Desde 1997, a araçatubense Erika Tamura desbrava a terra do sol nascente e vive a realidade do primeiro mundo que o Japão exala. Filha dos descendes japonês Noriko e Hiroyuki Tamura, a araçatubense já viveu boas e complexas experiências na terra de seus avôs, como por exemplo, o terremoto de 2011 que assolou o país e fez com que a hoje diretora da ONG SABJA (Serviço de Assistência aos Brasileiros no Japão) sentisse o real impacto de uma catástrofe.
Mãe de dois filhos, que atualmente moram em Araçatuba, Erika também produz crônicas sobre suas experiências para esta Folha e para o paulistano Jornal Nippak, voltado para a comunidade japonesa no Brasil. Quando rumou ao Japão, ela tinha o mesmo objetivo da grande parte dos brasileiros que se aventuram por lá: conseguir emprego e vencer as dificuldades financeiras. Atualmente ela é coordenadora de eventos na referida ONG, onde realiza ações com brasileiros que estão no país. Em entrevista à Folha da Região, Erika contou um pouco de suas vivências, dificuldades e dicas de como ter uma boa experiência ao visitar o Japão.
Mesmo morando há tantos anos no Japão, que situações complicadas você ainda enfrenta?
As diferenças entre Brasil e Japão são várias. Mesmo eu sendo neta de japoneses, eu tive dificuldade com a cultura e o idioma. A comida tenho dificuldade até hoje. Apesar de morar aqui há 20 anos, não consigo me adaptar à comida.
Como funciona a ONG que você trabalha?
Ela surgiu há 20 anos, por iniciativa de uma freira, irmã Mori, brasileira que ajudava os brasileiros no Japão. Com a ajuda da embaixada do Brasil e alguns empresários ela se tornou uma ONG com registro e atuante no Japão todo. O trabalho principal é o serviço de orientação psicológica, onde temos três psicólogos atuando dentro dos consulados brasileiros. Temos também o serviço de orientação médica e orientação jurídica. Fizemos parceria com a associação de advogados de Tokyo, e com o Hoterasu (órgão do governo japonês que oferece orientação jurídica gratuita). Além disso, temos também os serviços de apoio educacional.
E quais suas atribuições dentro da SABJA?
Eu organizo os seminários, palestras, eventos culturais e dou palestras também. Acabei de voltar de Shimane, onde organizei um seminário de dois dias lá. O primeiro dia foi a palestra de um professor japonês de Kanagawa, que dá aula para alunos estrangeiros, e tem experiência no assunto.
Sobre o terremoto que você enfrentou o que você sentiu naquele momento?
A minha vida mudou depois do terremoto de 2011, onde eu fui para as áreas atingidas para levar doação e fazer um trabalho voluntário. Percebi que, mesmo ajudando, era eu a maior beneficiária. Foi uma lição de vida, porque descobri que não tenho problemas. A partir daquele momento, eu perdi o direito de reclamar de qualquer coisa. Mesmo tendo que me mudar da casa onde eu morava (pois com o terremoto ela ficou comprometida), percebi que meus danos eram apenas materiais, meus filhos estavam bem e isso era tudo.
Sobre os brasileiros, quais as maiores dificuldades enfrentadas por eles no Japão?
Sem dúvida, o idioma. A partir dele aparecem todos os outros problemas como subsequência. Dentro da comunidade brasileira hoje, há um grande aumento no número de depressão. Eu não sabia disso e nem imaginava, só fui ter acesso aos números quando fui trabalhar na ONG.
Os brasileiros vêm ao Japão, talvez atraídos pelo salário e também o fato de o Brasil estar numa situação desfavorável contribui para esse êxodo. Tem também o lado da segurança. O Japão é um país muito seguro.
Mas quem acha que vindo para o Japão ficará rico, está muito enganado e aí começam os problemas. As pessoas chegam aqui iludidas, achando que a vida é fácil e de fartura, mas não é bem assim. O custo de vida é alto, o cotidiano é estressante, a carga horária é puxada, mas isso ninguém fala. Aí começa a depressão. Longe da família, dos amigos, do país de origem, sem afeto, precisa-se ter uma boa estrutura para aguentar o tranco. Até hoje, ainda tenho meus momentos de tristeza, e não são poucos. Eu apenas não deixo que esses momentos se proliferem e tomem conta da minha vida.
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