Uma pesquisa inédita do Monitor de Debate Político no Meio Digital, órgão da USP (Universidade de São Paulo), mostrou que grupos de família costumam ser o principal vetor para a multiplicação de notícias falsas dentro do WhatsApp. E não é difícil encontrar quem já recebeu e compartilhou uma notícia desse tipo. As chamadas fake news, as informações falsas ou ao menos distorcidas, espalhadas nas redes sociais são o principal debate entre os políticos para as eleições deste ano.
Para a professora de Língua Portuguesa Ayne Salviano, fake news é igual boato: algumas pessoas têm prazer em divulgar mentiras. “No caso das famílias propagadoras há um agravante, porque as pessoas confiam no familiar, confiam no que ele repassa sem questionar”, referindo-se aos grupos de WhatsApp.
“O pior do fake news é que ele confirma a tese de que uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade. Quem dizia era Joseph Goebbels, homem que coordenava as ações de comunicação de Adolf Hittler”, completa.
Para a professora, os veículos de comunicação tradicionais precisam reconquistar a confiança do público, criar campanhas publicitárias para esclarecer, “e os jornalistas profissionais têm responsabilidade de não deixar essa praga crescer mais”.
A estudante Maria Paula Coqueiro passa por situações como essas em grupos de WhatsApp da família. “Tenho alguns parentes que compartilham com o grupo notícias sem pé e nem cabeça. Um exemplo foi sobre o pagamento de multa referente a biometria e sobre pagamentos de bancos”, afirma.
“O grupo em si nem liga. Eu acabo ligando mais, por cursar jornalismo e saber quais são os sites oficiais e confiáveis. Teve uma vez que eu mandei uma notícia que ia contrária à fake news que um tio meu mandou no grupo. Meus tios acreditam, sim. Minha mãe e irmã eu sempre aviso quando vejo que são fake news, falo para elas deletarem ou não acreditarem”, completa.
Para a também estudante Mariana Páscua, as informações falsas nos grupos da família são constantes. “Principalmente aquelas correntes dizendo ser alerta sobre algum remédio ou campanha de vacinação. Eu leio e ignoro, nem falo nada assim como a maioria que sabe que não é verdade, mas sempre tem algum tio ou tia desinformado que acaba compartilhando. A maioria não acredita”, finaliza.
ESTUDO
Para chegar a essa conclusão, o grupo da USP distribuiu um formulário online e analisou as respostas de 1.145 internautas que haviam recebido fake news a respeito da vereadora Marielle Franco (PSOL), que foi assassinada no dia 14 de março.
O boato dominante afirma que a professora e socióloga era ex-namorada de um traficante, tendo engravidado dele aos 16 anos de idade. Das 916 pessoas que receberam tal informação incorreta, 51% afirmaram que o texto foi recebido em grupos compostos apenas por membros de sua própria família. Logo em seguida, representando 32% dos entrevistados, vieram aqueles que receberam a fake new em grupos de amigos; 9% receberam em grupos de trabalho e mais 9% receberam em mensagens privadas.
Além disso, 229 participantes teriam recebido não apenas o texto em questão, mas também uma foto que supostamente retrata a deputada e o criminoso juntos – a imagem é falsa. Desse grupo, 41% das pessoas receberam o arquivo em grupos familiares.
O professor Pablo Ortelado, um dos responsáveis pela pesquisa, diz que uma das hipóteses é a de que, em grupos mais íntimos, as pessoas ficam mais à vontade para divulgar informações sem checar. (Colaborou Heloisa Alves)
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