“A vida devia ser duas; uma para ensaiar, outra para viver a sério. Quando se aprende alguma coisa, está na hora de ir”, esse trecho do livro “A Casa dos Budas Ditosos”, de João Ubaldo Ribeiro, é um pouco do que o autor escreveu durante sua passagem pela Terra. Hoje faz quatro anos de sua morte, deixando seu legado entre obras e prêmios.
João Ubaldo Osório Pimentel Ribeiro nasceu em Itaparica, na Bahia, em 23 de janeiro de 1941. Começou sua trajetória como jornalista, mas logo migrou para a literatura, atuando como escritor, cronista e roteirista. Foi professor, formado em direito e um dos membros da Academia Brasileira de Letras. Começou como poeta ainda jovem, com 21 anos já tinha escrito seu primeiro livro, o romance “Setembro Não Tem Sentido”. O segundo foi “Sargento Getúlio, de 1971, consagrando a obra como um marco para o romance brasileiro.
Em 1974, publicou “Vencecavalo e o Outro Povo”, que por sua vontade se chamaria “A Guerra dos Paranaguás”. Foi também um dos jovens escritores brasileiros que participaram do International Writing Program da Universidade de Iowa, nos Estados Unidos.
O livro “Vencecavalo e o Outro Povo” se tornou famoso fora do Brasil, sendo traduzido por diversas línguas e lançado nos Estados Unidos, em 1978.
Jornalista
Em 1957, estreou no jornalismo, trabalhando como repórter no Jornal da Bahia, sendo transferido para a Tribuna da Bahia, onde exerceu a função de editor-chefe. Trabalhou junto com o cineasta e escritor, Glauber Rocha editando revistas e jornais culturais. João Ubaldo Ribeiro foi colaborador dos jornais O Globo, Frankfurter Rundschau e Die Zeit, na Alemanha, Jornal da Bahia, The Times Literary Supplement, da Inglaterra, O Jornal e Jornal de Letras, de Portugal, Jornal de Letras, O Estado de S. Paulo e A Tarde.
O professor de literatura contemporânea, Gustavo Petter, de Araçatuba, diz que a obra de Ubaldo não esmaece com o passar do tempo, ainda mais no tempo atual. “A nossa história recente parece ter desaparecido da memória e com ela, o pensamento crítico sobre a política. João Ubaldo Ribeiro nos lembra que o escritor possui um papel social, que expressa uma perspectiva sobre temas essenciais a nós, como seres imersos em determinada cultura, política, sociedade e história”.
A obra preferida de Gustavo é o livro “Viva o Povo Brasileiro” que leu ainda na adolescência, sendo a porta de entrada para os demais livros. Ele fala que o autor traz uma visão crítica, que se baseia na ironia, com um toque de humor, faz com que a narrativa leia a formação cultural do País, do povo brasileiro, do anti-heroísmo presente nas raízes, atentando ao espírito inconformista, questionador que todo jovem alimenta. “Esses traços estão presentes em mim até hoje”, declara Petter.
“João Ubaldo utiliza a cultura baiana, como os escritores regionalistas, mas não se limita a registrar peculiaridades culturais, modo de viver, especificidades, sua perspectiva transcende, escreve a todo leitor que busca compreender o Brasil”, explica Gustavo.
Mundo a Fora
Em 1964, mudou-se para os Estados Unidos, através de uma bolsa de estudos que conseguiu junto à embaixada norte-americana, para fazer seu mestrado em Administração Pública e Ciência Política na Universidade da Califórnia do Sul.
Voltou ao Brasil em 1965 e começou a lecionar Ciências Políticas na Universidade Federal da Bahia. Ali permaneceu por seis anos, mas desistiu da carreira acadêmica e retornou ao jornalismo.
Entre 1990 e 1991, morou em Berlim, a convite do Instituto Alemão de Intercâmbio DAAD (Deutscher Akademischer Austauschdienst), voltando, em 1991, para o Rio de Janeiro. Em 1994, participou da Feira do Livro de Frankfurt, na Alemanha, recebendo o Prêmio Anna Seghers, concedido somente a escritores alemães e latino-americanos.

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