Apressada, a criança saiu, batendo a porta! Ao retornar, seu pai a chamou e foi lhe demonstrando com firmeza e paciência a maneira certa de abrir e fechar portas. Pediu-lhe, então, que fechasse e abrisse a porta com atenção, sem pressa. Saber abrir e fechar portas com a devida consciência revela muito do caráter da pessoa, como também desvela a consideração que se tem pelo semelhante.
Nada mais corriqueiro que abrir e fechar portas. No entanto, esse ritual cotidiano pode servir como preciosa oportunidade de manifestação de consideração ou pode se transformar em ocasião de desídia para com o próximo. Na vida, todas as experiências são orgânicas, ou seja, interdependentes. Nenhum ato ou atitude, por mais despretensioso, fica sem consequências.
Razão, mais que suficiente, para aplicar-se em aprender e em ensinar a fazer corretamente, mesmo as mais corriqueiras das tarefas. Percebe-se, lamentavelmente, que muitos educadores, pais em particular, estão abdicando do sagrado dever de ensinar etiquetas e bons modos. Ensinar é uma arte, vale lembrar, que demanda dedicação generosa e atenta. Ensinar não se resume a dar explicações.
Estende-se a exercitações. Aprende quem treina, pois entre o conhecer e o fazer a distância é sempre considerável. No episódio acima referido – verídico – o pai não se contentou apenas em falar como se deve abrir e fechar a porta. Largou o que fazia e mostrou ao filho a maneira correta de se proceder. Exigiu, em seguida, que a criança repetisse a experiência. Confidencia a criança, hoje adulta, nunca mais fechou ou abriu uma porta de maneira displicente.
Além das físicas, topa-se também com portas simbólicas. Essas costumam mexer profundamente com sentimentos e emoções. Abrir e fechar essas portas simbólicas com a devida diligência envolve sentida consideração para com o semelhante. Abrir ou fechar essas portas de forma abrupta ou displicente costuma provocar danos irreparáveis. Emerge, novamente, a premente necessidade de instruir a respeitar sentimentos e de saber escolher oportunos momentos.
Maneiras abruptas, tanto na hora de abrir como também na hora de fechar algumas dessas portas simbólicas, costumam causar traumáticas consequências. Registra-se no presente sistema de convívio, crescente falta de consideração pela maneira como estão sendo abertas ou fechadas essas portas simbólicas. Demissões e fins de relacionamentos afetivos são definidos e comunicados de maneira sumária, quase cruel, como se o destinatário fosse robô, ente sem sentimento.
É diário o exercício de abrir e fechar portas. É igualmente indispensável! Realizar esse ritual com a devida diligência e atenção é propícia ocasião para demonstrar dignidade de postura e formidável oportunidade para exercitar-se no respeito ao semelhante! Ensinar esta arte é tarefa sublime dos pais. Bom pai é dedicado educador!
FELIZ DIA DOS PAIS!
Padre Charles Borg é vigário-geral da Diocese de Araçatuba
Comentários sobre esse post