Uma carreira iniciada há mais de 20 anos permeando uma trajetória sólida com empenho, seriedade e comprometimento destaca a grande Personalidade da semana, Paulo Augusto Leite Motooka.
Recentemente nomeado Coronel da Polícia Militar, patente máxima da instituição, é graduado, mestre e doutor em Ciências Policiais de Segurança e Ordem Pública além de graduado em Direito e Psicologia sem contar as outras especificações em seu vasto e valoroso currículo.
Adepto aos esportes, tem na corrida uma grande paixão. Pai e marido dedicado, a família é o que o motiva e inspira a sempre seguir em frente, persistir e vencer representando, também, o momento para descanso e tranquilidade.
Como ingressou na carreira militar?
Desde criança, com aproximadamente 12 anos, havia escolhido a carreira militar. Inicialmente, tentei a carreia no Exército, mas quando fui informado sobre a Academia de Polícia Militar do Barro Branco por um amigo, em 1986, logo decidi pela carreira policial militar e ingressei no ano de 1987, com 17 anos de idade.
Qual sua visão da carreira após a passagem pela Academia?
A carreira é promissora, mas exige muita dedicação, disciplina, privações, comprometimento com a causa pública, ética e estudo. Muitas vezes, é preciso abdicar de momentos de lazer, com a família e desejos, pois ao militar é exigida a dedicação exclusiva, disponibilidade, vigor físico, formação específica e atualização permanente, proibição de atividade política, sindicalização, direitos trabalhistas restringidos, dentre outros.
Sua formação inclui vários outros cursos e estágios de especialização, estudos específicos, isso lhe proporcionou uma visão diferenciada sobre a segurança pública?
Sem dúvida nenhuma! Para atuar na segurança pública com autoconfiança e segurança é preciso dominar as técnicas e os procedimentos operacionais. De outro modo, fez com que tivesse mais clareza sobre os propósitos de servir à sociedade paulista e ao cidadão de bem.
Mediante o crescimento da região, como você qualifica a equipe ideal para atingir os objetivos de segurança? Qual a avaliação que faz da tropa hoje?
Qualquer assertiva sobre segurança é relativa e alcança a subjetividade das pessoas. O que é ideal para uma pessoa, pode não ser para outra. De posse dos dados estatísticos registrados, posso dizer que a região noroeste do Estado é segura e tranquila, contudo, uma pessoa que foi vítima de uma ação violenta pode não ter a mesma percepção.
Diria que os objetivos e metas estabelecidos pela Secretaria de Segurança Pública de SP, estão sendo atendidos com relativa margem de folga. Por outro lado, a sensação de segurança do cidadão oscila muito, tanto em função de um ou outro fato ocorrido no município, quanto pela influência da imprensa ao noticiar repetidamente um determinado crime violento.
A tropa, constituída por homens e mulheres, oriundos da sociedade, realiza um trabalho excepcional na nossa região. Não temos casos recorrentes de desvios de conduta ou que depõem contra a instituição. Isso já é uma grande variável a ser considerada.
Aqui no interior o controle social sobre o policial militar é muito grande, uma vez que o militar conhece muitas pessoas e também é conhecido pela função pública. A partir disto, ainda que esteja em horário de descanso fica sob o julgamento e observação do cidadão.
Você recomendaria a carreira militar para seu filho?
Certamente. Pela decência, disciplina, valores, culto ao patriotismo, honestidade, a dignidade humana, dentre outros.
De outro modo, o reconhecimento ao trabalho policial e à área de segurança pública na cultura brasileira deixa muito a desejar, seja pelo salário, pelo respeito à autoridade do policial ou mesmo pelo papel social que realiza. Hoje, os criminosos agridem verbal e fisicamente o policial, desacatam e ameaçam de maneira muito acintosa e ousada.
Atualmente, com a mudança do pensamento popular em relação às posturas de justiça, você sente maior apoio da população em relação a polícia?
Não muito. A compreensão do senso comum sobre a segurança e justiça criminal ainda é precoce, mas certamente irá melhorar com o tempo. Muitas pessoas ainda acreditam que a polícia militar deve ter uma postura agressiva e, por vezes, violenta contra os criminosos. Isso, em outras palavras, diz que o policial militar deve fazer justiça com as próprias mãos.
Discordo em todos os sentidos, pois o papel social da polícia se resume em aplicar a lei, restabelecer a ordem e a tranquilidade pública e proteger a vida e a integridade física do cidadão, seja ele quem for.
