“…que não seja imortal, posto que é chama. Mas que seja infinito enquanto dure”
Os versos de Vinícius de Moraes, em “Soneto de Fidelidade”, escrito em 1938, podem dar muito sentido à essência dos relacionamentos modernos que nascem entre uma curtida e outra nos aplicativos de celular criados para essa finalidade
No Brasil, um a cada cinco usuários da internet buscam a tecnologia para conhecer novas pessoas. Conexão que proporciona encontros casuais, grandes amizades e até mesmo o encontro de um grande amor.
Sejam por algumas horas, alguns dias ou até mesmo para a vida inteira, a intensidade de cada envolvimento vai além do tempo de duração que ele proporciona. E isso vai depender da forma com que cada usuário lida com essas experiências.
Esse é justamente o contexto que inspirou a jornalista araçatubense, Michele Contel, de 26 anos, a escrever seu primeiro livro. “Amores eternos de um dia – Jogando a real sobre aplicativos e relacionamentos efêmeros, da Editora Paralela, traz em suas 224 páginas, um pouco do universo dos relacionamentos na era dos aplicativos. “O livro fala tanto sobre a velocidade com que estamos nos relacionando, quanto sobre a legitimidade dos amores efêmeros. Traz vários textos sobre ghosting, signos, boy lixo, encontros, Tinder”, explica Michele.
De forma leve, bem humorada e pessoal, o livro todo é pautado pelas próprias histórias de Michele e pelas histórias de pessoas próximas a ela. “Ele é quase uma conversa de bar transcrita. Tem um pouco de ficção, também, para exemplificar alguns conceitos. O primeiro caso do livro, mesmo, é ficção. Mas do resto, tem muita coisa pessoal e eu sinalizo quando é. Eu falo desse tema de uma forma leve, porque amar tem que ser assim”, revela.
Por já ter usado esses aplicativos, Michele descreve essas experiências com autonomia. “Eu acho que é uma ótima ferramenta para conhecer pessoas, principalmente em novas cidades. Já usei para ter encontros românticos e já conheci grandes amigos por meio do app. Acho que minha história favorita sobre o assunto é a “Conheci meu melhor amigo no Tinder”, que mostra de forma exemplificada que o app não é só para sexo casual, como algumas pessoas pensam. Quem determina o mood do app somos nós”.
SENTIMENTO E TECNOLOGIA
Procurando ou não romance (ou sexo) nos Tinders e Happns, é certo que o livro faz o leitor pensar, se divertir e entender melhor os relacionamentos na era dos apps.
Ao longo das páginas, traz, inclusive, orientações sobre como identificar um boy lixo, o que fazer quando agir como um boy lixo e a como lidar com o ghosting, por exemplo.
Além disso, a jornalista desmitifica o casamento de romance com tecnologia e defende que pode haver sim sentimento por trás de um match (expressão usada no Tinder quando um usuário curte e aprova a foto um do outro). “A tecnologia possibilita uma nova forma de amar. Não é porque uma história foi curta que ela não foi verdadeira. E por que só histórias longas são bonitas? Eu falo muito sobre a legitimidade dos nossos sentimentos de uma forma geral e acho que nos dias de hoje é importante lembrar que tá tudo bem sentir”, diz Michele.
De acordo com ela, outra coisa relevante que o livro aborda é a visão que algumas pessoas têm ao usar os apps. Ao mesmo tempo em que muitas ainda se sentem “estranhas” por usarem aplicativos de encontros, para outras, é tão comum quanto chamar um uber. “No livro, eu falo muito que os aplicativos são apenas uma ferramenta e a forma com que a gente se relaciona por meio deles, ainda é extremamente subjetiva. E que tá tudo bem usar aplicativos para conhecer pessoas novas”, finaliza.
O lançamento do livro aconteceu no dia 15 deste mês, durante a 25ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo e noite oficial de autógrafos será no próximo dia 31, na livraria da Vila, também na capital, onde Michele mora atualmente.
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