuição significativa do humor, quadros fóbicos em relação ao trabalho, fadigabilidade aumentada e até doenças psicossomáticas.
Quem pode ter?
Os profissionais que realizam trabalhos assistenciais. Inicialmente foi caracterizada nos profissionais da saúde, mas também ocorrem nos profissionais da saúde mental, cuidadores, educadores de um modo geral.
Quais os fatores de risco (‘detonadores’)?
Inicialmente está ligada a extensão do trabalho prolongado, por exemplo, um número muito grande de alunos ou pessoas enfermas a serem cuidadas;
Gestão de trabalho autoritária, que não considera as dificuldades do trabalhador para atender aquela demanda;
Importante também considerar a própria história do trabalhador, já que muitas pessoas buscam livrar-se de uma condição de impotência quando estão no trabalho, assim, investem pesadamente no ofício, acreditando que aquilo pode coloca-lo em uma posição de satisfação.
Estes elementos combinados com um ambiente organizacional hostil, perturbam o espaço fora do trabalho. Esta perturbação não está somente ligada a extensão da jornada, mas também as relações interpessoais que demandam cuidados e atenção constante ao sofrimento das pessoas. Quando fora daquele ambiente desgastante não se tem vontade de interagir socialmente.
Quais os efeitos do burnout?
Nos trabalhos não assistenciais o comum é que após um tempo em um novo serviço haja uma adaptação, não tendo que desprender tanta energia para realiza-lo como no início. Já nos trabalhos assistenciais esse envolvimento não diminui, já que este tipo de demanda (alunos, pacientes, pessoas em cuidado) sempre lhe requer novas formas de agir, não havendo possibilidade de adaptação. Um exemplo são cuidadores de pessoas em quadros degenerativos ou terminais, que por mais que o cuidador despenda energia para o cuidado, com o tempo a doença se agrava, dificultando esta acomodação.
Em um segundo momento, o indivíduo realiza seu trabalho, mas não se reconhece como alguém que obtém prazer naquela ação, não se identifica mais com ela, não há um sentimento de relevância.
Por fim no quadro denominado “Exaustão Emocional” é frequente haver uma condição depressiva severa acompanhada ou não de episódios fóbicos relacionados ao trabalho e sentimentos de esgotamento físico. Tudo isso colabora para que haja perdas qualitativas no trabalho realizado, em virtude de não conseguir dirigir a atenção e o cuidado exigidos pelas pessoas que demandam cuidados o, mas não produzindo, adoecido (presenteismo). Nesse ponto as afecções psicossomáticas, como doenças de pele, do estômago, crises de enxaqueca, doenças cardíacas são frequentes.
Como saber se você está no caminho para o burnout?
O sintoma que o trabalhador pode notar ocorre antes da última fase (a de exaustão emocional) que seria a de despersonalização. Portanto, quando o profissional já não sentir-se realizado com o trabalho e mesmo assim é obrigado a realizar um serviço que tenha uma sobrecarga de suas capacidades cognitivas, afetivas e até físicas, ele já pode se ater que está tomando o caminho para uma possível Sindrome de Burnout.
Sinais e sintomas Físicos de Burnout
Na primeira fase (Envolvimento pessoal com o trabalho) haverá o cansaço físico e mental pelo elevado investimento de seu tempo no trabalho.
Na segunda fase (Despersonalização) haverá o agravamento do cansaço contido na fase anterior e a insatisfação com a atividade desempenhada.
Na terceira fase (Exaustão Emocional) a cronicidade deste cansaço e a possibilidade de eclosão de algumas doenças psicossomáticas podem inviabilizar a execução do trabalho e ocasionar o afastamento.
Sintomas emocionais
Na primeira fase (Envolvimento pessoal com o trabalho) ele tem um sentimento de autoeficácia, de satisfação, que faz com que ele se dedique cada vez mais ao trabalho. Isto se combinará com o contexto que solicita que ele realize diversas atividades e relações com as pessoas e que apesar de ainda manter-se produtivo, já encaminha-se para uma situação de risco.
Na segunda fase (Despersonalização) em que já sente os efeitos críticos da dedicação excessiva ao trabalho vai sentir uma desrealização, sente-se esgotado a ponto de prejudicar suas relações sociais.
Na terceira fase (Exaustão Emocional) o sujeito vivencia uma situação de embotamento afetivo tão intenso que ele deixa de acreditar até em sua própria possibilidade de transformar as coisas que estão a sua volta. Nesta fase também ocorre uma percepção do próprio trabalhador de que seu estado de saúde não pode ser mais recuperado e com frequência ocorrem quadros depressivos.
Qual diferença entre estresse e Burnout?
Esta diferença esta pautada especificamente no tipo de trabalho. Nos casos de estresse existe o sujeito que se envolve ativamente no trabalho e um ambiente organizacional que lhe exige também um envolvimento intenso e prolongado. Até aí esta organização não se diferencia do quadro de Burnout. No caso do Burnout tem-se o acréscimo de ser um trabalho assistencial, que se concentra na dedicação para as pessoas superarem suas dificuldades, seja medicando, educando, cuidando de modo geral e que por isso desgasta o sujeito tanto psíquica, quanto fisicamente.
Qual o tratamento?
Quando se pensa em Sindrome de Burnout, considera-se sobrecarga de trabalho, então se existem pessoas com Burnout há uma organização de trabalho que determina uma sobrecarga, uma exigência elevada a este trabalhador. Se não for possível pensar antes sobre isso não será possível pensar em sua diminuição. Temos de pensar o contexto de trabalho como determinante do sofrimento do sujeito.
Entretanto, também sabemos que grande parte das organizações pouco se importam em como as pessoas trabalham e adoecem e assim, o único recurso possível seriam as intervenções individuais que podem variar com tratamento médico em relação as doenças psicossomáticas, até os tratamentos psicoterápicos considerando que o agravo da saúde mental tanto em síndromes depressivas, como em fenômenos fóbicos que são frequentes neste adoecimento.
Considerações sobre a síndrome
A síndrome de Burnout ainda perpassa por duas questões que merecem atenção. Em primeiro – Classificação Internacional de Doenças (CID), livro publicado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que visa padronizar as características de doença e outros problemas relacionados à saúde, limita a sigla Z73.0 (Síndrome de Burnout) aos profissionais de saúde, portanto, não haveria enquadre de um professor, por exemplo, a esta doença. Este não reconhecimento do trabalho do educador pode promover uma desqualificação da causa ocupacional, ou seja, quando o professor adoecer ele não terá aparatos que vinculem essa doença a seu contexto de trabalho, mas sim a sua própria responsabilidade.
Já no Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM) que propõe a padronizar as características das doenças mentais em sua última versão (V), não consta a síndrome de Burnout desta forma não considerando esta como uma doença de ordem psíquica.
Façamos parênteses a estas duas pontuações, pois quando se deixa de qualificar de forma satisfatória esta doença as pessoas que sofrem com esta afecção não tem aparatos que possam protegê-las, tanto de forma legal já que como dito anteriormente, grande parte do desenvolvimento da doença parte das requisições da organização e que tem de arcar legalmente com esta responsabilidade, quanto no seu tratamento psíquico e físico, já que tendo ciência que a origem de tais afecções podem ter iniciado com o desenvolvimento da Síndrome de Burnout.
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