Qual a sensação de alcançar o cargo de coronel, a última patente da carreira militar?
Uma sensação indescritível de conquista, vitória, de um sonho realizado. Quando ingressei na carreira militar estabeleci como desafio chegar ao último posto e finalmente consegui.
Apenas para esclarecimento, atualmente somos em 63 coronéis no Estado de SP para um efetivo aproximado de 90 mil homens e mulheres. Para promoção a coronel, além do mestrado e doutorado concluídos, após aprovação em concurso interno, é preciso ter tido uma carreira sem comprometimento profissional, ético e social, receber o aval da corregedoria e do serviço reservado, e ser aprovado em votação no Conselho de Coronéis integrado pelo Alto Comando da corporação.
Você esteve sempre à frente das estratégias visando à implantação de políticas na área de segurança pública. Dentro do que já foi discutido, o que foi implantado e o que poderá melhorar?
A polícia militar tem como pilares institucionais a Polícia Comunitária, os Direitos Humanos e a Gestão pela Qualidade.
As variáveis desses pilares rumam à aproximação do policial com o cidadão, seja no atendimento da ocorrência, na ligação para o 190 ou na prestação de uma informação, consubstanciando nas premissas da polícia comunitária, enquanto uma filosofia de polícia, um pensamento e não somente uma estratégia ou técnica.
No que diz respeito aos direitos humanos, o aprimoramento constante do policial militar no que diz respeito ao emprego dos recursos não letais, uso da força progressiva e da arma letal, passando pela respeito à vida e integridade física, e à dignidade da pessoa humana constituem a política central da corporação.
Mais recentemente, estamos concretizando o trabalho de Mediação Comunitária, mediante um trabalho conjunto e integrado com o Poder Judiciário a partir do Cejusc.
Num futuro não muito distante, nesse país à beira de possíveis e necessárias mudanças, o que prevê para a corporação?
Ciclo Completo de Polícia – atualmente podemos dizer que temos duas polícias fazendo metade do trabalho cada uma. Temos a polícia civil que trabalha com a investigação; e a policial militar com a prevenção e a repressão imediatas.
Ciclo Completo de Polícia consiste na atuação plena das instituições policiais, isto é atuar na prevenção, na repressão e na investigação. Esse é o modelo adotado na Europa, América do Norte e América do Sul.
Exceção de três Países no mundo: Brasil, República de Cabo Verde e República Guiné-Bissau, todos os outros adotam o ciclo completo para as suas polícias.
Trabalho atual: deslocar horas para chegar a uma delegacia e ficar por tempo indeterminado esperando para ser atendido, chegando, em alguns casos, a passar praticamente um serviço inteiro com uma única ocorrência.
Com o ciclo completo, nas infrações de menor potencial ofensivo, as partes podem ser liberadas no local, e nas de maior potencial ofensivo, a própria polícia que efetuar a prisão fará os demais atos, resultando em agilidade e economia.
Toda ação será devidamente valorizada e cada atuação que o policial fizer, terá consequências legais para o infrator, o que hoje infelizmente sabemos que nem sempre ocorre.
Cada polícia atuaria de forma plena, do início ao término da ocorrência, diminuindo assim a interdependência que existe hoje, onde nenhuma das duas consegue prestar um serviço completo aos cidadãos.
Nos EUA, por exemplo, há mais de 18 mil agências policiais de ciclo completo e, muitas vezes, atuam na mesma área territorial e nem com 18 mil polícias há tantos conflitos como ocorre no Brasil com apenas duas “meias polícias” em cada Estado.
Qual a maior dificuldade de um policial hoje?
A sobrecarga de horas trabalhadas e o salário defasado.
Mediante todo o perigo a que é exposto um policial, a remuneração faz jus à profissão?
Não! Jurar defender e servir à sociedade, mesmo com o sacrifício da própria vida, isto a qualquer hora do dia e da noite. Na prática, deixam em segundo plano a própria família. Isto está bem claro diante do número de policiais militares que já morreram neste ano em São Paulo e no Brasil.
A profissão é extremamente estressante e de alto risco, basta pensar que enquanto o cidadão comum corre em sentido contrário ao criminoso armado, o policial militar vai ao seu encontro para enfrenta-lo, é algo insano de ser entendido e compreendido.
Por estas questões penso que uma contrapartida remuneratória e de proteção social (previdenciária) justa é imprescindível ao policial militar.
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