Um grupo de paleontólo-gos e geólogos brasileiros, argentinos e norte-americanos encontrou em uma fazenda de General Salgado um único pré-molar de 3,5 milímetros da primeira espécie brasileira do mamífero mais antigo do mundo. A espécie é da Era Mesozoica, época em que os dinossauros dominavam o planeta. Esse mamífero foi batizado de Brasilestes stardusti, uma alusão ao Brasil e homenagem ao personagem Ziggy Stardust, do músico britânico David Bowie, morto em 2016. A descrição da nova espécie foi publicada na revista científica Royal Society Open Science na última quarta-feira. O Brasilestes stardusti seria o único mamífero brasileiro que, sabe-se até o momento, conviveu com os dinossauros.
Apesar de pequeno, com um comprimento equivalente ao de um gambá atual (estimado em cerca de 50 centímetros), o Brasilestes stardusti teria sido um dos maiores mamíferos da sua época, quando os representantes do grupo geralmente não ultrapassavam os 15 centímetros.
Em entrevista à Folha da Região, a pesquisadora Mariela Castro, da Universidade Federal de Goiás, disse que a descoberta coloca a região de General Salgado em projeção mundial, pois o achado é realmente importante. “Em primeiro lugar, porque mamíferos mesozoicos são raros. Em segundo lugar, foi a primeira datação precisa para rochas do Grupo Bauru, uma formação geológica extensa e muito conhecida pelos seus fósseis de vertebrados mesozóicos”.
Mariela explicou que as condições ambientais da região durante a Era Mesozoica eram propícias para a fossilização, processo que transforma os restos orgânicos, como ossos e dentes, em fósseis. Segundo ela, estima-se que o depósito do fóssil se deu em um ambiente fluvial sob condições semiáridas, há cerca de 85 milhões de anos.
A área onde o pré-molar foi encontrado é de criação de gado, toda coberta por pasto, de acordo com a pesquisadora. Ela contou que o local foi encontrado quando os pesquisadores percorriam as estradas de terra da região a procura de afloramentos, onde as rochas, mesozoicas no caso, vêm à superfície. Segundo Mariela, esses pontos são fáceis de avistar, porque as rochas são bem vermelhas.
Apesar de divulgado esta semana, o encontro do dente ocorreu em 2015. “Nessa oportunidade, estivemos dois dias trabalhando no lugar, no fim de 2015. Em 2016, fomos novamente ao mesmo lugar para coletar as rochas que foram enviadas para datação nos Estados Unidos”, contou a pesquisadora.
De acordo com Júlio Marsola, pesquisador da FFCLRP (Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto) da USP (Universidade de São Paulo) de Ribeirão Preto, o afloramento onde o Brasilestes foi encontrado tinha dezenas de fragmentos de cascas de ovos de crocodilos. “Ao me debruçar em uma parte do afloramento para ver o que possivelmente tinha de cascas de ovos, deparei-me com o dentinho. Se permanecesse mais alguns dias exposto, a chuva o levaria embora. Quando percebi algo como a base das duas raízes do dente (as raízes em si estão quebradas), achei que fosse um mamífero. Depois de analisar em laboratório, tivemos a certeza de que se tratava de um mamífero”, contou. Além da FFCLRP e da Universidade Federal de Goiás, participaram da descoberta pesquisadores da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), do Museu de La Plata, na Argentina, e do MIT (Massachusetts Institute of Technology), dos Estados Unidos.
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