A ligação para o telefone 188, de prevenção ao suicídio, passou a ser gratuita em todo o país a partir do dia 1º de julho, graças a uma parceria entre o CVV (Centro de Valorização da Vida) e o Ministério da Saúde. Desde 2017, o número do CVV era disponibilizado gratuitamente para 23 estados brasileiros, mas não contemplava a Bahia, Maranhão, Pará e Paraná.
O telefone funciona 24 horas por dia e, ao ligar, do outro lado da linha, a pessoa que busca ajuda terá à disposição voluntários aptos a ouvir, conversar e dar apoio emocional. Tudo feito no mais completo sigilo.
Por ano, o CVV realiza mais de 2 milhões de atendimentos anuais, por aproximadamente 2,4 mil voluntários. Além do telefone, o serviço também é disponibilizado pessoalmente nos 89 postos de atendimento em todo o país ou por meio do site, chat, Skype ou e-mail, que podem ser acessados no www.cvv.org.br.
Criado em 1962, o CVV é um órgão sem fins lucrativos, dedicado a ajudar pessoas que precisam de apoio emocional e que estejam passando por alguma dificuldade. A maioria recorre ao órgão por que, em muitos casos, não consegue se abrir com amigos e familiares, e acham mais fácil falar com um desconhecido.
De acordo com a psiquiatra e membro da ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria), Anelisa Louzada Vicente, de Araçatuba, quando a pessoa conversa e conta suas angústias, isso faz com que ela alivie o impulso. “Muitos suicídios são cometidos por impulso. A pessoa não tem tempo de pensar. Ao fazer um telefonema para um serviço de ajuda e prevenção, ela terá a oportunidade de falar. Do outro lado da linha, a pessoa que está ouvindo, vai ter a oportunidade de oferecer apoio e, o mais importante, orientar esse cidadão a procurar ajuda médica”, explica.
A psiquiatra explica que o fato de o suicídio ainda ser um tabu na sociedade, dificulta muito a solução do problema e a ajuda à pessoa que precisa. “Recebo pacientes em meu consultório que relatam o desejo de tirar a própria vida. O familiar que os acompanha, geralmente, reage com espanto, indignado com essa possibilidade. O que as pessoas precisam entender é que se trata de um caso de saúde pública”, afirma.
Ela destaca que esse tipo de comportamento faz com que a pessoa que precisa de ajuda se feche ainda mais e não consiga falar sobre o assunto com os mais próximos. Isso justifica, em alguns casos, o apelo feito, principalmente em redes sociais e demais canais, dando indícios de que há intenção de suicídio. “Essa história de que ‘quem fala não faz’ ou de que a pessoa só quer chamar a atenção insinuando que quer tirar a própria vida, não existe. Estatisticamente, é comprovado que quem fala que vai cometer suicídio, realmente comete. E ninguém que está bem precisa chamar atenção. Isso é sinal de algo não está bem e as pessoas próximas precisar estar atentas”, enfatiza.
Segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), a cada 40 segundos, uma pessoa se suicida no mundo. Por ano, são 800 mil suicídios, sendo a segunda principal causa de morte entre jovens com idade entre 15 e 29 anos.
DIVERSAS TENTATIVAS
“Minha vida era um lixo!”. É assim que Janimara Santos de Lima, de 31 anos, define o período em que teve depressão profunda e que cometeu diversas tentativas de suicídio. “Eu perdi as contas de quantas vezes tentei me matar. Eu era muito infeliz, nada fazia sentido. Eu só pensava em morrer”, destaca a vendedora, que há oito anos superou o problema e hoje consegue falar da situação com tranquilidade.
Janimara explica que problemas familiares e de relacionamentos foram os principais motivos que a levaram às tentativas. “Não havia diálogo dentro de casa. Meus pais brigavam muito, entre eles e comigo também. Até que chegou ao ápice de eles me colocarem pra fora de casa e eu ir morar na rua”, relembra ela, que nesse período tinha uma filha com apenas 4 anos de idade.
E foi nas ruas, machucada e sem destino, que ela encontrou um motivo para viver. Foi socorrida por voluntários de uma instituição que oferece ajuda a moradores de rua, em Araçatuba, e tudo mudou. “Me deram abrigo, apoio e me fizeram retomar o sentido da vida”, destaca.
Casada e com a filha com 12 anos hoje, ela não só se recuperou como também se tornou voluntária da instituição que a tirou das ruas. “Hoje eu sou muito feliz, sei realmente o que é ter amor e família. Fico muito realizada em poder ajudar pessoas que um dia estiveram na mesma situação em que eu estive. Hoje sou uma pessoa realizada”, afirma.
Taxa de suicídio cresce 10% entre adolescentes
Dados do Mapa da Violência 2017, estudo mais recente publicado a partir de dados oficiais do SIM (Sistema de Informações de Mortalidade) do Ministério da Saúde, apontam que o número de suicídios entre os jovens cresceu 10% no Brasil desde 2002.
A informação intriga pais, professores e especialistas, porque aponta um sofrimento num período da vida associado a descobertas, alegrias e amizades, e não a tristeza e morte.
Normalmente, o problema está associado a questões psicológicas, abusos de álcool ou drogas, e também à violência (sexual, física e psicológica). “Pode ser que na infância, esse adolescente tenha sofrido traumas e abusos com os quais ele não consegue lidar. E justamente por ser uma idade em que há muitas transições e mudanças, isso tudo pode vir à tona fazendo com que ele não dê conta de administrar as emoções”, ressalta Anelisa.
A psiquiatra enfatiza que a maior parcela de ocorrências de suicídios está ligada a doenças psiquiátricas, como depressão, TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo), esquizofrenia, transtorno bipolar, transtorno de pânicos, entre outros. Porém, revela que nem sempre é devido a esses problemas. Segundo ela, muitos outros fatores levam a pessoa a tirar a própria vida.
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