Para a prefeita de Andradina, Tamiko Inoue (PCdoB), a violência está ligada à realidade econômica e social do País. Um dos problemas de seu município é a guerra entre gangues, que ela acredita ter origem no tráfico de drogas. Segundo Tamiko, um jovem que não tem emprego, cuja família não tem dinheiro, acaba buscando dinheiro em uma vida incorreta para comprar o que necessita.
De acordo com a chefe do Executivo, a educação está na base do combate à violência. “Ela vai despertando a consciência das pessoas, que poderão melhorar suas condições de vida”, comentou Tamiko, que foi entrevistada para a série da Folha da Região em que os prefeitos analisam os desafios do próximo presidente.
Confira trechos da entrevista:
ECONOMIA
“Essa crise é mais política do que econômica. É muito mais uma crise moral, de credibilidade e confiabilidade. Acho que é necessário que se resgate a confiança no governo federal, principalmente. Os casos de corrupção acabaram desacreditando a classe política. O próximo presidente vai ter que fazer algo nesse sentido. Vai depender também da escolha que o povo brasileiro vai fazer”.
HABITAÇÃO
“Eu não conheço toda a realidade nacional. O Estado de São Paulo é bem atendido seja pelo governo federal ou pelo Estado. Pelo menos nas cidades do interior, o programa Minha Casa Minha Vida contemplou uma boa parcela das pessoas que realmente necessitavam. Andradina teve muitos projetos e, aqui, não tem mais tanta falta (de habitação). Acho que deveriam ter esses incentivos não só dos empresários, mas dos governos do Estado e federal. Poderiam voltar aqueles programas das Cohabs”.
REFORMA AGRÁRIA
“A reforma agrária é uma necessidade, ainda mais em um País como o nosso, com tantas terras para ser cultivadas e muita gente com aptidão agrícola, mas que não consegue o seu pedaço. O Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) precisa ter critério mais rigoroso na hora da seleção das pessoas que vão ganhar as terras. A gente vê muitas ganhando um lote, mas que não têm vocação para agricultura e vemos alguns fracassos, como propriedades dentro de assentamentos que não estão produzindo nada. Acho necessária muita assistência técnica, com possibilidade de financiamento, inclusive”.
EDUCAÇÃO
“Acho que os repasses do Fundeb (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação) devem ser maiores. Aqui em Andradina, por exemplo, o repasse do governo federal não cobre a nossa folha de pagamento dos professores. Estamos injetando muito dinheiro para pagá-los. Investimos cerca de 30% não só os 25% obrigatórios. Para uma melhora geral, os recursos da União deveriam ser descentralizados, indo para os municípios, que é onde tudo acontece, onde mora o cidadão e as necessidades são realmente concretas. Mesmo o governo do Estado está distante. São órgãos abstratos. Isso facilitaria o trabalho dos gestores municipais, pois sabemos que os municípios estão com a corda no pescoço”.
SAÚDE
“De todas as situações, acho que a saúde é a mais difícil. Na nossa cidade é preciso utilizar bastante criatividade e estratégias para poder atender a todos. Tenho certeza que todos os municípios estão investindo mais do que os 15% que são obrigatórios. Andradina já está passando dos 30%. E a gente tem bastante surpresa na saúde por causa da judicialização. Situações que a gente não espera e outras que não são atribuições do município. A nossa atribuição é o atendimento básico, mas aparecem necessidades de todas as categorias. A gente gasta muito para transportar pacientes para outras cidades que têm atendimento de média e alta complexidades. Tem que ocorrer muitas mudanças. O presidente tem que pensar nos prefeitos. Por enquanto, estamos conseguindo pagar os profissionais da saúde e fornecedores em dia. Neste ano, tivemos a sorte de ter recursos da usina hidrelétrica Três Irmãos.
INFRAESTRUTURA
“O governo vai ter que investir muito em rodovias federais. O Estado de São Paulo é o que tem as melhores rodovias, porque tem investimento do governo estadual, mas a gente que viaja para outros Estados e conhece outros prefeitos sabe que a situação é feia. É preciso muito investimento, principalmente na pavimentação. O ex-prefeito Jamil Ono (Patriota) teve muita sorte de receber recursos do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) que deram para pavimentar boa parte da cidade. Mas ainda têm muitas ruas em bairros periféricos que precisam. Tem a parte de saneamento básico, que é uma questão de saúde pública. O Brasil tem um índice ainda muito pequeno de esgoto tratado. É preciso prevenir, pois muitas doenças são causadas por falta de saneamento”.
SEGURANÇA PÚBLICA
“Acho que tudo vem da formação, da educação, das questões sociais e econômicas. As pessoas que estão ociosas, que não têm perspectivas de melhora, acabam entrando em caminhos errados para sobreviver. Muitas vezes a questão da violência está ligada à falta de infraestrutura econômica. A educação é base para tudo. Ela vai despertando a consciência das pessoas, que poderão procurar melhorar suas condições de vida. Temos aqui em Andradina a atividade delegada e esses policiais militares (que trabalham nos dias de folga pelo município) têm nos ajudado muito. A guerra de gangues aqui ocorre por causa do tráfico de drogas, que é uma consequência da situação econômica. Muitos jovens querem comprar coisas, mas não têm trabalho, a família não tem dinheiro, e vão procurar um caminho mais ‘fácil'”.
CULTURA
São necessários mais recursos e incentivos para os programas culturais. Muitas vezes a gente quer desenvolver projetos, mas não tem uma estrutura para trazê-los. Acho que o governo federal precisa repassar programas e recursos para a cultura”.
COMBATE À CORRUPÇÃO
“É preciso uma legislação rigorosa, uma fiscalização e acompanhamento, embora a gente já tenha, como os Tribunais de Conta do Estado e da União. Mas têm coisas que, muitas vezes, fogem do controle desses órgãos. Depende muito do caráter e perfil das pessoas que estão ocupando os cargos públicos para o combate à corrupção. Tem que haver devolução de recursos desviados. A corrupção deixa áreas, como a saúde e educação, desfalcadas. As pessoas que fazem isso não pensam que o dinheiro vai fazer falta em outro lugar e as desigualdades vão aumentando cada vez mais”.
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