Nas últimas semanas a internet foi tomada por uma música com versos que dizem assim: “Eu quero que tu vá, vá tomar no (**), para de tomar conta da minha vida e vai, pra (****) que pariu. Aonde já se viu? Hoje eu tô tipo tolerância zero”.
A música começa de forma lenta e na metade se transforma, com uma leve batida de funk. Só que antes de ser lançada oficialmente por uma gravadora, a faixa já circulava em grupos de WhatsApp e tinha covers no YouTube. Até então a música só tinha uma voz, mas ninguém sabia quem era a dona dela.
As cantoras Marília Mendonça, Luísa Sonza, Luka, a dupla Day e Lara; o cantor Nego do Borel; o jogador do Grêmio Marinho; os comediantes Rafael Portugal, Tiago Ventura, Matheus Ceará; o grupo de rap Hungria, e vários influenciadores digitais foram alguns dos que, espontaneamente, cantaram a música em suas redes sociais.
Foi então que a gravadora Universal decidiu apostar na voz, que é da cantora Fernanda Gama Lins, a Ananda. MC Koringa, seu amigo de longa data, que agora estreia como produtor com o nome de Joker Beats, também assina a faixa. Por causa do sucesso repentino, Ananda trancou a faculdade de Jornalismo (que já estava na metade) e saiu do trabalho – ela era hostess (recepcionista) de um clube privado no Rio de Janeiro. Foi nesse clube que o clipe de “Quero Que Tu Vá” foi gravado. Ananda e MC Koringa conversaram com a Folha da Região e contaram como foi o sucesso meteórico da música.
Como foi essa composição e a parceria? O sucesso foi de repente e vocês tinham noção de que isso poderia acontecer?
Ananda: A música foi bem despretensiosa. Eu estava na casa do Koringa, quando ele quis me mostrar no celular um pré-refrão de uma música que ele estava fazendo, com uma ideia de xingamento sincero, que passa pela cabeça da gente pelo menos três vezes por dia. A gente colocou algumas notas no teclado e em 15, 20 minutos a gente escreveu. O Koringa curtiu e logo a música já estava nos grupos de WhatsApp. Eu fui pra casa, quando ele me ligou de madrugada dizendo que tinha recebido a música (completa, com as batidas de funk). Isso foi no dia 4 de julho. Ele postou no YouTube no dia 5 e no dia 6 já tinha várias versões rolando. Nesse meio tempo eu decidi trancar a faculdade e sair do trabalho e apostar no que eu realmente amo, que é a música.
MC Koringa: A nossa parceria surgiu a partir de uma admiração mútua, amizade, cumplicidade e confiança que solidificou-se a ponto de produzirmos cinco músicas, idealizando um trabalho juntos e graças a Deus está dando muito certo.
A confiança é algo que se conquista e é muito difícil nos tempos em que vivemos. Tudo foi bem natural e soubemos respeitar o tempo de cada um até chegarmos a estreitar essa parceria. Olha, posso dizer que estou tendo mais uma realização na minha vida. Primeiro que estou trabalhando com a Ananda que é uma pessoa fantástica e ótima artista e segundo que mesmo eu tendo vários sucessos emplacados nas rádios e novelas de horário nobre, digo que cada conquista teve um sabor diferente e essa música que “fizemos” está sendo uma experiência e religação de um sonho que é poder fazer por alguém o mesmo caminho que fiz. Só não esperava que fosse começar tão bem.
A explosão de “Quero Que Tu Vá” dá pra comparar com o “Pedala, Robinho”, por exemplo?
MC Koringa: Pedala Robinho (Koringa e San Danado) foi uma música que explodiu, mas que ficou somente para os adeptos ao funk. “Quero Que Tu Vá” é algo que está sendo abraçado por diversas camadas da sociedade e pessoas adeptas a diversos gêneros musicais. Acredito que isso é devido ao conjunto da obra: forma de abordagem da letra, simplicidade da produção, o talento da Ananda e o fator “Deus aponta quem tem que brilhar e que horas tem que brilhar”.
E como foi a oficialização da faixa como música de trabalho?
Ananda: Então, depois do sucesso viral, a gente foi procurado pela gravadora e a primeira coisa que a gente pensou é que a precisava com urgência de um clipe, porque a música não tinha um rosto, só a voz.
A gente gravou o clipe no clube que eu trabalhava como hostess. Foi bem rápido, tudo demorou dois dias. Um dia pra gravar e outro pra editar.
A ideia nasceu despretensiosa, e já tem mais material pra trabalhar ou por enquanto vão trabalhar só a “Quero Que Tu Vá”?
Ananda: Na verdade a gente queria lançar uma outra música antes dessa, que chama “Dia Perfeito”, mas como “Quero Que Tu Vá” estourou antes, a gente vai trabalhar ela. Mas ainda não tem data pra lançar a “Dia Perfeito”, que também tem uma pegada de funk. A música deve sair no EP que a gente vai lançar, mas também não tem data. Foi tudo muito recente, a gente tem muito o que trabalhar na primeira música ainda.
“Quero Que Tu Vá” e “Dia Perfeito” têm batidas de funk. Quais são as suas influências?
Ananda: O funk tá na minha veia, eu nasci na Baixada Fluminense, mas eu tenho várias influências como Elis Regina, Nina Simone, Caetano Veloso, Ella Fitzgerald.
O funk parece entrar numa nova fase, com uma sonoridade um pouco menos de batidão e com novos nomes no mercado, como o KondZilla. Como você vê isso?
MC Koringa: O funk sempre se renovou. Tanto que fomos derivados do internacional e hoje somos 100% funk nacional. Assim são os novos personagens que desfilam seus nomes por essa história chamada funk. Tenho um orgulho muito grande de olhar para trás e ver que um moleque sem perspectiva de vida nenhuma chegou até aqui e escreveu uma história à caneta e que outros personagens como Dennis DJ, KondZilla e outros estão fazendo o mesmo caminho, ajudando a asfaltar essa estrada chamada funk para que outros venham a desfilar seus talentos.
Por causa dos palavrões, vocês têm medo de “Quero Que Tu Vá” ser “rejeitada” em programas de TV?
Ananda: O clipe já foi lançado com uma versão censurada, que é um “bip” nos palavrões e tá rolando no Multishow e na MTV, mas não tenho medo de rejeição não. A música tá fazendo sucesso e se essa não for pra programas de TV, por algum motivo, seja por causa de horário, a gente vai ter mais músicas pra trabalhar também.
Já rolou alguma apresentação de “Quero Que Tu Vá”?
Ananda: Eu já fiz três participações em shows do Koringa com essa música e o engraçado é que a música mal saiu aqui e já tem pessoal de fora querendo que a gente vai se apresentar. A gente nem abriu agenda aqui ainda. Primeiro vamos mostrar a música aqui, depois a gente pensa em fazer shows fora.
Veja o clipe de “Quero Que Tu Vá”
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