O ex-ministro da Justiça José Eduardo Cardozo (PT) classificou o governo do presidente Michel Temer (MDB) como um “terremoto institucional”, que ele havia previsto durante o processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), em 2016, no qual ele foi advogado. Ele esteve ontem na região para receber o Título de Cidadão Biriguiense pela Câmara local.
“Disse que eu temia pessoalmente que, se o impeachment fosse consumado, as instituições não parassem mais em pé. Infelizmente, isso se mostrou uma verdade. Lembro-me de um constitucionalista americano que dizia que o impeachment presidencial, quando não tem causa, é um terremoto político, que permanece até que ocorra um processo de legitimação por meio das urnas”, afirmou Cardozo.
O ex-ministro defendeu a candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e assinalou que a condenação dele foi feita sem bases jurídicas. Confira a entrevista que Cardozo concedeu, com exclusividade, à Folha da Região:
O senhor foi advogado da ex-presidente Dilma no processo de impeachment no Senado. Faz dois anos que isso aconteceu. Como o senhor avalia o período?
Quando fiz a defesa da ex-presidente no Senado, falei algumas vezes que não existia saída para o Brasil fora da democracia. O processo de impeachment foi infundado. Não havia crime de responsabilidade. Custou-se tanto para se consolidar o Estado de Direito e ali nós tínhamos um processo que evidentemente não se justificava. Disse que eu temia pessoalmente que, se o impeachment fosse consumado, as instituições não parassem mais em pé. Infelizmente, isso se mostrou uma verdade. Lembro-me de um constitucionalista americano que dizia que o impeachment presidencial, quando não tem causa, é um terremoto político, que permanece até que ocorra um processo de legitimação por meio das urnas.
O governo Temer tem sido um terremoto institucional: um Executivo fragilizado, mergulhado em denúncias de corrupção, que segue o programa do derrotado por Dilma Rousseff nas urnas, (o senador) Aécio Neves (PSDB-MG). Ou seja, um programa que não foi eleito. Ao mesmo tempo, o Legislativo está enfraquecido e o Judiciário parece que tem dificuldade em encontrar seus limites.
Aquilo que poderia ser uma crise econômica facilmente vencida, assim como a crise política desde que Eduardo Cunha (MDB) assumiu a presidência da Câmara, se transformou numa crise institucional que desequilibra o País, fazendo com que ele desça ladeira abaixo. Nós éramos respeitados no mundo.
Na época em que eu era ministro da Justiça, quando ia para o exterior, as pessoas falavam de um Brasil pujante. Hoje, as pessoas nos olham como se fôssemos uma “república de bananas”. Quem não respeita a sua institucionalidade, não se faz respeitar.

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