O contexto família encontra-se confuso. Não existe mais um único, e estável, modelo de família. Arrisca-se afirmar que, em breve, o padrão família tradicional virá a ser uma exceção. Intriga imaginar o conceito de família que fazem as gerações mais novas, com tantas informações sobre modelos de casamento anunciados e vividos. Emerge angustiante paradoxo: ressente-se a gravidade do desmoronamento da família, e ao mesmo tempo, propagam-se, com desenvoltura, liberdades e infidelidades que só prestam para desgastar laços conjugais.
Desnecessário afirmar que a família está como alicerce para a sociedade. Todas as culturas conhecidas consideram o núcleo familiar indispensável para a preservação de etnias e de tradições. Épocas houve quando família e colônia praticamente se fundiam. A urbanização e o mercado de trabalho influenciaram muito para reduzir a família a núcleos restritos e isolados. O padrão família de contato constante e interativo entre parentes de vários graus foi celeremente substituído por núcleos isolados e compactos.
A ruptura de laços afetivos e o rompimento com as raízes são fatores primordiais no processo de fragmentação das novas famílias. Isolados e sobrecarregados, os casais nem sempre sabem como lidar com os variados desafios que inevitavelmente emergem. Sem apoio e sem referências, sentem-se não raramente perdidos, incapazes de lidar com os revezes que surgem. Imaturos e desassistidos julgam-se prematuramente fracassados e rompem alianças.
A frequência com que esta situação sucede leva alguns observadores a questionar a instituição do matrimônio como uma união estável e duradoura. Apressam-se a afirmar que o modelo de casamento indissolúvel está superado. Emerge uma nova doutrina que considera desumano impor sobre os casais a obrigatoriedade de viverem juntos para o resto da vida!
Amplo e complexo debate, que fundamentalmente repousa no conceito primordial que se faz do matrimônio. Visto e vivido na perspectiva de parceria, o casamento fica regido por regras contratuais. Enquanto houver interesse das partes, subsiste. Quando, contudo, surgir um negócio melhor dissolve-se a sociedade e cada parte procura o que for melhor para si. Ora, nenhuma sociedade que se pretende ser sólida e merecedora de respeito pode alicerçar-se em fundações tão movediças.
É do bom senso! É da lógica! Matrimônio deve ser visto e vivido como uma vocação, um ideal ao qual tudo fica sujeito e condicionado, porque fundado num relacionamento amoroso consciente e livre. Ora, é próprio ao amor sincero ser perene! Estável! Progressivo! E isto não por imposição, mas em sintonia com o curso natural do sentimento afetivo. Diante das dificuldades, não a dissolução, mas a solução madura e redentora.
Matrimônio é vocação cuja plena e feliz expressão é a família! Formidável união e exigente. Primordial escola de duradouros vínculos e de éticos valores!
Padre Charles Borg é vigário-geral da Diocese de Araçatuba
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