Uma pesquisa do SPC Brasil (Serviço de Proteção ao Crédito) e da CNDL (Confederação Nacional de Diretores Lojistas) aponta que um em cada cinco usuários faz do cartão de crédito uma extensão da própria renda. Isso acontece porque o salário do mês acaba e, desta forma, consegue adiar o pagamento das contas.
Esse é o caso da atleta Kelly Cristina da Silva. Ela diz que tem dois cartões de crédito, que utiliza para compras em farmácias e supermercados. “Fica mais pra coisa de urgência, que não tem como deixar de comprar, né? Tem hora que acabou em casa, não tem dinheiro, só tem cartão, e compra do jeito que dá. Primeiro você quer pagar todas as contas, mas o dinheiro termina. Aí, a gente apela pro cartão”, afirma.
O problema é que conforme os gastos aumentam, a atleta não consegue pagar toda a fatura e entra no crédito rotativo. Ela lembrou que no começo do ano estava mais apertada por causa das contas de dezembro e, só agora, se sente mais aliviada.
Para a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti, o grande perigo de achar que o cartão de crédito funciona como renda complementar é o endividamento, porque muitos perdem controle dos gastos e compram além do que conseguem pagar quando a fatura chega.
“É preciso cuidado. Se o dinheiro que o consumidor dispõe já não está sendo suficiente para cobrir os atuais gastos, certamente não será o bastante para pagar as despesas do mês seguinte, quando terá de arcar com a fatura do cartão de crédito e também quitar as contas do mês”, alerta a economista.
A auxiliar administrativo Nathalia do Vale Moreira, 19 anos, fala que utiliza o cartão como um recurso para fazer compras no decorrer do mês, já que o salário não dura tanto. “Eu uso o cartão até estourar o limite, já que com o salário só consigo pagar as contas básicas. Os produtos de higiene pessoal ou quando quero sair, é tudo no cartão”, conta. Ela destaca ainda que mesmo o limite do cartão de crédito às vezes não dura o mês inteiro. “A fatura já faz parte das despesas do mês”, afirma.
Por outro lado, 44% dos entrevistados que utilizam o cartão afirmaram usá-lo apenas em casos de necessidades pontuais ou imprevistos, ao passo que 38% para parcelar as compras e 34% para facilitar o pagamento na internet. O levantamento mostra ainda que quatro em cada dez consumidores (41%) usuários de cartão já deixaram de fazer compras em estabelecimentos que não aceitam essa forma de pagamento: 41% em bares, restaurantes e lanchonetes; 35% não compraram com ambulantes; 19% desistiram de abastecer em postos de combustíveis. Outros 27% acabaram pagando as compras de outra forma.
Na maior parte das vezes (46%), o cartão de crédito é usado para fazer compras pela internet. 44% utilizam quando não estão com dinheiro para pagar à vista e 37% se o valor da compra for elevado. Outros 24% disseram dispor do cartão em quase todas as compras, independentemente do valor do bem adquirido.
A pesquisa também constatou que mais da metade dos gastos com cartão de crédito (54%) é para comprar roupas, calçados e acessórios – percentual que aumenta para 60% entre as mulheres. Em seguida vêm os eletrônicos (44%), as compras de supermercado e alimentos para casa (43%), e itens de farmácia (40%). Os pesquisadores ouviram 910 consumidores no mês de março, nas 27 capitais brasileiras: de ambos os gêneros, todas as classes sociais e acima de 18 anos. Cada entrevistado poderia apontar três alternativas de resposta. Colaborou Heloisa Alves.
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