Renata Elias Juliotti, de 31 anos, trabalha como assistente administrativa em uma empresa de Araçatuba. São 40 horas semanais dedicadas a esse trabalho, que garante a ela carteira assinada e salário fixo.
Porém, precisou recorrer a uma segunda atividade, popularmente chamada de ‘bico’ para complementar o orçamento. Ela dá aulas de inglês/espanhol/alemão, além de prestar serviços como tradutora/intérprete, após o expediente do trabalho, e aos sábados, das 13h às 18h. “É para compor a renda e conseguir fazer uma poupança para o futuro. Tenho muitas despesas em casa comprando fralda geriátrica para minha mãe e com despesas de saúde dela e do meu sobrinho com paralisia cerebral”, destaca.
Ela explica que recebe o piso da categoria com o trabalho formal e o bico com as aulas complementa em pelo menos 60% a renda. Formada em Tecnologia em Marketing e em Business Law e TKT Certificate pela Richard J. Daley College, de Chicago, atualmente ela também cursa o 6º semestre de Jornalismo.
Mesmo com o pouco tempo para se dedicar aos estudos, ela ressalta que está investindo em pesquisa e cursos EAD (Ensino a Distância) para aprimorar os conhecimentos e buscar uma melhor colocação de mercado. “Meu objetivo para os próximos 5 anos é montar minha própria agência de comunicação e marketing com foco na internacionalização e premiunização de marcas nacionais”, destaca.
O químico Paulo Henrique Costa Benedito, de 28 anos, trabalha em uma universidade de Araçatuba, atuando como responsável técnico de um aparelho de microtomografia computadorizada.
Uma parte do dia ele dedica também à atividade como motorista de Uber. Já no período da noite e aos finais de semana, trabalha com música, tocando em casamentos, além de barzinhos e baladas. Essas atividades são responsáveis por quase 60% do orçamento mensal dele. “Com certeza, sem os bicos, eu teria algumas dificuldades para manter minhas necessidades, porque a minha fonte de renda fixa não é tão alta, logo eu preciso complementar pra ter uma condição financeira melhor”, revela.
Renata e Paulo Henrique fazem parte do grupo de brasileiros que vem recorrendo a trabalhos informais para conseguir fechar a conta no final do mês, devido à lenta retomada da economia brasileira.
Pesquisa realizada pelo Serviço de Proteção ao Crédito e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas, seis em cada 10 brasileiros recorreram a um trabalho extra para complementar a renda no primeiro semestre deste ano.
Entre janeiro e junho, 64,4% dos trabalhadores fizeram bicos para equilibrar as suas finanças. É uma fatia bem maior do que a registrada no mesmo período do 2017, quando 57,4% foram atrás de trabalhos extras.
CUSTO ALTO
O economista José Antônio Alves explica que esse comportamento deve-se ao custo muito alto de vida e à carga tributária do país. Além disso, destaca os baixos salários pagos atualmente. “As empresas estão pagando cada vez menos e esse salário não está sendo o suficiente para pagar a alta dos preços das mercadorias. Sem contar que não há aumento real de salário. O que acontece é apenas a reposição das perdas anteriores provocadas pela inflamação”, destaca.
De acordo com Alves, se não houver crescimento econômico, a tendência é que a busca por atividades extras pelos trabalhadores, aumente. “Se não há recuperação, não há oferta de empregos e, consequentemente, não haverá aumento de salários também”, revela.
Segundo estudo feito pela consultoria Kantar Worldpanel, que visita semanalmente 11,3 mil domicílios no País para tirar uma fotografia do consumo, o avanço da participação da renda informal dentro do orçamento doméstico já vem ocorrendo há algum tempo. Entre 2014, antes da crise, e 2017, a fatia da renda informal na receita total das famílias saiu de 15,3% para 16,6%. Nas classes de menor renda, a participação dos bicos na composição total do orçamento foi bem maior: subiu de 20% para 24% no mesmo período.
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