Após 95 anos de existência da Câmara de Birigui, a técnica em enfermagem aposentada Ângela Galvão (PSC), de 54 anos, se tornou a primeira mulher negra a tomar posse do cargo de vereadora. Ela assumiu uma cadeira no Legislativo na terça-feira (19), como suplente, após o seu titular, Cesinha Pantarotto (Podemos), ter se licenciado por dez dias
Desde então ela tem sido abordada por várias pessoas aonde vai, seja na fila do banco ou no transporte coletivo, que, além de falarem sobre o que precisa ser feito na cidade, tratam-lhe com muito carinho. “Confesso que não esperava tamanho carinho e consideração da população pela minha pessoa”, afirmou Ângela.
A primeira disputa eleitoral dela foi em 2004, quando estava filiada ao MDB. Na ocasião, ela recebeu 505 votos, ficando como segunda suplente. Já no último pleito, em 2016, Ângela conquistou 515 votos. Em uma de suas conversas com a população, chegaram a sugerir que, agora, ela devia deixar de utilizar o transporte público coletivo.
“De forma alguma. Esse contato direto com a população é o que faz a política ser saudável”, disse a parlamentar, que trabalhou por 30 anos em uma UBS (Unidade Básica de Saúde) no bairro Toselar. Ela comentou que pretende lutar pela saúde, meio ambiente, educação e cultura, bem como defender a diversidade cultural.
Confira a entrevista que ela concedeu à Folha da Região:
O que a senhora sentiu quando ficou sabendo que ia assumir uma cadeira de vereadora na Câmara?
Desde que eu comecei a me preparar para entrar nas eleições de 2016, já esperava esse momento acontecer, por causa do trabalho que realizei. Só não tinha ideia de quando seria. Mas o trabalho estava feito e eu fiquei bem tranquila em relação a isso, até porque o titular desta cadeira, o Cesinha Pantarotto, tinha dito que a qualquer momento eu seria convocada para estar aqui quando ele não pudesse.
E o que a senhora pensou ao saber que estava fazendo parte de um momento histórico da Casa?
Senti uma satisfação muito grande. Hoje, embora todo o problema do preconceito que ainda existe, nós mulheres estamos tendo um espaço muito bom dentro da sociedade. A minha etnia, hoje, está sendo bem mais valorizada em decorrência de todos os movimentos que têm trabalhado para quebrar tabus e fazer com que a mulher negra tenha seu espaço.
Mas a presença da mulher na política ainda é pequena. Como a senhora vê isso?
Acho que a mulher deveria saber mais a respeito das políticas públicas. Elas ainda não têm essa consciência. Já existem trabalhos para isso, mas ainda está muito devagar. É bem moroso o processo, mas o importante é que elas já estão despertando para se tornarem mulheres mais atuantes e participativas.
Quais são as suas bandeiras políticas?
A primeira causa que quero trabalhar é pela saúde, que já faz parte da minha história de vida. Para mim, o meio ambiente é fundamental. Nós precisamos de espaço para respirar e respirar bem. Outro segmento que pretendo focar é a educação. Sem ela não há como se chegar a lugar algum. Também quero defender a cultura. Somos um povo miscigenado. Gosto muito da diversidade e é muito importante acolher todas as pessoas.
Qual impressão a senhora teve de sua primeira sessão?
Confesso que cheguei um pouquinho ansiosa, pois eu só assistia às sessões e nunca tinha entrado no plenário. Achei bastante organizada e bem direcionada. E fui muito bem acolhida.
São poucos dias, apenas dez, o que a senhora pretende fazer nesse período?
Como é um tempo bem reduzido vou procurar aprender e buscar fazer algumas indicações. Primeiro para o meu bairro, o Eurico Caetano, e depois para outros lugares da cidade. Já tive a oportunidade de fazer algumas indicações.
Como está lidando com a repercussão da sua posse?
Confesso que não esperava tamanho carinho e consideração da população pela minha pessoa.
Agora que é vereadora pretende deixar de andar de coletivo?
Não. De forma alguma. Esse contato direto com a população é o que faz a política ser saudável.
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