A audição é um dos sentidos mais importante para a vida humana e a perda auditiva afeta, em vários fatores, a vida de uma criança. Um dos mais prejudicados é o desenvolvimento da fala. Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), aproximadamente 32 milhões de crianças, no mundo todo, têm algum tipo de deficiência auditiva. No Brasil, este número chega a 9,7 milhões em jovens até 19 anos.
Ainda, de acordo com a OMS, 40% dos casos ocorrem devido a problemas genéticos e outros 31% se dão por infecções como sarampo, rubéola e meningite, acendendo a luz vermelha para a importância de estar em dia com o calendário de vacinação.
O médico Henrique César Pereira, de família araçatubense, nascido em Bauru, formou-se em medicina na faculdade de Campos, no Rio de Janeiro, onde também fez uma especialização em otorrinolaringologia, que trata dos ouvidos, nariz e garganta. Fez também uma especialização no Institut Portmann, em Bordeaux (instituição essa do Dr. Michel Portmann, que foi o criador do Centro de Fonoaudiologia na cidade), na França.
Fez, ainda, estágio em implante coclear no Centrinho da FOB-USP, reconhecido como Hospital Universitário de Ensino, pelos Ministérios da Saúde e Educação. Em entrevista, fala um pouco mais sobre o diagnóstico das deficiências auditivas e instrui pais e educadores sobre os primeiros sinais e manifestações desta importante deficiência que afeta grande número de crianças:
Quando os pais devem perceber que seus filhos podem estar tendo dificuldades auditivas?
Quando a criança apresenta qualquer atraso na aquisição da fala (atraso na fala) ou após o início da fala parar de falar; quando não há uma reação a estímulos sonoros de intensidade elevada (não assustam ou não choram quando bate uma porta), a falta de respostas quando é questionada ou se fala com ela. Criança deficiente auditiva não pede quando está com sede ou fome, ela aponta o que deseja, por exemplo.
Como os pais devem lidar com essa situação e qual deve ser a primeira atitude?
Sempre que houver dúvidas sobre problemas de audição, os pais devem levar a criança para uma consulta com um médico otorrinolaringologista e daí fazer os exames para avaliar a situação.
Qual a idade correta para o desenvolvimento da fala?
Até o 3º mês, a criança brinca com a boca com gritos e gorjeios, após isto, no 6º mês, ela fala ou balbucia “papapa” ou “mamama”. Quando ela chega à idade de nove meses, ela já começa a produzir muitos sons, chegando ao primeiro ano, já começa a emissão das primeiras palavras, formando frases com duas palavras a partir do segundo ano de vida.
Existe diferença entre meninos e meninas?
Em relação às meninas falarem antes dos meninos, não há uma comprovação, apesar de alguns estudos tenderem para essa afirmação. Segundo um estudo feito pela Universidade da Pensilvânia (EUA), o cérebro feminino é mais ágil em relação ao processamento analítico e de expressão verbal. Já o masculino se destaca nas habilidades relacionadas à visão e espaço.
Não que elas comecem a falar antes, mas depois que começam, o desenvolvimento delas é diferente. Por exemplo, aos 18 meses, o vocabulário de uma menina tem cerca de 90 palavras e os meninos dessa mesma idade, por outro lado, tem apenas 40 palavras.
O especialista falou mais sobre o teste da orelhinha, que é um dos métodos mais moderno para a triagem precoce de alterações auditivas nos recém-nascidos. Qual a eficácia do teste?
O teste da orelhinha é um teste de triagem auditiva e não de diagnóstico auditivo. Ele é muito eficaz, rápido, não invasivo e totalmente indolor. Porém há situações em que esse teste pode falhar, como nos casos de má formação congênita do recém-nascido, nos casos de fatores condutivos como secreção, líquido amniótico no tímpano, descamação epitelial no conduto auditivo externo.
Qual o profissional indicado para fazer o teste?
Esse teste pode ser realizado por fonoaudiólogos e médicos otorrinolaringologistas.
Mesmo sem o fator favorável da genética, ainda assim pode acontecer a perda? Quais as doenças?
Sim, em cerca de 75% das deficiências auditivas não é possível excluí-la somente olhando para a criança. Além dos antecedentes familiares, as infecções congênitas (toxoplasmose, rubéola, citomegalovírus, herpes, sífilis, HIV, zika vírus). Anomalias craniofaciais envolvendo orelha e osso temporal, síndromes genéticas que usualmente expressam deficiência auditiva, como Waardenburg, Alport, Pendred, entre outras.
O que é a perda da audição por medicamentos ototóxicos? Como se manifesta? É reversível?
Alguns medicamentos são sabidamente ototóxicos e podem levar à deficiência auditiva em uma única dose ou após um tratamento prolongado. A manifestação vem através da perda de audição e/ou aparecimento de zumbido, ou até mesmo com tonturas após a ingestão dos medicamentos. Alguns casos podem ser revertidos com a suspensão imediata do tratamento, mas na maioria das vezes é irreversível.
Pode ser prevenida?
A prevenção é evitar o uso desses medicamentos quando possível.
Quais as diferenças de uma criança com o diagnóstico precoce e uma “normaouvinte”?
A criança bem implantada precocemente (aqui no Brasil só no primeiro ano de vida), apesar de ela ficar com uma privação sensorial, ela pode ter uma evolução muitas vezes até melhor que um normaouvinte (sem deficiência auditiva). Mas, alguma dificuldade ela vai ter, não é uma audição normal. Porém, diante do fato de toda uma dificuldade de um deficiente auditivo, podemos considerar até ótima a evolução.
O implante coclear é indicado em quais casos? Hoje, ele é coberto pelo SUS (Sistema Único de Saúde)?
As indicações de implante são variáveis dependendo do início do problema, da causa dele e da idade da criança, como ela foi abordada e reabilitada. Sim, ele é coberto pelo SUS e pelos planos de saúde regulados pela ANS (Agência Nacional de Saúde).
Existem políticas públicas que sejam eficazes para o diagnóstico e prevenção?
Sim, a lei sobre o teste da orelhinha é de 2010 e praticamente todas as cidades têm um CER (Centro Especializado em Reabilitação), onde é possível fazer o teste, caso ele não tenha sido feito na maternidade. Nos casos de indicação de implante coclear, as Secretarias Municipais de Saúde e as Direções Regionais de Saúde do Estado têm o dever de encaminhar a um centro de implante.
Em nossa região há dois CER auditivos. O governador Márcio França está empenhado para que a nossa região tenha um serviço habilitado de implantes pelo SUS e estamos em tentativas para efetivá-lo com apoio da Secretaria Municipal de Saúde de Araçatuba e o prefeito Dilador Borges.
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