Com a posse do presidente eleito Jair Bolsonaro, o Brasil está diante de um desafio histórico que precisa ser encarado com coragem, principalmente pela classe política. É chegada a hora de se superar o pensamento retrógrado de divisão da sociedade entre ‘nós e eles’. Esta ideia de Brasil para poucos e desmembrado entre elite e proletários – que é autoalimentada pelo ódio e pelo preconceito mútuo – tem que ser rebaixada a apenas uma foto amarelada nos livros da história.
Este país desconexo não corresponde mais ao mundo real. Isso ocorre porque, apesar de todos os avanços da humanidade, o Brasil, que esteve envolto a tantos desmandos e quantas mazelas, esteve hermeticamente fechado em si mesmo. Enquanto o planeta avançava para uma configuração novíssima, a classe política continuou, no nosso país, usando um código de conduta, uma interpretação e uma representação da sociedade que fora estruturado pela longínqua Revolução Industrial.
As tensões de classes e a dicotomia entre capital e direito foram verdades de um passado suplantado pela tecnologia e pela prova histórica de que a livre iniciativa e a propriedade privada são quem promovem o desenvolvimento aos que empreendem. Devemos nos alinhar com os países desenvolvidos e promover um novo contrato social nacional no qual o Estado deixe de ser o pai provedor da nação e “dono” do poder político. É hora de se ter a bravura de consolidar os direitos individuais de cada ser humano. O governo, que até há pouco tempo era fonte de toda palavra e espaço para corrupção deve passar apenas a ter o papel de preservar e de garantir direitos.
Para o bom uso do dinheiro público, devemos ter a grandeza de agenciar a definitiva separação entre negócios públicos e privados. Que o Estado se ocupe com a política, isto é, com as questões da esfera pública, enquanto que a sociedade civil deve se ocupar das atividades particulares, principalmente as econômicas. Nesta área e neste sentido, a vanguarda é o liberalismo, que preceitua, entre outras situações, a liberdade individual, o direito à propriedade privada, o respeito à livre iniciativa e à livre concorrência.
Neste momento de importante transição, é preciso que as lideranças políticas, empresariais e sociais, de forma geral, se dispam das colorações partidárias e abram mão de vieses ideológicos – ainda que minimamente – em favor de algo maior, que é o bem da coletividade. Não estou dizendo aqui que o cidadão não deva ser crítico, pelo contrário, mas que a criticidade seja construtiva, que traga contribuição, que ajude a melhorar, e não seja simplesmente uma forma de oposição sistemática nociva, que deseja o erro alheio para capitalizar o marketing político e a próxima campanha eleitoral.
A narrativa dos acontecimentos da evolução dos povos é, ao mesmo tempo, feita de transformações e estabilidades. Mas, para que tudo isso ocorra de fato, é necessário ter atitude, coragem para romper com o modus operandi de anos, décadas, séculos, e fazer a coisa certa. É hora, portanto, de o Brasil se mexer para voltar aos trilhos da história, para o bem de todos nós.
Flávio Salatino é médico cardiologista e vereador em Araçatuba
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