Na última semana, a Folha da Região mostrou que o WhatsApp ficou de fora da legislação relacionada à campanha eleitoral, se tornando uma “terra sem lei” para a disseminação de conteúdo político. Porém, o que muita gente não contava é que o aplicativo de mensagem também se tornaria um vilão quando o assunto é amizade ou relações familiares.
A jornalista Bruna Cardoso, por exemplo, foi expulsa de um grupo de amigos no WhatsApp porque se posicionou a favor de um candidato a presidente. Ela era a única a defender um postulante enquanto o restante era a favor de outro.
“O fim da picada foi receber intimada de parente pra deletar posts do Facebook por ser contra o candidato. Mandaram eu deletar. Eu sou de boa. Quem não gosta não é obrigado a me seguir, só ocultar. Mas não, tá parecendo que a ditadura já voltou”, conta.
A confusão que a estudante Kathleen Scarpin da Silva causou no grupo de WhatsApp da família por ser contra um determinado candidato a presidente também foi grande. “Eu já não gosto dele nem dos conceitos do próprio. Aí começaram a falar coisas, e eu mandei um texto sobre coisas que pesquisei, e foi onde começou a briga. Por causa disso muitas pessoas saíram do grupo. Do Facebook, mesmo, já bloqueei várias pessoas, porque em vez de ser uma discussão saudável, começaram a apelar. Hoje ninguém sabe respeitar ninguém, isso não só com a política. O que é diferente pras pessoas se torna errado ou estranho, e isso para alguns incomoda muito”, afirma.
A gerente de marketing Julia Boni passou por situação semelhante depois de discussões políticas. Ela excluiu vários parentes no Facebook e saiu dos grupos familiares do WhatsApp. “Depois de meses mostrando dados históricos, livros e mais livros, ter que ouvir que eu sou burra não é fácil. Sabe, acho que a internet deu um passo gigantesco para que as piadas homofóbicas no almoço de domingo virassem discurso de ódio”, completa.
A professora e cientista política Angela Liberatti fez um desabafo no Facebook recentemente depois de ter sido incluída em um grupo político daquela rede social. “Sou suficientemente instruída para fazer as minhas próprias escolhas e, portanto, quero ser respeitada. Não autorizo ninguém a usar meu nome para divulgação de candidatos a cargos políticos!”, postou.
De acordo com Angela, as eleições deste ano se transformaram em verdadeiras imposições às pessoas, principalmente em se tratando de rede social. “As pessoas precisam entender que se tem direito a só um voto, o dela, e não ao voto da outra pessoa. As pessoas têm que entender que o problema não está na pessoa candidata, mas em todo o nosso sistema eleitoral, nas coligações partidárias. Tem gente brigando sem saber que o partido que ela defende está coligado ao partido que ela fala mal. É uma falta de respeito você invadir uma postagem ou publicação de outra pessoa pra agredir. Você pode até discordar da escolha da pessoa, mas jamais agredir. É um verdadeiro autoritarismo”, finalizou.
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