Após ter provocado polêmica nesta semana, o projeto que pretende limitar a leitura de trecho da Bíblia antes das sessões em três minutos será votado em segunda e última discussão pela Câmara de Araçatuba na próxima segunda-feira (4). Ele foi aprovado em primeiro turno por dez votos a cinco.
O vereador Lucas Zanatta (PV), que é evangélico, votou pela aprovação da delimitação e pretende manter seu posicionamento na segunda deliberação da proposta. Para ele, é natural que tenha uma regulamentação do tempo para a leitura da Bíblia, sendo que três minutos são mais do que suficientes. Zanatta afirmou que na igreja que frequenta tem um controle de tempo para a leitura do livro sagrado.
“(Limitar o tempo) não está desmerecendo a reflexão bíblica. A leitura tem que ser concisa e pontual. Nós temos vários tempos regulamentados, como os de voto de aplauso, e não há nada de ruim nisso”, comentou Zanatta.
Já o parlamentar Gilberto Mantovani, o Batata (PR), votou contrário à proposta e também não pretende mudar sua opinião. Ele afirmou que é preciso deixar o tempo livre, pois alguns versículos podem ser maiores. Além disso, Batata disse que o parlamentar Almir Fernandes Lima (PSDB) se desculpou por ter demorado na leitura do “Sermão da Montanha” durante uma sessão.
“Não precisa restringir a palavra. Tem voto de aplauso e de pesar cuja discussão demora 20 minutos. Então teria que limitar também. Acho que cada vereador tem que ser responsável por sua leitura”, falou Batata.
DISCUSSÃO
O projeto é de autoria do vereador Arlindo Araújo (PPS). Ele foi proposto após Almir ter demorado quase oito minutos na leitura de trecho da Bíblia antes do início de uma sessão ordinária. Na sessão, Arlindo pediu ao presidente Rivael Papinha (PSB) que limitasse o tempo para a leitura. Papinha sugeriu, então, que o pepessista apresentasse a proposta, que tem como objetivo evitar abusos.
Na segunda-feira (28), a discussão da propositura, protagonizada por Arlindo e Almir, foi acalorada. O tucano falou que não tinha cometido nenhum abuso durante a leitura e que, para ele, o momento dedicado à Bíblia nas sessões é relevante. Arlindo explicou que não pegava bem o vereador se aproveitar da ocasião para falar da palavra de Deus, visando se projetar como o mais religioso.
O assunto dividiu opiniões no Facebook da <CF192>Folha da Região</CF>. Um leitor escreveu que o Estado é laico e que a leitura da Bíblia durante as sessões não deveriam nem existir. Já uma leitora demonstrou preocupação com o projeto. “Hoje é o tempo que leem a Bíblia. Amanhã eles proíbem ler a Bíblia inteira. É o fim dos tempos mesmo”, postou a internauta.
IMPORTANTE
Almir disse à Folha da Região ontem que a leitura da Bíblia é importante, pois os ânimos se alteram durante as sessões. “Eu comecei a preparar as leituras na Câmara e vi que o público estava vendo isso com bons olhos, mas percebi que acabou desagradando alguns vereadores. Jamais tive interesse de irritar alguém com as minhas leituras”, afirmou Almir.
Segundo o tucano, a situação poderia ter sido resolvida com uma conversa, sem qualquer problema. “Acho perda de tempo e dinheiro para a Câmara um projeto dessa envergadura. Temos coisas mais importantes para discutir do que ficar colocando em conflito política e religião, coisas que eu acho que não devem se misturar”, falou o parlamentar.
Questionado a respeito da leitura da Bíblia conflitar com o Estado laico, Almir disse que ser laico não significa ser anti-religião. “O Estado, por ser laico, ampara todas as religiões, ao contrário do laicivismo que as combate”, falou o tucano.
A reportagem não conseguiu contato com Arlindo até o fechamento desta edição.
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