Araçatuba é uma cidade que nos últimos anos tem recebido grande quantidade de refugiados, seja por causa de guerra ou para fugir de crise. Mas, também há refugiados políticos, que foram perseguidos por defender ou ser contra uma ideologia, como o comunismo.
É o caso dos cubanos Lorenzo Pescoso e a mulher dele, Diana Zoe Molina. Ele chegou ao Brasil em 2010, e a mulher no ano seguinte. A filha deles chegou em 2012, e a mãe de Diana em 2013. O casal ainda tem um filho que ficou em Cuba.
Lorenzo já perdeu as contas de quantas vezes foi preso, e contou que até a filha foi agredida. A mulher também foi parar na cadeia algumas vezes. Em uma das situações em que Lorenzo foi detido, ficou mais de 40 dias em uma prisão que antes tinha sido um colégio católico em Havana, capital cubana. O local foi transformado em um tipo de quartel-general do governo de Fidel Castro para “acolher” quem era contra o comunismo.
Em Cuba, Lorenzo trabalhava como mecânico industrial, mas depois que passou a integrar o Partido Pró-Direitos Humanos teve início a perseguição, a ele e à família. Por causa disso, não conseguiu mais emprego, e passou fome. Ele também foi acusado de terrorismo, quando uma bomba foi deixada em um hotel de Havana, em 1997. Um turista italiano morreu vítima do atentado. Nunca foi provado que ele teria se envolvido. Foi por esse motivo que ficou preso por mais de um mês.
Durante muitos anos, ele e a família passaram por situações difíceis em Cuba enquanto militava por um país com mais liberdade e, principalmente, por eleições diretas. O Partido Comunista é o único partido político oficialmente reconhecido no país, e foi fundado por Fidel Castro. O Partido Pró-Direitos Humanos nunca foi reconhecido.
Lorenzo lembra que a filha, que cursou faculdade de psicologia, não podia fazer as provas porque era perseguida. Depois que ele se mudou para o Brasil – escolheu Araçatuba porque um amigo morava na cidade – o restante da família, exceto o filho, decidiu buscar uma vida melhor. Todos conseguiram visto de residência, porém, ainda não têm cidadania brasileira. O asilo político foi concedido pelo Ministério da Justiça por meio de um pedido da ONU (Organização das Nações Unidas).
Em Araçatuba, Lorenzo trabalha com forros e esquadrilhas metálicas; Diana é tapeceira. A filha é copeira em um hotel da cidade. Os novos ofícios foram aprendidos no Brasil. A mãe de Diana a ajuda nas tarefas de casa. O filho tenta se mudar para o Brasil, mas as passagens aéreas são caras, e a família ainda não teve condições de ajudar.
A luta do casal agora é conseguir se aposentar antes que a idade avance. Os dois contribuem para a Previdência Social porque conseguiram a residência brasileira. Só que para se aposentar, eles precisariam contribuir por mais alguns anos. Atualmente, Lorenzo tem 66, e Diana, 63. “A gente não sabe se vai conseguir trabalhar por muito tempo. Uma hora a idade chega”, diz a cubana. Como o Brasil não tem acordo com Cuba, eles precisam contribuir pelo tempo mínimo exigido, que é 15 anos.
MORTE
Lorenzo não chegou a ser condenado em Cuba por nenhum suposto crime, porém, já recebeu ameaças e até tentaram matá-lo. Se ele fosse condenado pelos crimes de que era acusado, pegaria desde 30 anos de prisão até pena de morte.
Ele conta que uma vez estava de bicicleta quando foi empurrado para a frente de um ônibus que passava na rua. Ele se feriu, mas sem gravidade. Lorenzo também já foi levado a um cemitério, que segundo ele parecia um cenário de filme de mafiosos. Lá, foi mais uma vez ameaçado.
Certa vez, ele conseguiu emprego em um açougue, e foi obrigado a colocar uma foto de Fidel Castro no local. Por ser contra a ideologia, se negou, e foi obrigado a sair do trabalho. Depois disso, começou a procurar uma saída, buscando ajuda para morar na Espanha e Estados Unidos.
Só que nada dava certo, até que ele recebeu a sugestão de um amigo que morava em Araçatuba. Ele conta que subornou algumas pessoas para conseguir documentos e sair de Cuba. Antes disso, se divorciou de Diana para que ela não fosse mais perseguida por ser casada com um membro de partido de oposição. Depois que ele se estabeleceu no Brasil, morando na casa do amigo, Diana juntou dinheiro e também se mudou. Aqui, se casaram novamente.
SAUDADE
Embora gostem de Cuba, o casal diz que não tem vontade nem poderia voltar ao país de origem. É que eles não sabem como está a “ficha policial”, e acreditam que poderiam até ser presos no aeroporto, caso voltassem.
“Aqui, a gente trabalha muito, às vezes mais de 12 horas por dia. O dinheiro é pouco, mas a gente tem segurança, tem liberdade. A nossa vida aqui é muito melhor, e não pensamos em voltar”, comenta Diana.
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