Hoje completam-se 73 anos de um episódio que manchou a história da humanidade. Nos dias 6 e 9 de agosto de 1945, foram lançados as bombas atômicas nas cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki, respectivamente, pelos Estados Unidos, durante a Segunda Guerra Mundial, para evitar uma “tragédia” futura que seria causada por uma possível invasão japonesa em solo americano. Como forma de intimidação e terrorismo, matou-se centenas de milhares de inocentes nas duas cidades. O médico Akira Hayashida, que hoje vive em Araçatuba, morou a 500 metros do local onde ocorreu a explosão de Nagasaki e conta suas experiências de vida e como as pessoas agiam durante sua estadia nipônica.
Como relembrar é viver, um breve resumo do que ocorreu nos fatídicos dias de 6 e 9 de agosto de 1945 e o porquê aconteceu: O período era de final de Segunda Guerra Mundial. O ano era 1941 e o Japão fez um inimigo muito poderoso ao atacar uma das principais bases aéreas militares dos Estados Unidos, Pearl Harbor. Isso acarretou em muitos conflitos entre os dois países, o que levou o país da América do Norte ao início da fabricação de bombas fortes o suficiente para destruir cidades inteiras Estas foram as primeiras bombas atômicas a serem criadas, este projeto foi chamado de Projeto Manhattan.
O primeiro teste do Projeto Manhattan realizado com sucesso ocorreu no dia 16 de julho de 1945, no deserto de Alamogordo, no estado do Novo México, quando uma bomba de plutônio foi explodida. No mesmo mês, o Imperador japonês Hirohito recusou a rendição proposta pelos EUA. A decisão tomada pelo presidente dos Estados Unidos Henry Truman, foi utilizar a bomba atômica para evitar a invasão ao Japão, o que causaria, segundo estimativas, a morte de um milhão de pessoas.
Por conta disso os norte-americanos, para intimidar e forçar uma rendição japonesa na guerra, jogaram duas bombas atômicas em cidades populosas do Japão, a primeira foi Hiroshima, um bombardeiro B-29, apelidado de Enola Gay, que despejou uma bomba de urânio, batizada de “Little Boy”, explodindo a 570 metros do solo, formando-se uma imensa bola de fogo no céu, que alcançou mais de 18 km de altura. Estimativas indicam que mais de 140 mil pessoas tenham morrido no momento da explosão.
Três dias depois, sobre a cidade de Nagasaki, outro bombardeiro B-29, apelidado de Bockscar, despejou a “FatMan”, uma bomba de plutônio mais forte que a que havia explodido sobre Hiroshima. Como Nagasaki está localizada entre montanhas, sua topografia impediu uma maior irradiação dos efeitos da bomba. Entretanto, mais de 40 mil pessoas morreram. Além das mortes em decorrência da ação direta das duas bombas, dezenas de milhares morreram posteriormente, em decorrência da radiação.
Akira Hayashida, médico oftalmologista que atua em Araçatuba há quase 50 anos, dedica-se como voluntário ao ensino da língua e cultura japonesa, tinha apenas 2 anos de idade quando o episódio aconteceu. Ao completar 28 anos, devido aos seus estudos de medicina, foi morar a 500 metros de Nagasaki, local que hoje completa 73 anos do maior atentado de todos os tempos. “Morei em Nagasaki de março de 1971 a março de 1972, para fazer um curso de especialização em oftalmologia na Universidade local, com estadia custeada totalmente pelo governo da província Nagazaki”, diz o doutor.
Sobre sua vivencia no local histórico, ele relata algumas de suas mais marcantes lembranças. “Em um ano de convivência com a população local, marcada por uma tragédia tão grande e histórica, aprendi e vivenciei muitas coisas, uma das minhas lembranças mais vívidas e marcantes sobre a bomba atômica foi quando fiz uma visita ao museu das vítimas da bomba atômica.
A fotografia de uma criança que nasceu com malformações de uma mãe que na época era adolescente e que estava a 2 km de distancia do local da explosão, uma foto de um varal de roupa que estava muito distante do local e permaneceu a marca na parede e havia um professor que confessou que não tinha medo da bomba atômica e dizia que era só esconder debaixo da terra, como fizeram as crianças de uma escola primária em Naha-Okinawa quando a cidade foi atacada pelos Estados Unidos. Essas coisas que vi no museu me chocaram muito e me fizeram sentir na pele um pouco do sofrimento, desespero e confusão que aquelas pessoas passaram”, relata Akira.
Ao conviver com as pessoas da cidade que vivenciaram o terror e o espanto do 9 de agosto de 1945, Hayashida surpreende ao relatar o comportamento dos japoneses em relação ao fato ocorrido. “O interessante é que os japoneses eram bem discretos com relação à bomba atômica, eles evitavam fazer comentários. Em Nagasaki, faleceram em torno de 74 mil pessoas na época do lançamento da bomba e até 2005 o total de mortes atingiu a marca de 135 mil pessoas”, explica. Ele também fala sobre a rotina de trabalho que tinha no ano em que ficou lá.
“A minha rotina diária era atender pacientes no ambulatório de manhã e à tarde no centro cirúrgico, sob supervisão dos professores da Universidade. Por imposições do governo local, uma vez por semana, éramos obrigados a dar aula de conversação de português para as pessoas que tinham intenção de emigrar para o Brasil e uma vez por mês éramos escalados para visitar escolas primárias falando sobre o nosso país”, conta.
Akira relata que sua moradia era muito próxima de onde caiu a bomba. “Morava sozinho, em um quarto de família ao lado do hospital universitário. O local era próximo de onde foi lançada a bomba atômica. O que me chamou muita atenção e me fez ter muitos sentimentos foi que no local foi construído um jardim de cerejeiras em homenagem aos inocentes que morreram, sendo que na época da floração, eles tinham o hábito de fazer visitas, reuniões de amigos e de famílias num ambiente bem emotivo”, fala ao relembrar das famílias que se reuniam em volta dos “túmulos” de milhares de pessoas, para os saudar e nunca deixar que o episódio caia no esquecimento.
“No Brasil existe uma Associação de vítimas da bomba atômica, presidida por um sobrevivente. Todos os anos, o governo japonês envia uma equipe de médicos especialistas para examinar essa pessoas que foram vítimas da bomba atômica”, finaliza Akira.
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