Editorial publicado na edição deste domingo (01) na Folha da Região
A cidade acordará nesta segunda-feira com o registro de um ano a mais em sua história. Serão 111 anos. Mas que cidade é esta, centenária e ao mesmo tempo jovem? Que cidade é esta que exporta e importa modelos e valores?
É preciso recorrer aos pensadores para compreender a metamorfose das cidades. É do pensador e escritor Vaclav Havel, ex-presidente da República Checa, o raciocínio de que tudo o que acontece inevitavelmente diz respeito a todos. Ele fez essa reflexão a propósito do processo de globalização. Desde a década de 1990, o mundo vive processo tecnológico, social e econômico altamente disruptivo, em velocidade e proporções jamais vistas na história humana. Havel foi um dos primeiros a chamar a atenção para a interdependência entre as nações e as cidades.
Nada do que foi será do jeito que já foi um dia, dizia naquela época canção de Nelson Motta e Lulu Santos que fez grande sucesso. Eram os anos do deslumbramento com a internet e a telefonia celular. Na década seguinte, vieram as redes sociais e, mais recentemente, a comunicação via WhatsApp.
A cidade se transformou no mundo com acesso virtual a tudo. E o planeta, virou uma grande cidade. Os centros de compras são muito parecidos, com suas cores, vitrines e grifes, em Araçatuba e em qualquer parte do mundo. Não há relógio central nos shopping centers, para que não se tenha a ideia do tempo e do espaço. Como toda mudança, a globalização impõe aspectos bons e ruins. É preciso reconhecer e aproveitar as suas vantagens e agir para atenuar as desvantagens das tendências. Mas a globalização não é um problema a ser enfrentado pelos governos de países ricos ou pelas poderosíssimas organizações como o Google. É um desafio do cidadão, aqui e agora. O que essa nova dinâmica tem a ver com o cidadão de Araçatuba e região? Esse é o ponto.
Fica cada vez mais evidenciado, paradoxalmente, que por mais que o processo globalizante se acelere, os valores regionais são cada vez mais essenciais como referência para as pessoas. Nesse contexto, cresce na mesma proporção a importância da atuação comunitária na solução dos problemas. Aumenta a responsabilidade das lideranças locais e regionais. Amplia-se o valor da imprensa local e regional no papel de integração e mediação.
A globalização transformou a face das cidades “numa coisa nunca vista antes”, nas palavras do economista japonês Keinichi Ohame, autor do livro O Fim do Estado Nação. Trata-se, segundo ele, de uma civilização genuinamente transnacional, alimentada pelas mesmas fontes de informação. “Cuidado ao embarcar para não dar de cara com você mesmo no aeroporto, já voltando”. A frase foi mencionada pelos jornalistas alemães Hans-Peter Martin e Harald Schumann no livro escrito a quatro mãos, As Armadilhas da Globalização. Na obra, os autores exaltam a velocidade das transformações na comunicação e do transporte dos dias atuais, consequências de um mundo “que se torna um só”.
Até a metade do século 20, a maioria da população vivia no campo, trabalhando a terra e criando os animais. Não é mero acaso, mas é emblemático, que nos últimos meses aumentou o movimento de passageiros no Aeroporto Dario Guarita, em Araçatuba, bem como em outros terminais regionais do Estado de São Paulo.
A explicação primária é que houve incentivo tributário às empresas aéreas para que criassem mais voos. Isso é real, mas essa é uma explicação superficial, de quem olha apenas os fatos mais recentes. O fato principal é que, num contexto maior, as pessoas passaram a se locomover mais. As constantes viagens, por turismo e negócios, principalmente, é uma mudança de paradigma que veio para ficar. E esse é o mundo global e local, ao mesmo tempo. Seja bem-vinda a ele, Araçatuba!
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