Único texto para teatro escrito por Clarice Lispector, “A Pecadora Queimada e os Anjos Harmoniosos”, foi escrito em 1948. A pequena peça conta com várias camadas, sendo a exterior uma alegoria da nossa sociedade, exibida em um drama de adultério desenhado em linha clássica (as influências de Édipo Rei são facilmente perceptíveis), além dos autos morais do século XV, onde as relações de poder e os comportamentos sexuais (comportamento sexual de uma mulher julgado por três homens e pelo povo) são misturados em uma tragédia de grande profundidade.
A livre adaptação da montagem entrelaça fragmentos da última obra publicada de Clarice, em 1978, após o seu falecimento, “Um Sopro de Vida (Pulsações)”. A opção temática escolhida pelos alunos-atores foi discutir e refletir o papel da mulher na sociedade contemporânea.
A discussão trazida em sala pelos alunos-atores, de caráter social e antropológico, encontrou no texto de Clarice a inquietação e a urgência da montagem. A peça, que nos remete às tragédias gregas e autos medievais, foi ganhando forma num extenso trabalho de compreensão do texto, por meio de leituras e debates.
O diretor e adaptador da peça, Mauro Junior, explica que processo de adaptação se deu na prática, na sala de ensaio. “Nem considero exatamente um processo de adaptação, mas de leitura, interpretação da obra. É a nossa versão para o texto da Clarice. Importante dizer que fazemos a peça na íntegra. Adicionamos fragmentos do “Um Sopro de Vida (Pulsações)”, isso não descaracteriza a peça da Clarice, mas nos proporciona um maior aprofundamento na discussão”, sintetiza o diretor.
Segundo Mauro, o texto de Lispector surgiu de uma proposta dele, para atender um anseio do grupo, já que os “alunos-atores queriam abordar o tema da violência contra a mulher, de maneira social, antropológica, psicológica e até filosófica.”
A sala de aula se transformou, durante 40 dias, em sala de ensaio, onde cada energia era canalizada para a montagem do exercício cênico. Tudo foi feito a partir de uma experiência prática, onde o aluno vivencia o dia a dia de uma sala de ensaio, do processo de montagem e dos modos de produção que determinam a qualidade do espetáculo/produto.
Orientados pelos docentes Mauro Júnior, que executa a direção do exercício, e Heitor Gomes, que executa a assistência de direção, os alunos-atores colocam em prática os conhecimentos adquiridos nos módulos anteriores, e aprendem com o feitio do exercício cênico a materializar conceitos, procedimentos e competências.
A montagem opta por construir uma cena de estética mais simbolista, carregada de lirismo e metáforas. Os registros de interpretação variam entre o grotesco e o realismo, numa materialidade que procura a densidade da tragédia grega e o diálogo direto com o público dos autos medievais.
DESENVOLVIMENTO
Para o ator Júnior Teixeira, que atua na peça, a ansiedade positiva está tomando conta da equipe. “Estamos muito ansiosos para a estreia da peça, é nosso primeiro trabalho aberto ao publico. Alguns integrantes do elenco já trabalham e têm experiências com palcos, mas para a maioria dos alunos é a primeira vez.”
Segundo o ator, todo o grupo está preparado desde o ano passado. “Ter a oportunidade de representar uma obra de uma das autoras mais renomadas é uma extrema honra. O texto é cheio de nuances, tem uma linguagem rebuscada, de princípio foi bem complicado pra turma compreender toda a história e suas metáforas. Mas fizemos um trabalho bem afundo de interpretação, de leitura e pesquisa para que pudéssemos mais do que familiarizar, adentrar à obra”, sintetiza Teixeira.
Todo esse processo criativo, segundo o ator, “deriva de outros módulos já realizados no curso como expressão corporal, expressão vocal, história do teatro, que fizeram para que a construção da peça fosse realizada”. Todas as movimentações, uso da voz, referências e movimentos artísticos, derivam das unidades já aprendidas anteriormente. Teixeira espera “que o público sinta-se tocado de alguma forma e que cause uma reflexão sobre o assunto abordado.”
Datas: 2, 3 e 4 de maio.
Horários: Duas sessões,
às 19h e 20h30.
50 lugares por sessão.
Local: Centro Cultural
Um e Outro
Rua Alexandre Fleming, 48 –
Vila Nova.
Convites: Gratuitos.
Retirar no Setor de
Atendimento do Senac.
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