O instinto humano já traz a violência. Não é preciso estimular. Uma pessoa em situação de risco vai, instintivamente, agredir a outra para se defender. Isso porém não é preciso incentivar. Muito ao contrário. Devemos cultivar o respeito mútuo, a tolerância, a não violência diante das mais revoltantes situações de contrariedade. O diálogo, o perdão, o sentimento fraterno, humanitário.
Quando digo que é preciso reagir à violência de forma igualmente violenta, eu interrompo a capacidade de cada indivíduo ter o livre arbítrio e aceno para ele, a possibilidade de andar armado e de se defender matando, ferindo. Esse mundo existe, mas eu não posso usar de meu poder de autoridade e representação social, para estimular essa reação instintiva.
Ao defender que a sociedade se arme, eu patenteio uma guerra. Eu acho que o bandido deve ter sempre um poder de fogo menor que as pessoas de bem. Então essa ideologia, que nada mais é que um novo “viés ideológico” do Governo, é defensora do uso da força contrária, no mesmo grau de intensidade ou até maior, para sobrepor contra tudo que ameaça minha paz.
Como essa mensagem de liberalização da violência, também por parte das pessoas de bem, pode chegar até nossas crianças? Será que não exerce influência alguma? O pai que segura o agressor do filho para que ele revide a bancada, expõe a prática dessa teoria.
As tragédias sempre existiram. Concordamos com isso. Mas cada vez que elas acontecem, precisamos refletir sobre a mensagem que ela pode nos transmitir. Disso depende a civilidade. Quando eu trabalho a ideologia do “dente por dente, olho por olho”, eu retomo para o período histórico antes de Cristo, quando a humanidade viveu seu mais longo declínio.
Nosso país e muitos outros, a maioria no mundo, nasceu sob o signo do cristianismo. E não é possível tirar essa raiz cultural, sem provocar um grande desarranjo social. As pessoas identificadas pelo bem, são aquelas que não propagam a violência nem o ódio. Esse mal sempre vai existir. Ele só não precisa ser incentivado, estimulado pelas lideranças sociais.
Vamos esperar que a tragédia dos alunos em Suzano, nos faça confessar esses pecados íntimos que nos fazem torcer pela desgraça alheia e pela morte.
Antônio José do Carmo é jornalista
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