Na última quarta-feira (26) foi celebrado o Dia Nacional do Surdo. O objetivo da data é desenvolver a reflexão sobre os direitos e a inclusão das pessoas com deficiência auditiva na sociedade. De acordo com dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) 9,8 milhões de brasileiros possuem algum tipo de deficiência auditiva. Deste total 2,6 milhões são surdos e 7,2 milhões apresentam dificuldade para ouvir.
Além da data, o mês de setembro é utilizado para campanhas sobre o tema. Denominado “Setembro Azul”, o período foi escolhido por conter diversas datas importantes e comemorativas para a comunidade surda, com eventos voltados para a conscientização sobre a acessibilidade e comemoração das conquistas ao longo dos anos.
A fonoaudióloga Flávia Custódio Pedroso de Souza, formada na Faculdade de Odontologia de Bauru, explicou que o dia 26 de setembro foi escolhido para celebrar o Dia Nacional do Surdo porque nessa data, em 1857, foi fundado o INES (Instituto Nacional de Educação de Surdos). Em entrevista à Folha da Região, Flávia esclareceu dúvidas em relação à data e sobre deficiência auditiva.
O que é necessário saber sobre os deficientes auditivos?
Os deficientes auditivos podem se encaixar em alguns grupos em relação à denominação da surdez, porém, na sociedade em geral, ele é um integrante comum. Existe o grupo dos surdos pré-linguais usuários de aparelhos auditivos, os surdos pós-linguais usuários de aparelhos auditivos e o grupo de surdos sinalizados, que utilizam a Língua de Sinais para sua comunicação. Algumas ações simples podem facilitar o convívio e a comunicação com esses grupos: para chamar a sua atenção busque primeiramente por um toque ou um sinal visual (toque no ombro, abane a mão); fale devagar, articulado e, de preferência, sempre olhando de frente para a pessoa; procure não estar mastigando alimentos; procure não gritar isso não vai favorecer a sua comunicação; seja expressivo se comunique com expressões faciais e movimentos corporais, pois mudanças no tom de voz muitas vezes não são percebidas pelo deficiente auditivo nas expressões de raiva, tristeza, alegrias e sacarmos. A surdez não possui relação com o nível intelectual do indivíduo, a não ser que ele possua outras alterações cognitivas que venham a comprometer a sua capacidade intelectual.
Quais são as causas que podem levar a perda auditiva?
A perda auditiva pode ser congênita, isto é, desde o nascimento, ou adquirida no decorrer da vida. Dentre as causas, podemos citar fatores genéticos e/ou hereditários; más-formações; traumatismos; tumores; síndromes; a presbiacusia que é em decorrência do processo natural de envelhecimento; a exposição ao ruído excessivo (PAINPSE ou PAIR); as infecções de ouvido (otites); associadas a algumas doenças como diabetes, hipertensão e cardiopatias; em decorrência de processos infecciosos como rubéola, meningite, caxumba, entre outras; e também devido ao uso medicações ototóxicas.
Por qual motivo a cor azul foi escolhida?
Ela representa dois momentos distintos na história. Primeiramente, na Segunda Guerra Mundial os nazistas identificavam as pessoas com deficiências com uma faixa azul no braço. E, num segundo momento, a ressignificação da cor ficou marcada pelo evento com o nome de Cerimônia da Faixa Azul de 1999, na qual o dr. Patty Ladd (surdo) usou uma fita azul no braço pela primeira vez como símbolo do movimento.
O uso de aparelhos auditivos corrige 100% do problema?
Não. O aparelho auditivo não restaura a audição perdida, mas minimiza de maneira significante as dificuldades de escuta.
Como eles funcionam?
O aparelho auditivo é dividido em três partes principais: microfone, amplificador e receptor. Para entendermos melhor como tudo isso funciona vamos explicar resumidamente a etapa que o som percorre: os microfones captam os sons do ambiente, que são amplificados e enviados ao receptor, assim, eles são transmitidos por meio do molde, tubo fino ou tubo com receptor para a orelha interna. Nesse local, esses sons serão transformados em impulsos elétricos que serão captados pelo cérebro, para que seja processada a informação recebida. Tudo isso acontece em questões de milissegundos.
É possível dizer que, em alguns casos, as pessoas que utilizam aparelhos auditivos têm uma audição melhor?
Com certeza. O aparelho não restaura a audição, mas oferece possibilidades significantes, o que torna mais fácil ouvir. Alguns estudos realizados apontam que pacientes com deficiência auditiva que utilizam aparelhos auditivos ou implantes cocleares aumenta a qualidade de vida.
Existe algum outro método fora o uso de aparelhos?
Sim, há outras alternativas para a reabilitação da perda auditiva. Existem cirurgias reparadoras, como nos casos de perfuração da membrana timpânica, por exemplo, e também outras opções como o implante coclear, conhecido como ouvido biônico, e as próteses auditivas osteancoradas. A escolha do método dependerá de cada caso e deve ser avaliado pelo médico otorrinolaringologista.
Se tratando de qualidade de vida, existe alguma diferença em relação às pessoas “normais”?
A pessoa com deficiência auditiva bem diagnostica e com intervenção adequada possui sim uma qualidade de vida normal. Já a perda auditiva não tratada pode causar isolamento, falta de atenção, redução das atividades sociais, frustração, insegurança e baixa autoestima.
Todo surdo é mudo? Pessoas que tiveram a perda auditiva em algum momento da vida também têm problemas com a fala?
Não, isso é um mito. A ausência ou dificuldades de fala são consequências da deficiência auditiva de origem congênita ou adquirida na primeira infância, ou seja, antes da aquisição da fala. Caso a deficiência ocorra na adolescência, na fase adulta ou até mesmo na terceira idade a pessoa não terá problemas na linguagem oral, mas sim na sua comunicação no âmbito familiar, profissional e social. Entretanto, algumas pessoas com a deficiência podem não ter aprendido a falar, mas os surdos podem se tornar oralizados ou desenvolver formas de se comunicar efetivamente através de tratamento com o profissional fonoaudiólogo.
A falta de intérpretes ainda é déficit na acessibilidade?
Sim, a falta de intérpretes ainda é uma dificuldade para acessibilidade, principalmente, no âmbito escolar, onde as crianças precisam de suporte para o seu desenvolvimento. Nem todos os lugares estão e são preparados para receber pessoas com algum tipo de deficiência, assim, acaba por dificultar a comunicação e o convívio social.
Qual a importância da inclusão da pessoa com deficiência auditiva?
A inclusão da pessoa com deficiência auditiva na sociedade é necessária para assegurar as mesmas condições de educação, oportunidades de emprego e inserção social de uma pessoa sem nenhum tipo de deficiência. A sociedade precisa se preparar para receber, capacitar, dar oportunidade e respeitar a diversidade, até porque todas as pessoas com necessidades “especiais” têm os seus direitos assegurados na legislação. Os surdos são pessoas que têm o mesmo direito que quaisquer outras pessoas. E cada um obedece a seu ritmo, à sua maneira e seus próprios meios. Eles possuem a mesma necessidade de amar e serem amados, de aprender, compartilhar, crescer e experimentar o mesmo mundo que todos os outros. Faz-se necessário dar a oportunidade de poderem vivenciar suas próprias experiências.
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