“Uma barata pode viver até 24 horas sem a cabeça. Tem humanos que vivem a vida inteira sem ela” (Winkal.com).
Sábado passado fui a uma loja em Birigui e fiz a seguinte proposta ao vendedor: “Amigo, tenho um cheque no valor X, que recebi por prestação de serviços, quero comprar um produto seu, que custa metade do X. Você pode me vender e devolver o troco?”.
Como se tivesse falando com o Kid vigarista – acho que levo jeito -, o empregado disse: — Lamento, “normas da empresa” dispensam esse tipo de negócio. Insisti – creio ser um consumidor diferenciado -, afinal resido na mesma cidade há mais de 60 anos, e conheço a árvore genealógica do proprietário daquele negócio há, pelo menos, meio século. Refiz meu pedido, todo cheio de mim e apelei: “Olha, fala para seu patrão que quem está solicitando isso é o fulano, que ele conhece e não há nada que desabone nossa amizade!”.
Pela demora, pensei até que o vendedor tivesse pegado o documento, saído pelas portas do fundo da loja e se dirigira ao banco para confirmar se havia o tal de “fundos”. Finalmente apareceu. Pensei: “Macuco no embornal, vou levar a mercadoria!”.
Secamente o profissional disse: — Infelizmente o patrão, seu “amigo” disse que não pode abrir exceção para ninguém. São normas, sabe como é né!”.
Verdadeiramente me senti um Zé ninguém, a não merecer sequer um “bom dia” daquele empresário a quem julgava ser um conhecido, alguém de quem eu pudesse merecer melhor consideração.
Saí dali e prometi a mim mesmo. Neste local, não passo mais, nem na frente, até morrer. Pago mais caro, vou a Araçatuba, Penápolis, Lins, onde for preciso, mas meu dinheiro esse cara não verá mais.
Ainda aborrecido, afinal você acha que é um ser, fui até outro estabelecimento.
Cheguei e comecei a explicar: “Olha fulano, prestei um serviço fora de Birigui, recebi um cheque e…”
O comerciante nem esperou terminar a frase e disse:
—- Eu troco pra você, independente do valor!
Não deixei transparecer que ia comprar qualquer mercadoria dele. Como me conhece, simplesmente quis exercer a sua melhor versão naquele momento, dar uma cota de crédito a um indivíduo que tem certeza, jamais iria lhe causar qualquer prejuízo.
Sabe a diferença deste comerciante para o “senhor das normas”? Um dia ele me contou a seguinte história. Depois que dois clientes saíram de seu estabelecimento comercial, chamou seu sócio, que por sinal é seu irmão e lhe perguntou:
— Você sabe onde moram esses dois clientes que acabaram de sair?
— Claro que sei! A no mínimo uns seis quilômetros de distância daqui.
— Pois é, poderiam ter feito a compra em qualquer supermercado, devem ter passado em frente a, pelo menos. dois, mas optaram espontaneamente em nos dar a preferência. Percebe como devemos tratá-los de forma digna, com todo respeito?
Preciso escrever mais alguma coisa?
“Uns donos de negócios choram a vida inteira, a lamentar a falta de clientes, enquanto comerciante como este que se prontificou em trocar o cheque, é o que vende lenços para eles!”.
Pesquisas científicas comprovam que cada consumidor descontente espalha a “boa fama” da empresa que o atendeu mal para 250 pessoas ao longo de sua vida. Imagine o que acontecerá com essa organização, pois sou palestrante, ministro cursos na área de atendimento a clientes e utilizo exemplos – positivos e negativos para ilustrar minhas pregações. Será que essa empresa que atendeu com menosprezo ficará conhecida só para os 250??? Multiplique por 10, no mínimo. Propaganda gratuita, no famoso “boca a boca”.
Nalberto Vedovotto é coach, jornalista e escritor em Birigui
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